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Comunicação Interatrial (CIA): tipos, fisiopatologia, diagnóstico e manejo

A comunicação interatrial (CIA) é menos comum que a CIV, representando cerca de 10% das cardiopatias congênitas. Se caracteriza por qualquer abertura no septo que separa as cavidades atriais.  

O defeito do septo atrial é uma das anomalias cardíacas congênitas mais comuns reconhecida em adultos, mas raramente é diagnosticada ou se manifesta na infância. Os defeitos do septo atrial apresentam uma grande variabilidade de apresentação devido aos diferentes mecanismos de falha do desenvolvimento embrionário. 

Há estudos que mencionam a possível contribuição de alguns fatores para o desenvolvimento do quadro:  

  • Fatores genéticos
    : mutações em genes como GATA4 e TBX5 estão implicadas na formação de CIA. 
  • Síndromes genéticas
    : síndromes como a síndrome de Holt-Oram, que envolve mutações no gene TBX5, estão associadas à CIA. 
  • Fatores ambientais
    : tal como na CIV, fatores ambientais como infecções maternas e condições como diabetes gestacional podem influenciar o desenvolvimento de CIA. 

Tipos de comunicação interatrial
 

A comunicação interatrial pode ser classificada em vários tipos, dependendo de sua localização anatômica no septo interatrial e associação a outras anomalias cardíacas. 

CIA do Tipo Ostium Secundum
 

Localiza-se no centro do septo interatrial, na fossa oval, é o tipo mais comum, representando cerca de 70% dos casos de CIA. Frequentemente isolada, mas pode estar associada a outras anomalias cardíacas, como válvula mitral com prolapso ou insuficiência. 

CIA do Tipo Ostium Primum
 

Localiza-se na porção inferior do septo interatrial, próxima às válvulas atrioventriculares. Representa aproximadamente 15-20% dos casos de CIA. Pode estar associada a defeitos no canal atrioventricular e à síndrome de Down e coexistir com anomalias das válvulas mitral e tricúspide. 

CIA do Tipo Seio Venoso
 

Localiza-se na junção do septo interatrial com a veia cava superior ou inferior. É relativamente rara, representando cerca de 5-10% dos casos. Costuma estar associada a retorno venoso pulmonar anômalo parcial, no qual as veias pulmonares drenam para o átrio direito. 

CIA do Tipo Seio Coronário
 

Localizada na parte inferior do septo interatrial, onde o seio coronário desemboca no átrio direito. É muito rara, com menos de 1% dos casos. Pode estar associada a anomalias do seio coronário, como a ausência do teto do seio. 

A CIA resulta em um shunt (desvio) de sangue da esquerda para a direita, devido à maior pressão no átrio esquerdo comparada ao direito. Isso leva a um aumento do fluxo sanguíneo para os pulmões, sobrecarregando o lado direito do coração e as artérias pulmonares. A magnitude do shunt depende do tamanho da CIA e da complacência relativa dos ventrículos direito e esquerdo. 

Com o tempo, esse shunt pode resultar em dilatação das câmaras direitas do coração, disfunção ventricular direita e aumento da resistência vascular pulmonar. Em casos avançados, a hipertensão pulmonar pode se desenvolver, potencialmente levando à inversão do shunt (da direita para a esquerda), uma condição conhecida como síndrome de Eisenmenger, que resulta em cianose e insuficiência cardíaca. 

Diagnóstico da comunicação interatrial
 

O diagnóstico da CIA pode ser feito em qualquer estágio da vida, embora a maioria dos casos seja detectada na infância ou na idade adulta jovem. 

Exame físico
 

O achado clínico mais comum é um sopro sistólico ejetivo no segundo espaço intercostal esquerdo, devido ao aumento do fluxo através da válvula pulmonar. Pode ser audível o desdobramento fixo da segunda bulha cardíaca (B2), que não varia com a respiração. 

Eletrocardiograma (ECG)
 

Pode mostrar desvios do eixo para a direita e sinais de hipertrofia do ventrículo direito e do átrio direito. O bloqueio de ramo direito é frequentemente observado, especialmente em CIA do tipo ostium secundum. 

Radiografia de Tórax
 

Pode evidenciar cardiomegalia e aumento das artérias pulmonares, sugerindo aumento do fluxo sanguíneo pulmonar. 

