Enfermagem na Central de Material e Esterilização (CME): principais rotinas

O Centro de Material Esterilizado (CME) é um ambiente institucional onde ocorre o processamento necessário e altamente especializado de produtos para a saúde. Algumas de suas funções incluem adquirir, receber, limpar, descontaminar, embalar, esterilizar e fornecer produtos reutilizáveis, processados e seguros nos procedimentos clínicos executados em unidades consumidoras, como enfermarias, centros de terapia intensiva, ambulatórios e centros cirúrgicos. Esses procedimentos exigem equipes qualificadas e bem treinadas e equipamentos especializados.
A equipe de enfermagem desempenha um papel fundamental na garantia da segurança e eficácia dos processos realizados na CME, assegurando que os materiais estejam devidamente preparados e livres de contaminação para uso em diversas áreas de assistência à saúde.
As atividades de enfermagem realizadas na CME, que envolvem a padronização de normas, rotinas técnicas e validação do processamento de instrumentos e materiais, são exemplos de assistência indireta ao paciente. Essas práticas, alinhadas aos conceitos de controle de infecção hospitalar, desempenham um papel fundamental na prevenção de infecções, na redução de custos e na garantia da segurança assistencial.
Processo de esterilização: etapas e cuidados
O Centro de Material e Esterilização (CME) é o setor que abastece todas as unidades hospitalares com materiais desinfetados e esterilizados, com uso de técnicas que preparam o material para ser utilizado dentro das unidades de saúde. O trabalho desenvolvido nesse setor é muito importante para a assistência e fundamental para garantir a contenção de infecções relacionadas à assistência à saúde.
O fluxo desse setor é unidirecional, de modo que tanto os materiais quanto os profissionais que estão numa área limpa evitem cruzar para áreas contaminadas, e vice-versa. É necessário ter à disposição dois ambientes, denominados “sala suja” e “sala limpa”, onde, respectivamente, será realizada a limpeza do material e, depois, ocorrerá o preparo de material, local de desinfecção, área de esterilização, armazenamento e divisão dos materiais já esterilizados.
Os materiais sujos são coletados, expostos a agentes para limpeza, depois seguem para o enxágue e secagem. Nessa etapa, há uma barreira física, onde é realizada uma inspeção visual dos materiais para averiguar a eficácia da limpeza realizada. Logo após, o material é preparado e embalado para esterilização, guardado e distribuído conforme a necessidade das unidades consumidoras.
Limpeza, desinfecção, esterilização e embalagem
A limpeza de um instrumental cirúrgico deve ser rigorosa, sendo uma das etapas mais importantes do processo de esterilização. Nessa etapa, deve ser removida toda a sujidade, pois as cargas microbianas formam barreiras e protegem os microrganismos, impedindo que os agentes esterilizantes penetrem nos artigos, tornando as etapas subsequentes ineficientes e comprometendo a esterilização.
Deve-se realizar uma pré-limpeza do material e enviá-lo ao CME, onde este deve ser imerso em água potável morna, com detergente, mantendo a solução em contato com o instrumental por, no mínimo, três minutos, ou conforme a orientação do fabricante. Após, deve-se friccionar a superfície externa de cada instrumental com uma esponja e escova, até a eliminação da sujidade visível. Após a lavagem, realizar o enxágue externo do instrumental com água potável sob pressão.
Após a limpeza, os artigos devem ser secos rigorosamente com pano limpo e sem fiapos, de cor branca, para visualizar possíveis sujidades. Também pode ser utilizado ar comprimido, em tubos, lúmens de difícil acesso e, ainda, uso de álcool, éter e benzina.
Outra etapa importante é a inspeção do material, pois, se este não estiver efetivamente limpo, deve-se repetir o processo de lavagem. Além disso, os artigos que não estiverem íntegros e funcionais devem ser substituídos por outros e enviados para manutenção.
Nos critérios de higienização, é importante estar ciente de que, na atuação, é importante realizar a lavagem correta das mãos, fazer o uso de EPI, higienizar corretamente a bancada com álcool 70% no início do plantão e sempre que identificar necessidade, colocar o artigo que irá ser manuseado na bancada ou mesa.
Após essas etapas, é necessário avaliar a precisão da secagem e limpeza dos artigos que possuem canulações, articulações, reentrâncias e cremalheiras, atentando-se sempre que existem artigos que necessitam ser desmontados para possibilitar a higienização.
Com a conclusão da limpeza, é necessário analisar o resultado do procedimento com inspeções visuais para tentar identificar focos remanescentes de camadas de biofilme, possíveis manchas, marcas e sinais de corrosão que podem ser resultantes de oxidação.
