Molusco contagioso em crianças: diagnóstico diferencial e tratamento
O molusco contagioso (MC) é uma infeção viral muito comum em pediatria, com uma prevalência estimada de 5,1% a 11,5% em crianças dos 0 aos 14 anos. É uma doença benigna, auto-limitada, cutânea, sem manifestações sistêmicas, de ocorrência mundial.
Mais comum nas crianças, mas também pode acometer adultos e adolescentes sexualmente ativos e indivíduos imunocomprometidos. O tempo de incubação do vírus varia de duas a seis semanas e a transmissão ocorre por contato direto com a pele infectada ou por autoinoculação. Ocasionalmente a transmissão pode ocorrer por meio de fômites, como toalhas e esponjas de banho, ou em piscinas de uso coletivo.
Diagnóstico
As lesões características são pápulas peroladas, arredondadas, firmes de 2 a 5 mm, em forma de cúpula, cor de pele ou rosadas, com superfície brilhante e algumas vezes centro umbilicado. Podem ser únicas, múltiplas ou agrupadas e, ocasionalmente, podem ter halo eritematoso ou serem pediculadas. Prurido pode estar presente, mas frequentemente são assintomáticas. As lesões são autolimitadas e têm duração variável, na maioria dos casos duram um período de 6 a 9 meses, e raramente persistem por 3 a 4 anos.
O diagnóstico é clínico, apoiado por dermatoscopia, mostra uma pápula, que pode ser umbilicada, com estruturas amorfas lobulares de coloração branca a amarela, com padrão vascular em coroa, radial ou puntiforme. Em situação de dúvida diagnóstica, pode ser feito um estudo histológico que mostra inclusões citoplasmáticas arredondadas na epiderme, que deslocam o núcleo para a periferia, conhecidas como inclusões de Henderson-Patterson.
Nos adolescentes, as lesões são mais frequentemente localizadas na região inferior do abdome, coxas, órgãos genitais e área perianal (maioria dos casos transmitidos por contato sexual). É importante salientar que em crianças as lesões genitais são auto inoculadas e não indicam abuso sexual, a menos que haja outras características suspeitas.
Fotografia clínica. Pápula de cor da pele. B. Dermatoscopia. Estruturas polilobuladas branco-amareladas na área central.
Diagnóstico diferencial
Verrugas vulgar
São lesões papulares da cor da pele. Apesar de presentes em qualquer área do corpo, são mais encontradas em quirodáctilos, cotovelos e joelhos. Também podem estar localizadas próximas às unhas, chamadas de verrugas periungueais e causam algum desconforto e maior dificuldade de tratamento
Dermatite atópica
Sobretudo na fase de resolução da doença, pode haver descamação e eritema da pele ao redor da lesão, o que pode gerar um diagnóstico equivocado de dermatite atópica, sobretudo quando há prurido associado. É importante lembrar que a dermatite atópica está relacionada a casos mais intensos de molusco contagioso.
Dermatite por molusco
Placas eritematosas mal demarcadas que se transformam numa pápula cor da pele, clássica do molusco contagioso (pontas de seta).
Outras possibilidades incluem doenças de etiologias inflamatória, infecciosa e neoplásica, por exemplo: verrugas planas, condiloma acuminado, granuloma piogênico, tumores anexiais e histiocitose de células de Langerhans. Em pacientes imunossuprimidos, o diagnóstico diferencial inclui principalmente histoplasmose e criptococose.
Tratamento
As lesões geralmente se resolvem espontaneamente, mas anos podem passar até que a extinção completa da infecção ocorra. Para crianças imunocompetentes com molusco contagioso, o tratamento é opcional.
Em geral, adolescentes e adultos com lesão em área genital devem ser tratados para evitar a disseminação sexual da doença. O tratamento também é indicado para indivíduos imunocomprometidos, nos quais as infecções podem se tornar graves e persistentes. É consenso indicar tratamento nos pacientes com doença extensa, complicações secundárias (infecção bacteriana, dermatite perimolusco e conjuntivite) ou queixas estéticas.
