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Processo de Enfermagem: o que é, etapas e como aplicar

A evolução da enfermagem, enquanto ciência e profissão, retrata a busca por modelos referenciais teóricos que orientem a prática profissional, dando visibilidade ao saber e ao fazer da profissão. Assim, o desenvolvimento do Processo de Enfermagem (PE), entendido como um modelo para a sistematização da prática profissional, permite organizar as condições necessárias à realização do cuidado, bem como registrar sua evolução. Isso evidencia a preocupação da enfermagem em prestar um cuidado qualificado, pautado em princípios científicos.

O termo Processo de Enfermagem foi introduzido na década de 1950, nos Estados Unidos da América, referindo-se a um processo que, por meio do método científico, combina os mais desejáveis elementos da arte da enfermagem com os mais relevantes elementos de sistemas teóricos. Englobava uma abordagem interpessoal e o método de solução de problemas para a tomada de decisão em enfermagem.

Aos poucos, com sua aplicação na prática, suas etapas foram adensadas e refinadas, de forma a subsidiar o cuidado individualizado com maior qualidade e segurança. Esse movimento foi acompanhado pela enfermagem brasileira cerca de duas décadas depois, com as reflexões teóricas e práticas de Wanda de Aguiar Horta, publicadas ao longo da década de 1970.

Com vistas a isso, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução 358/2009, dispôs sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem. Este deve ser realizado de modo sistemático e deliberado em todos os ambientes públicos ou privados nos quais ocorra o cuidado de enfermagem.

Em janeiro de 2024, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicou a Resolução 736/24, que determina a implementação do Processo de Enfermagem (PE) em todo o contexto socioambiental no qual ocorram cuidados prestados por enfermeiros, técnicos e auxiliares. A normativa atualiza a Resolução 358/2009, adequando-se às novas perspectivas da profissão e delimitando seu escopo de aplicação na prática.

Entre as mudanças, a resolução estabelece uma diferenciação conceitual entre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e o Processo de Enfermagem. Adicionalmente, o documento modifica as fases de organização do PE, que agora compreendem a avaliação, o diagnóstico, o planejamento, a implementação e a evolução.

Além das alterações mencionadas, a norma delineia as responsabilidades da equipe de enfermagem e promove mudanças em aspectos relacionados à documentação, gestão da assistência, ensino e formação contínua.

Como funciona o Processo de Enfermagem?

O Processo de Enfermagem organiza-se em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes, recorrentes e cíclicas, descritas a seguir:

  1. Avaliação de Enfermagem
    – compreende a coleta de dados subjetivos (entrevista) e objetivos (exame físico) iniciais e contínuos, pertinentes à saúde da pessoa, da família, da coletividade e de grupos especiais. Essa coleta é realizada mediante auxílio de técnicas laboratoriais e de imagem, testes clínicos, escalas de avaliação validadas, protocolos institucionais e outros instrumentos, com o objetivo de obter informações sobre as necessidades do cuidado de enfermagem e de saúde relevantes para a prática.
  2. Diagnóstico de Enfermagem
    – compreende a identificação de problemas existentes, condições de vulnerabilidade ou disposições para melhorar comportamentos de saúde. Estes representam o julgamento clínico das informações obtidas sobre as necessidades do cuidado de enfermagem e de saúde da pessoa, da família, da coletividade ou de grupos especiais.
  3. Planejamento de Enfermagem
    – compreende o desenvolvimento de um plano assistencial direcionado à pessoa, à família, à coletividade e a grupos especiais, compartilhado com os sujeitos do cuidado e com a equipe de enfermagem e de saúde. Esse planejamento deve envolver:
    1. Priorização de Diagnósticos de Enfermagem;
    2. Determinação de resultados (quantitativos e/ou qualitativos) esperados e exequíveis de enfermagem e de saúde;
    3. Tomada de decisão terapêutica, declarada pela prescrição de enfermagem das intervenções, ações/atividades e protocolos assistenciais.
  4. Implementação de Enfermagem
    – compreende a realização das intervenções, ações e atividades previstas no planejamento assistencial pela equipe de enfermagem, respeitando as resoluções e pareceres do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Enfermagem quanto à competência técnica de cada profissional. A implementação ocorre por meio da colaboração e comunicação contínua, inclusive com a checagem quanto à execução da prescrição de enfermagem, e se apoia nos seguintes padrões:
    1. Padrões de cuidados de Enfermagem
      : cuidados autônomos do enfermeiro, ou seja, prescritos por ele de forma independente e realizados pelo enfermeiro, técnico de enfermagem ou auxiliar de enfermagem, observadas as competências técnicas de cada profissional e os preceitos legais da profissão;
    2. Padrões de cuidados interprofissionais
      : cuidados colaborativos com as demais profissões de saúde;
    3. Padrões de cuidados em Programas de Saúde
      : cuidados advindos de protocolos assistenciais, tais como prescrição de medicamentos padronizados em programas de saúde pública e em rotinas aprovadas pela instituição, bem como a solicitação de exames de rotina e complementares.
  5. Evolução de Enfermagem
    – compreende a avaliação dos resultados alcançados em enfermagem e saúde da pessoa, da família, da coletividade e de grupos especiais. Essa etapa permite a análise e a revisão de todo o Processo de Enfermagem.

É importante ressaltar que a Consulta de Enfermagem deve ser organizada e registrada conforme as etapas do Processo de Enfermagem e deve ser ofertada em todos os níveis de cuidado possíveis, principalmente no âmbito ambulatorial.

Reconhecer que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e o PE são marcos da profissão é fundamental para a institucionalização dos serviços de saúde, tornando-se ferramentas essenciais para gerenciar o cuidado por meio do planejamento, execução, controle e avaliação das ações realizadas no cuidado direto e indireto ao paciente.

Diante disso, apesar das dificuldades enfrentadas no dia a dia pelos profissionais de enfermagem, que muitas vezes trabalham sobrecarregados, com escalas exaustivas e pouco tempo para colocar em prática a assistência aprendida, a SAE e o PE precisam ser prioridades e devem ser incentivados por supervisores e coordenadores. A prática da assistência sistematizada depende do comprometimento de cada profissional, fazendo valer a ciência que existe no ato de cuidar.