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Lesões dermatológicas no recém-nascido: como diferenciar afecções patológicas e fisiológicas?

A pele do recém-nascido (RN) desempenha um papel fundamental na transição do ser humano desde o meio aquático intra-uterino até o meio aéreo extra-uterino. Ao nascimento, a pele já se encontra dividida nas três camadas (epiderme, derme e tecido celular subcutâneo). As principais diferenças da pele do RN em relação à do adulto residem na derme, que é menos espessa, possui fibras de colágeno de menor tamanho, fibras elásticas imaturas e estruturas vasculares e nervosas desorganizadas.

Há muitas peculiaridades anatômicas e funcionais da pele do recém-nascido saudável que são consideradas normais durante este período de vida. É necessário reconhecê-las e  diferenciá-las daquelas indicadoras de risco.  

Alterações fisiológicas

Mancha mongólica

Ocorre sobretudo em RN de raça negra e corresponde a agregados de melanócitos na derme, que se manifestam como máculas ou manchas azul acinzentadas geralmente localizadas nas nádegas ou na região sacral. Quando se situam em outras localizações são denominadas de manchas mongólicas ectópicas.

A patogênese é desconhecida embora pareça residir num defeito na migração das células pigmentadas da crista neural. Nos RN de raça negra é comum uma hiperpigmentação epidérmica transitória dos órgãos genitais externos, do abdômen inferior (linha nigra), das axilas, das aréolas mamárias, do perioníquio e da face dorsal da terceira falange, resultante da ação do hormônio estimulador dos melanócitos intra-uterinos.

É importante fazer o diagnóstico diferencial desta alteração cutânea benigna com a hiperpigmentação resultante da hiperplasia adrenal congênita, mas nesta última estão presentes outros sinais de hiperandrogenismo.

As manchas geralmente desaparecem nos primeiros anos de vida, como resultado do escurecimento da pele sobrejacente. Se persistirem, podem ser tratadas com laser, se desejado. A degeneração maligna não ocorre. A aparência característica e o início congênito as distinguem dos hematomas de abuso infantil. Raramente as manchas mongólicas estão associadas às síndromes de erros inatos associados ao metabolismo lipídico, como doença de Niemann-Pick, mucolipidose e manosidose. 

Eritema tóxico do RN

O eritema tóxico do RN ocorre em aproximadamente 50% dos casos, sem preponderância de sexo ou etnia. Parece relacionar-se com o peso ao nascimento e a idade gestacional, sendo raro em prematuros e neonatos com menos de 2500g.

A etiologia é desconhecida, mas há autores que consideram que corresponde a uma reação enxerto-versus-hospedeiro contra linfócitos maternos. As lesões típicas consistem em pápulas ou pústulas rodeadas de áreas inflamatórias eritematosas de contornos irregulares, semelhantes a picadas de inseto.

Normalmente as lesões iniciam-se na face, expandindo-se depois para o tronco e extremidades — mas podem aparecer em qualquer área corporal com exceção das palmas e plantas. A eosinofilia periférica pode estar presente em 15% dos casos, independentemente da gravidade das lesões.

O diagnóstico baseia-se nas características clínicas das lesões e no bom estado geral do RN. O curso é breve (3 a 7 dias), e as lesões geralmente desaparecem sem pigmentação. Não é necessário nenhum tratamento. 

Milia

Uma das alterações fisiológicas mais frequentes dos RN. Manifestam-se como pápulas brancas puntiformes únicas ou múltiplas que aparecem em qualquer localização na superfície corporal, mas com mais frequência na face (zonas malares, nariz e mento).

Têm origem em rolhões de queratina de etiologia desconhecida ao nível do infundíbulo pilossebáceo. O diagnóstico diferencial mais importante é com a hiperplasia sebácea, mas esta tem uma coloração mais amarelada.

A maioria desaparece sem necessidade de tratamento, nos primeiros meses de vida. Quando persistentes, podem estar associados a casos de epidermólise bolhosa distrófica, juncional ou ao síndroma orofacial-digital tipo I. 

Alterações patológicas
 

Dermatite seborréica

 É um problema frequente nas primeiras semanas de vida. Apresenta-se com erupção eritematosa coberta por escamas amarelo-acinzentadas. Acredita-se que é devida à colonização por malassezia spp., e sua melhora após o tratamento com azoles sugere que a fermentação tem papel na etiologia desta dermatose.

Acredita-se que a fisiopatologia esteja relacionada a alterações hormonais maternas, que resultam em um aumento na produção sebácea, além de fatores nutricionais, como a deficiência de biotina. Afeta couro cabeludo (crosta láctea), rosto, sobrancelhas, regiões retroauriculares, nariz, pré-esterno e pregas axilares e inguinais.