As vantagens em tratar as lesões de molusco contagioso incluem a diminuição do tempo de resolução, redução do risco de autoinoculação e de transmissão, redução do estresse psicológico dos pais e pacientes, prevenção de cicatrizes que podem resultar de lesões anteriormente inflamadas, traumatizadas ou secundariamente infectadas. Além disso, o tratamento de crianças diminui a disseminação do vírus para outras crianças e isso é importante considerando o convívio em creches e ambientes de recreação coletiva.
Medidas gerais
Devem ser recomendadas aos pacientes e familiares para evitar a disseminação do VMC. Recomenda-se não coçar as lesões, não compartilhar utensílios de banho, piscina ou banheira até resolução do quadro.
Curetagem
um método eficaz que consiste na remoção mecânica das lesões de MC. Pode ser realizada com uma cureta ou com punch (material utilizado para a realização de biópsias). A resolução é imediata, por isso é o método de escolha para o tratamento do MC. Após a curetagem, o iodopovidona tópico pode ser aplicado pois existem relatos de que este antisséptico potencializa o efeito de outros tratamentos. A curetagem pode causar dor, sangramento e cicatrizes.
Crioterapia
Utiliza nitrogênio líquido aplicado com cotonete ou por um pulverizador portátil (menos indicado pelo risco de deixar cicatriz). São realizados um ou dois ciclos de 10 a 20 segundos, semanalmente. É um procedimento bem tolerado em adolescentes e adultos; entretanto, a dor pode limitar seu uso em crianças. As desvantagens da crioterapia incluem a possibilidade de bolhas, cicatrizes e hipo ou hiperpigmentação pós-inflamatória.
Hidróxido de potássio (KOH)
É um composto alcalino que dissolve a queratina. É indicado em concentrações e esquemas terapêuticos que variam de 5% (aplicado pelos pais dos pacientes) a 20% (aplicado pelo profissional médico), duas vezes ao dia ou em dias alternados durante 1 semana ou até que a inflamação se desenvolva. A aplicação de KOH pode causar sensações de ardor ou queimação, efeito adverso diretamente proporcional à concentração de KOH utilizada na aplicação. Também pode ocorrer eritema intenso e crostas nas lesões, além de hipocromia pós-inflamatória.
Cidofovir
Pacientes imunossuprimidos com doença extensa ou refratária podem ser tratados com cidofovir. Pode ser utilizado na concentração de 1% a 3% por via tópica ou por via intravenosa, entretanto pode ser nefrotóxico. Irritação local e erosões cutâneas dolorosas podem ocorrer após a aplicação tópica.
Podofilotoxina
Podofilotoxina é um agente antimitótico utilizado a 0,5% em solução ou gel, mas as suas segurança e eficácia no tratamento do MC não foram estabelecidas, principalmente em lactentes. As aplicações podem causar eritema local, queimação, prurido, inflamação e erosões.
Imiquimod
É um agonista do agente imunoestimulador do receptor toll-like 7 que ativa as respostas de imunidade inata e adquirida, induzindo a produção local de citocinas pró-inflamatórias. Tem mostrado boa resposta no tratamento de MC refratário grave em pacientes imunocomprometidos, no entanto, estudos randomizados em pacientes imunocompetentes não demonstraram benefício significativo desta terapia. Deve ser aplicado à noite e retirado pela manhã, durante três dias na semana. Pode produzir efeitos como dor, eritema, prurido, bolhas, cicatrizes e alterações pigmentares no local da aplicação.
Gostou desse conteúdo e quer seguir se atualizando? No
PROPED (Programa de Atualização em Terapêutica Pediátrica)
, você recebe uma seleção de conteúdos indicados pela SBP que não podem ficar de fora da sua rotina.
Conheça mais
!