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Recovery em atletas: recursos fisioterapêuticos com base científica

O processo de recuperação é um pilar fundamental no treinamento esportivo, influenciando diretamente a performance e contribuindo para a prevenção de lesões nos atletas. Quando bem planejada, ela permite a restauração fisiológica e psicológica, otimizando adaptações positivas ao estímulo do exercício. Sem períodos adequados de recuperação, o corpo não consegue reparar tecidos danificados, repor estoques energéticos e reequilibrar sistemas hormonais e neuromusculares, aumentando o risco de lesões e queda no rendimento. O processo de recuperação envolve estratégias como nutrição adequada, hidratação, sono de qualidade, técnicas de relaxamento e métodos ativos (como exercícios de baixa intensidade).

Além disso, a periodização do treino, com ciclos de carga e descarga, é essencial para evitar o acúmulo de fadiga crônica. Estudos mostram que atletas que priorizam a recuperação apresentam menor incidência de lesões musculares e articulares, além de melhorias na força, resistência e capacidade cognitiva. Eventos que acompanham o treinamento e que são alvos da equipe de preparo do atleta são a fadiga e o overtraining. A fadiga é uma resposta fisiológica normal após sessões intensas de treino ou competição, caracterizada por redução temporária da capacidade física. Essa condição é reversível com repouso e recuperação adequada, sendo parte do processo de supercompensação que leva a ganhos de performance. Já a condição de “overtraining” é um estado patológico resultante do desequilíbrio crônico entre estímulos de treino e recuperação.

Diferente da fadiga aguda, o overtraining provoca alterações prolongadas no sistema endócrino, imunológico e nervoso, com sintomas como queda persistente no desempenho, irritabilidade, distúrbios do sono e maior susceptibilidade a infecções. Sua reversão exige semanas ou meses de repouso, destacando a importância da prevenção através do monitoramento de carga de treino e marcadores biológicos. 

Métodos fisioterapêuticos com base científica

O recovery pós-treino ou competição tornou-se etapa do processo de recuperação para diversas modalidades e diferentes níveis de treinamentos. Diversas técnicas são empregadas para acelerar a recuperação muscular e reduzir a fadiga. Abaixo, destacam-se algumas técnicas:

  • Crioterapia:
    Utiliza o frio (como imersão em água gelada ou câmaras criogênicas) para reduzir inflamação, edema e dor muscular. A vasoconstrição promovida pelo frio diminui o metabolismo local, auxiliando na recuperação tecidual.
  • Compressão Pneumática:
    Dispositivos infláveis aplicam pressão intermitente nos membros, melhorando a circulação sanguínea e linfática, o que facilita a remoção de metabólitos e reduz o tempo de recovery. 
  • Liberação Miofascial:
    Técnicas como
    foam rolling
    ou instrumentais (como Graston) atuam sobre a fáscia muscular, melhorando a flexibilidade e reduzindo tensões. Estudos sugerem benefícios na amplitude de movimento e redução da dor tardia. 
  • Massagem Terapêutica:
    Promove relaxamento muscular, aumenta o fluxo sanguíneo e auxilia na eliminação de toxinas. Pode ser adaptada para focar em grupos musculares específicos sobrecarregados durante o exercício. 
  • Eletroterapia:
    Recursos como TENS (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea) ou Eletroestimulação funcional são usados para alívio da dor e estímulo da contração muscular passiva, favorecendo a recuperação. 
  • Fotobiomodulação (Terapia a Laser de Baixa Intensidade - LLLT):
    Utiliza luz vermelha ou infravermelha para modular processos celulares, reduzindo inflamação e acelerando a reparação tecidual. É especialmente útil em lesões musculares e tendinopatias.  

Além das intervenções físicas, a qualidade do sono e a ingestão adequada de proteínas, carboidratos e antioxidantes (como vitamina C e ômega-3) são fundamentais para a síntese proteica e o reequilíbrio metabólico. Essas técnicas, combinadas ou isoladas, devem ser adaptadas às necessidades individuais do atleta, sempre baseadas em evidências científicas.