Ecocardiograma em suas diversas disponibilidades
 

O ecocardiograma transtorácico (ETT) é o exame de escolha para o diagnóstico inicial, pois fornece imagens detalhadas da anatomia do septo interatrial, o tamanho do shunt e a função das câmaras cardíacas.  

O ecocardiograma transesofágico (ETE), por ser um exame invasivo e que requer sedação, é reservado para quando o ETT não fornece imagens adequadas, especialmente em adultos ou em casos de CIA complexa.  

O ecocardiograma com doppler ajuda a avaliar o fluxo sanguíneo através da CIA e a estimar a pressão nas artérias pulmonares. 

Ressonância Magnética Cardíaca (RMC)
 

Pode ser usada para quantificar o shunt e avaliar a anatomia cardíaca e pulmonar em detalhes, especialmente em casos complexos ou antes da cirurgia. Em crianças pequenas também requer sedação e por isso necessita de indicação precisa avaliando riscos e benefícios.  

Cateterismo cardíaco
 

Realizado em casos selecionados para medir diretamente a pressão pulmonar, a resistência vascular e o shunt, especialmente quando há suspeita de hipertensão pulmonar significativa. 

Manejo da comunicação interatrial
 

O manejo da CIA depende do tipo, do tamanho do defeito, dos sintomas do paciente e do impacto hemodinâmico. As opções incluem observação, fechamento percutâneo ou cirurgia.  

O prognóstico das CIA varia. É mais provável que o fechamento espontâneo ocorra em pacientes com CIAs secundum pequenos que são diagnosticados durante a infância.  

Defeitos secundários de tamanho moderado e grande, tipos de  CIAs que não sejam ostium secundum e aqueles que são detectados mais tarde na infância ou na adolescência provavelmente não fecharão espontaneamente, e alguns podem aumentar de tamanho com o tempo. 

Pequenas CIAs (menos de 5 mm) sem sobrecarga significativa do lado direito podem ser acompanhadas clinicamente, especialmente se o paciente for assintomático. Revisões periódicas com ecocardiogramas são recomendadas para monitorar possíveis alterações na anatomia cardíaca ou na função.  

Fechamento percutâneo
 

É indicado para CIAs do tipo ostium secundum maiores (geralmente > 10 mm) com evidência de sobrecarga do lado direito ou sintomas. É realizado com  dispositivos de oclusão. Nesse procedimento eles são inseridos através de cateterismo e posicionados para fechar o defeito. Esta técnica é menos invasiva que a cirurgia aberta e tem alta taxa de sucesso e baixo risco de complicações. A recuperação é geralmente rápida, com alta hospitalar em 24 a 48 horas. 

Cirurgia cardíaca
 

É indicada para CIAs do tipo ostium primum, seio venoso e seio coronário, ou para CIAs ostium secundim que não são adequadas para fechamento percutâneo. A correção cirúrgica envolve a sutura direta do defeito ou o uso de um patch (retalho) para fechar a abertura. A cirurgia é eficaz e geralmente realizada sem complicações significativas, mas envolve uma recuperação mais longa e os riscos associados à cirurgia cardíaca aberta. 

Complicações e prognóstico
 

O prognóstico após o fechamento de uma CIA é geralmente excelente, com a maioria dos pacientes levando uma vida normal sem limitações. No entanto, podem ocorrer complicações, sendo as principais:  

  • Arritmias:
    podem persistir ou surgir após o fechamento da CIA, especialmente em adultos que já apresentavam dilatação atrial significativa ou fibrilação atrial. 
  • Hipertensão pulmonar residual:
    pode persistir em pacientes com hipertensão pulmonar severa antes do fechamento do defeito. 
  • Falha do dispositivo:
    em casos raros, o dispositivo de oclusão percutâneo pode se deslocar, necessitando de cirurgia corretiva. 

Conclusão
 

A comunicação interatrial é uma condição cardíaca congênita comum, com implicações clínicas variáveis dependendo do tipo e tamanho do defeito. O diagnóstico precoce e o manejo apropriado são fundamentais para prevenir complicações a longo prazo, como hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca.  

Com os avanços na tecnologia de diagnóstico por imagem e nas técnicas de intervenção, a maioria dos pacientes com CIA pode esperar um excelente prognóstico após o tratamento. 

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