Na área da fralda costuma começar como intertrigo; posteriormente, o processo avança além das pregas inguinais. Não é pruriginosa. As lesões podem macerar-se e apresentar infecção bacteriana ou candidiásica. O tratamento é baseado em tratamento tópico com creme salicilado a 2% ou xampu com cetoconazol. Na pele, o tratamento é com cremes com azois.  

Impetigo neonatal

As lesões são pústulas e bolhas flácidas que aparecem principalmente ao redor do umbigo, área da fralda e dobras do pescoço e axila. Ocorre nas primeiras 2 semanas de vida, usualmente assintomáticas. O foco de infecção localiza-se distante (conjuntivite, onfalite) de onde se libera a exotoxina, que atua à distância produzindo descolamento da capa granulosa da epiderme por efeito direto sobre os desmossomas (toxina esfoliativa).

O tratamento é à base de medidas gerais, como limpeza diária com água e sabão, antibióticos tópicos (mupirocina, ácido fusídico ou clioquinol 1-2% ). Em formas extensas, recomenda-se tratamento sistêmico, preferencialmente com cefalexina 50mg/kg/dia. 

Ictiose

É uma doença dermatológica congênita ou adquirida, rara, caracterizada por defeitos de queratinização. É classificada e diferenciada por questões de ordem clínica, histopatológica e genética. A forma lamelar é uma das mais comuns desordens de ictiose autossômica herdada recessivamente, tendo incidência de 1:300000 recém-nascidos na população geral e 1:4 em uma mesma família, com igual distribuição entre os gêneros.

O estrato granuloso está engrossado devido a defeito no processo da profilagrina, com alteração do fator umectante natural. Várias são as formas de ictiose, e o diagnóstico preciso nem sempre é fácil. Hoje em dia são utilizadas técnicas de microscopia eletrônica e análise gênica para o diagnóstico definitivo.

O tratamento é com retinoides orais, que são indicados em algumas formas como na eritrodermia ictiosiforme congênita. Apesar dos efeitos colaterais, estas drogas aumentam de sobremaneira a sobrevida destes pacientes. Ceratolíticos e emolientes-umectantes são a base do tratamento, como, por exemplo: uréia, acido salicílico, ácido láctico e allfa-hidroxiácidos.  

Candidíase

É uma infecção fúngica que pode se apresentar tanto em região de fraldas quanto em outras áreas intertriginosas.   

A dermatite de fralda por cândida é um problema frequente em bebês e crianças, e, embora relativamente benigna, muitas vezes é frustrante devido à sua tendência de recorrência. Os bebês predispostos geralmente carregam C. albicans em seu trato gastro-intestinal, e a pele quente, úmida e ocluída da área da fralda proporciona um ambiente ideal para seu crescimento.

Uma dermatite de contato seborreica, atópica ou dermatite de contato irritante primária geralmente fornece porta de entrada para a levedura. O diagnóstico diferencial da dermatite de fralda por cândida inclui outras erupções na área da fralda que podem coexistir com a infecção por cândida.

O diagnóstico é clinico e também pode ser feito por meio de preparação de KOH ou cultura. O tratamento consiste em aplicações de um creme de azóis 2 vezes por dia. A combinação de um corticosteroide e um agente antifúngico pode ser justificada se a inflamação for grave, mas pode confundir a situação se o diagnóstico não estiver firmemente estabelecido.

O corticosteroide não deve ser deve ser continuado por mais de alguns dias. Proteção da área da fralda com uma aplicação de pasta espessa de óxido de zinco sobre a preparação anticandidal pode ser útil. A pasta é removida mais facilmente com óleo mineral do que com água e sabão. Quando as recorrências são frequentes, pode ser útil prescrever de terapia oral para diminuir a população de leveduras no trato gastrointestinal.  

A candidíase intertriginosa ocorre com mais frequência na axila e na virilha, no pescoço, sob as mamas, sob as dobras de gordura abdominal, no umbigo e na fenda glútea. As lesões típicas são áreas grandes e confluentes de pele úmida, desnudada e eritematosa com borda irregular, macerada e escamosa.

As lesões satélites são características e consistem em pequenas vesículas ou pústulas em uma base eritematosa. Com o tempo, as lesões de candidíase intertriginosas podem se tornar placas liquenificadas, secas e escamosas. As lesões se desenvolvem na pele sujeita a irritação e maceração. O tratamento com cremes azóis 2 vezes ao dia é o indicado.  

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