Intervenções modernas e tecnologias aplicadas

Técnicas emergentes têm ganhado destaque na ciência do esporte, oferecendo métodos inovadores para acelerar a recuperação muscular e reduzir a fadiga, como:

  • Terapia de Câmara Hiperbárica:
    Utiliza oxigênio puro em pressões elevadas para aumentar a oxigenação tecidual, reduzir inflamação e acelerar a cicatrização. Estudos indicam que sessões de câmara hiperbárica podem melhorar a recuperação muscular após exercícios intensos, embora seu custo e acesso ainda sejam limitantes. 
  • Termoterapia de Contraste:
    Alternância entre aplicação de calor e frio promove vasodilatação e vasoconstrição, facilitando a remoção de metabólitos inflamatórios e reduzindo dores musculares. Essa técnica é amplamente utilizada em atletas de alto rendimento por sua simplicidade e eficácia. 
  • Realidade Virtual (VR):
    Além de seu uso em reabilitação, a VR tem sido explorada para recovery mental, com técnicas de imersão que reduzem o estresse e a percepção de fadiga. A terapia com ambientes virtuais relaxantes pode acelerar a recuperação psicológica em atletas sob alto estresse competitivo. 
  • Biofeedback:
    Monitoramento em tempo real de parâmetros fisiológicos (como frequência cardíaca e tensão muscular) ajuda atletas a ajustar técnicas de relaxamento e respiração, otimizando a recuperação autônoma e reduzindo o tempo de recuperação. 

Quando e como aplicar cada recurso

A frequência e a intensidade do recovery devem ser cuidadosamente planejadas para equilibrar a carga de treino e otimizar os resultados, considerando as demandas específicas de cada modalidade esportiva. A frequência de recuperação varia conforme o período de treinamento (pré-temporada, competitivo ou transição) e a carga imposta ao atleta. Em esportes de alto rendimento, como futebol ou atletismo, estratégias de recovery diário (crioterapia, massagem e sono adequado, por exemplo) são essenciais para minimizar a fadiga acumulada. Já em modalidades com competições semanais (ex.: basquete), a recuperação ativa pós-jogo e dias de descanso relativo são comuns. A intensidade deve ser ajustada conforme a demanda energética e o tipo de estresse imposto. Métodos passivos (repouso, imersão em água fria) são indicados após sessões exaustivas, enquanto técnicas ativas (exercícios de baixa intensidade, mobilidade) aceleram a remoção de metabólitos em esportes intermitentes (ex.: rugby). A periodização do recovery (variações de intensidade ao longo da temporada) é importante para evitar sub ou super-recuperação. O processo de individualização do recovery precisa seguir o tipo de modalidade esportiva uma vez que cada esporte exige estratégias específicas sendo diferentes para esportes de endurance (maratonistas, ciclistas), :esportes de força/potência (halterofilismo) esportes coletivos (futebol, vôlei). A individualização deve considerar fatores como idade, sexo, nível de condicionamento e histórico de lesões. Monitorar marcadores como frequência cardíaca de repouso, percepção subjetiva de esforço (PSE) e níveis de lactato auxilia na prescrição precisa do recovery. 

Recovery ativo x passivo

Para o processo de recuperação (recovery), existem duas possibilidades amplamente apresentadas na literatura, o recovery ativo e o passivo. O recovery passivo consiste em repouso completo ou atividades de baixíssima intensidade, como dormir ou permanecer em repouso. Essa modalidade é eficaz para reduzir a fadiga central e permitir a recuperação natural dos sistemas energéticos, sendo especialmente útil em casos de lesões ou sobrecarga extrema. No entanto, pode não acelerar a remoção de metabólitos, como lactato, tão eficientemente quanto métodos ativos. Já o recovery ativo envolve exercícios leves a moderados (e.g., ciclismo ou caminhada) realizados após o esforço principal. Essa abordagem promove maior fluxo sanguíneo, facilitando a eliminação de subprodutos metabólicos e reduzindo a dor muscular tardia. Além disso, pode melhorar a flexibilidade e a adaptação neuromuscular. Estudos indicam que o recovery ativo é mais eficiente em modalidades de alta intensidade ou endurance, onde a circulação ativa acelera a recuperação. A escolha entre as estratégias depende de fatores como tipo de exercício, nível do atleta e objetivos específicos. Enquanto o recovery passivo é mais indicado para recuperação de longa duração, o ativo é preferível em situações que demandam rápida restauração fisiológica. 

Conclusão

O fisioterapeuta desempenha um papel importante no esporte, atuando tanto na otimização da performance quanto na aceleração do recovery pós-treinamento e competição. Na prevenção de lesões, utiliza avaliações biomecânicas e prescrição de exercícios corretivos para equilibrar déficits musculares e articulares. Durante a preparação física, integra técnicas para melhorar a eficiência do movimento e restauração da função neuromuscular.