O Programa Nacional de Segurança do Paciente tem o objetivo de contribuir para a qualificação do cuidado em todos estabelecimentos de saúde. O assunto tem adquirido grande importância para os pacientes, famílias, gestores e profissionais de saúde, e tem a finalidade de oferecer uma assistência mais segura. Os incidentes associados ao cuidado e, em particular, os eventos adversos (e sua prevenção através do cateter enteral em pediatria), representam uma elevada morbidade e mortalidade nos sistemas de saúde¹.

Apesar dos avanços e recomendações na literatura internacional, é fundamental sintetizar as evidências disponíveis das questões que problematizam a segurança do paciente na enfermagem pediátrica para transferência do conhecimento científico produzido para a prática assistencial. A incorporação de boas práticas favorece a efetividade dos cuidados de enfermagem e o seu gerenciamento de modo seguro, contribuindo para a identificação de riscos e divulgação das práticas baseadas em evidências².

Para tanto, os processos assistenciais que permeiam os cuidados daqueles que fazem uso de dispositivos, especialmente os mais invasivos, devem estar centrados na redução de danos, garantindo a segurança do paciente.

O uso do cateter enteral visa o fornecimento de nutrientes a pacientes que estão impossibilitados de receberem alimentação pela via oral ou possuem uma ingestão oral insuficiente. Estima-se que anualmente nos Estados Unidos e Reino Unido, um milhão de SE sejam introduzidas em pacientes adultos e pediátricos. Os artigos descrevem que as complicações relacionadas ao procedimento de inserção de SE alcançam 4% e a incidência de mortes pode chegar a 1/100.000³, segundo a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA, em inglês).

Algumas complicações podem surgir advindas da técnica de inserção e manejo do cateter enteral. São estas: obstrução da sonda, aspiração pulmonar, deslocamento ou remoção acidental da sonda, diarreia, distensão abdominal, náuseas e vômitos, constipação intestinal, e outras metabólicas, como: desidratação, hipopotassemia, hiperpotassemia, hipernatremia, hipofosfatemia e hipercapnia.

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Na prática profissional, observa-se frequentemente que os pacientes pediátricos, durante o processo de hospitalização, são submetidos à sondagem jejunal justificada pelo risco de desnutrição de acordo com o aumento da taxa metabólica basal. Quanto mais nova é a criança, maior é o seu ritmo de crescimento, assim como a sua dependência para se alimentar. Esses aspectos tornam o lactente mais vulnerável aos agravos ou distúrbios nutricionais, principalmente se somados às alterações emocionais e infecciosas⁴.

A indicação do uso do cateter enteral em pediatria irá depender das seguintes condições: presença ou risco de desnutrição, jejum prolongado, anomalias congênitas, obstrução parcial, funcional ou mecânica do trato digestório alto, traumatismo, sepse, neoplasias, queimaduras de grande porte, comprometimento neurológico e/ou alta probabilidade de bronco-aspiração, coma, traumatismo crânio-encefálico, dificuldade ou incapacidade de sucção e deglutição, refluxo gastroesofágico, insuficiência respiratória e ventilação pulmonar mecânica⁵.

Ainda, quando a criança está em uso de cateter enteral, fica suscetível à perda dele, seja por tração mecânica ao tentar tirar o dispositivo que incomoda, fixação inadequada, obstrução ou por outras causas. Quando isso ocorre, principalmente em crianças que fazem uso da sonda jejunal, o tempo de espera para receber suporte nutricional é maior devido à necessidade da confirmação da localização da sonda na região pós-pilórica por meio da radiografia, aumentando também o estresse da criança pela necessidade de novo procedimento e o risco de desnutrição.

Para prevenir tais complicações, é necessária a realização de novos protocolos, metas assistenciais e planos de ação, como, por exemplo, a elaboração de planilhas com metas, que devem ser preenchidas diariamente – contendo os objetivos referentes ao cuidado e a segurança do paciente. Dessa forma, o profissional atua diretamente na melhoria da qualidade da assistência em saúde.

Autor: Barbara Ragasse Pereira Gomes. Enfermeira graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Especialista em Enfermagem Pediátrica pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira/Fiocruz.

REFERÊNCIAS:

Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde. Assistência Segura: Uma Reflexão Teórica Aplicada à Prática. 1ª edição – 2013.
Oliveira RM, Leitão IMTA, Silva LMS, Figueiredo SV, Sampaio RL, Gondim MM. Strategies for promoting patient safety: from the identification of the risks to the evidence-based practices. Esc Anna Nery. 2014 [cited 2016 Jul 28];18(1):122-9.
Beckstrand J, Cirgin Ellet ML, Mcdaniel A. Predicting internal dostance to the stomach for positioning nasogastric and orogastric feeding tubes in children. J Adv Nues. 2007; 59(3):274-89.
Péret-Filho LA. Terapia nutricional nas doenças do aparelho digestivo na infância e adolescência. 3ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2013.
Prieto MB, Cid JL. Malnutrition in the critically ill child: the importance of enteral nutrition. Int J Environ Res Public Health [on line]. 2011; [acesso em 2014 set 12]; 8(11): [aproximadamente 13 p.]. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC3228575/

*As informações deste artigo são de responsabilidade do autor, que faz parte do Grupo de Pesquisa e Extensão em Segurança e Sustentabilidade em Saúde da Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ.

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