A boa esterilização garante um ambiente mais seguro e evita contaminações, pois é nesta etapa que os microrganismos presentes nos materiais são eliminados. Como dito, para que isso aconteça, é fundamental que a limpeza tenha sido realizada de forma eficaz.
A escolha do método de esterilização depende do tipo de material e do método mais apropriado para garantir a esterilização. Os métodos mais comuns incluem:
- Vapor Saturado sob Pressão (Autoclave):Utiliza calor úmido para eliminar microrganismos, incluindo esporos, sendo indicado para materiais termorresistentes.
- Calor Seco:Utilizado para materiais que não podem ser expostos ao calor úmido, como instrumentos de ferro niquelado ou materiais impermeáveis.
- Óxido de Etileno:Utilizado para materiais termossensíveis, como eletrônicos e plásticos.
- Radiação:Utilizada para esterilizar materiais em larga escala, como embalagens de medicamentos e alimentos.
- Peróxido de Hidrogênio (Plasma):Método que utiliza peróxido de hidrogênio em estado de plasma para esterilizar materiais termossensíveis.
A técnica correta para a embalagem do material tem grande importância, pois deve contemplar a organização das bandejas e manutenção do produto, que será manuseado e transportado até o uso. Além disso, deve ser fácil de abrir, fornecer identificação quanto ao nome do produto, data e quem embalou, permitindo assim a utilização segura.
O armazenamento é a etapa final do processo. No entanto, são necessários alguns cuidados para evitar a recontaminação. A área de armazenagem obedece às seguintes recomendações: não deve ser um ambiente em que circulem muitas pessoas, a temperatura ideal é entre 18º e 22º C, e a distância entre as prateleiras deve ser de 5 cm das paredes, 25 cm do piso e 45 cm do teto.
Rotinas e protocolos da CME
Cabe ao enfermeiro responsável do setor a elaboração do Protocolo Padrão de Operações (POP) para garantir a execução padronizada e correta do processamento de insumos e substâncias, bem como apresentar e utilizar indicadores que permitam realizar o controle de qualidade do serviço de processamento dos materiais esterilizados, sendo eles de produção própria ou de materiais terceirizados.
Quando se refere aos produtos terceirizados, é necessária uma análise criteriosa da qualidade e validade dos materiais fornecidos pelas empresas prestadoras do serviço. Além disso, é de responsabilidade do profissional organizador garantir que a equipe utilize corretamente todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) em todos os momentos do trabalho.
Dentro das atribuições do enfermeiro no CME está a separação do material, de acordo com o que rege a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 15). Função de grande importância quando se avalia que a divisão dos grupos dos artigos hospitalares incide sobre a praticidade e a funcionalidade dos serviços, além de garantir segurança para quem manuseia os insumos, tendo em vista que os critérios de divisão dos grupos são: críticos, semicríticos e não críticos.
São considerados críticos todo material ou utensílio que penetra nos tecidos corporais e que, justamente por isso, necessita obrigatoriamente de submissão ao processo de esterilização (instrumentos cirúrgicos, materiais de uso contínuo em atendimento). Os semicríticos são instrumentos que incidirão contato em mucosas e necessitam passar por processos de desinfecção de níveis rigorosos, e os não críticos são os que entram em contato com a pele e passam por baixos níveis de desinfecção ou higienização, como, por exemplo, o oxímetro.
Avaliação de qualidade e controle
Para assegurar que o material esteja estéril, deve-se considerar as condições desse material, ou seja, considerar a qualidade, a integridade da embalagem, o selamento, as condições de armazenamento e os eventos ocorridos, tais como: queda no chão, manuseio e as condições do transporte.
Para o controle do processo e validação da esterilização, ou seja, verificação da eficácia dos parâmetros do equipamento e da esterilização, dispõe-se de indicadores que podem ser físicos, químicos e biológicos. Por meio desses indicadores, é possível perceber falhas na instalação elétrica e hidráulica dos equipamentos. Ainda, é preciso criar protocolos e impressos próprios, a fim de que tudo fique documentado.
As responsabilidades atribuídas aos enfermeiros na central de material e esterilização incluem gerenciamento de recursos materiais, planejamento, administração do setor, execução de atividades técnico-assistenciais, gestão de recursos humanos e educação permanente. É crucial contar com enfermeiros capacitados para garantir a qualidade dos serviços e liderar suas equipes. Apesar de alguns profissionais enfrentarem inseguranças em relação a essa área, é fundamental abordar esses sentimentos, buscando compreendê-los e atribuindo significado às experiências vivenciadas.