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Redes sociais e saúde mental: impacto e como trabalhar na prática clínica?

O avanço da tecnologia e da internet nas últimas décadas trouxe grandes transformações no cotidiano da população mundial. Seja no trabalho, nas compras, na comunicação, o desenvolvimento das tecnologias impactou diretamente essas esferas no mundo todo. Em fevereiro de 2025 foi divulgado o
Digital 2025 – Global Overview Report,
com dados referentes ao comportamento da população global no meio digital. Este relatório é produzido anualmente pela empresa
Meltwater
em parceria com a
We Are Social
, com o intuito de analisar o comportamento de usuários na internet e nas mídias sociais como estratégia de marketing. No entanto, as informações são relevantes para diversas áreas. De acordo com esses dados, em 1991, quando foi criado o primeiro
website
, havia 4.28 milhões de pessoas no mundo usando a internet. Já em 2025, este número subiu para 5.56 bilhões (DataReportal, 2025). Outro dado relevante apresentado é o tempo médio diário de uso de internet por pessoas acima de 16 anos, em que o Brasil ocupa o 2º lugar no ranking, com uma média de 09 horas e 09 minutos por dia, perdendo apenas para a África do Sul – com média diária de 09 horas e 37 minutos (DataReportal, 2025). Esses dados mostram de forma ainda mais clara o quanto a internet e as tecnologias têm sido partes essenciais do cotidiano. 

Junto a esse desenvolvimento, as redes sociais ganharam grande espaço, sendo utilizadas para diversos fins. Mitropoulou, Karagianni & Thomadakis (2022) descrevem as redes sociais como comunidades que conectam pessoas a partir de interesses em comum, além de facilitar a interação com amigos e familiares e a conexão com novas pessoas. Atualmente, o número de usuários identificados de redes sociais no mundo é de 5.24 bilhões, e os brasileiros com 16 anos ou mais passam, em média, 03 horas e 32 minutos por dia usando redes sociais – ocupando o 5º lugar no ranking mundial (DataReportal, 2025). É válido levar em conta esses dados para analisarmos como isso impacta a saúde mental da população.  

Diversas pesquisas têm sido realizadas em relação aos impactos psicológicos negativos do uso das redes sociais, principalmente em relação à sintomas de depressão e ansiedade, transtornos alimentares, autoestima e imagem corporal. Diante disso, é essencial que o profissional da Psicologia conheça essa realidade, porque desempenha um papel fundamental para auxiliar no manejo dessas questões.  

Mitropoulou, Karagianni & Thomadakis (2022), em sua pesquisa, encontraram resultados de que a exposição prolongada às redes sociais está associada a um impacto psicológico negativo. Keyte et al. (2020) realizaram um estudo específico sobre o
Instagram
e encontraram que o uso prolongado de redes sociais está associado a níveis mais altos de depressão, ansiedade e estresse. Além disso, destacaram que esta rede social, especificamente, pode amplificar os sentimentos negativos, por expor os usuários a imagens idealizadas que podem gerar comparações sociais prejudiciais. Essa exposição constante a conteúdos idealizados, também é apontada por Burnell, Fox, Maheux e Prinstein (2024) como fator de risco para a comparação social ascendente, o que pode gerar um aumento da insatisfação corporal, autoestima negativa e sintomas depressivos. 

O uso passivo das redes, ou seja, “ficar rolando o
feed
” sem interações, também se associa a piores resultados de bem-estar e maior probabilidade de comparação social, principalmente para pessoas que apresentam baixa auto-estima, conforme descrito por Burnell, Fox, Maheux e Prinstein (2024). Os autores também apontam como fatores que podem impactar negativamente a saúde mental, a busca por aprovação, sendo que a ausência ou a demora nos
likes
pode afetar o bem-estar, a autoestima e o senso de pertencimento, gerando vulnerabilidade emocional. 

Fatores de gênero também parecem relevantes nos impactos negativos das redes sociais. Mosayna, Uram e Kocur (2024) encontraram que as mulheres demonstram maior vulnerabilidade ao impacto negativo das redes sociais, apresentando maior dependência e, ao mesmo tempo, níveis mais baixos de autoestima, autocompaixão e imagem corporal em comparação aos homens. 

Burnell, Fox, Maheux e Prinstein (2024) demonstram que os conteúdos que mais geram mal-estar são aqueles que promovem imagens idealizadas, com padrões de beleza irreais, a partir de corpos magros e atléticos e imagens altamente editadas. Além disso, também são apontados pelos autores os conteúdos comparativos, que podem evocar sentimentos de inveja e inferioridade e o foco na aparência, que pode aumentar a auto-objetificação. Esses conteúdos são especialmente prejudiciais para pessoas com transtornos alimentares, baixo autoestima e grupos marginalizados. 

Diante disso, pensando em todos esses impactos e nos dados referentes à frequência de uso de internet e redes sociais no cotidiano, é válido refletirmos sobre formas de minimizar esses danos e de que modo fazer isso na prática clínica. Keyte et al. (2020) defendem que o foco das intervenções não deve ser apenas na redução do uso das redes sociais, mas em estratégias para minimizar comparações sociais e aumentar a autocompaixão. Mosayna, Uram e Kocur (2024) também defendem intervenções que promovam a autocompaixão para ajudar a reduzir os efeitos negativos das redes sociais na autoestima e na imagem corporal. 

Burnell, Fox, Maheux e Prinstein (2024) propõem um modelo de atuação clínica baseado em três frentes: Avaliação, Psicoeducação e Desenvolvimento de Habilidades. O primeiro se refere a investigar a frequência, tipo e propósito do uso das redes sociais, bem como as reações emocionais aos conteúdos. Também é importante compreender se há fatores de risco como baixa autoestima ou insatisfação corporal, por exemplo. Já a Psicoeducação proposta pelos autores, refere-se a ensinar sobre os mecanismos das redes, como os algoritmos e os filtros, além de trabalhar a “alfabetização midiática”, ligada a compreensão da forma como o conteúdo é manipulado e comercializado nas redes sociais. Mosayna, Uram e Kocur (2024) também reforçam a necessidade de maior conscientização sobre os impactos psicológicos das redes sociais, especialmente para mulheres e jovens. Burnell, Fox, Maheux e Prinstein (2024) também apontam a importância de abordar o uso passivo e ativo das redes sociais, fomentando um uso mais intencional e voltado para a conexão com as pessoas. Por fim, o Desenvolvimento de Habilidades proposto por eles inclui a reestruturação cognitiva, a autocompaixão – aprender a cultivar a gentiliza consigo mesmo diante de comparações ou falhas –, o mindfulness – ou atenção plena – para perceber os efeitos emocionais do uso em tempo real. Além disso, os autores também destacam a importância de incentivar que as pessoas sigam perfis que promovam o bem-estar, e reduzir a visibilidade dos feedbacks, escondendo as curtidas, por exemplo. 

Diante das questões abordadas, fica evidente a necessidade de estratégias específicas para o enfrentamento dos efeitos negativos na saúde mental causado pelo uso das redes sociais. Não é necessário extinguir o uso, mas sim promover uma reformulação dos modos de usar, visando transformá-las em ferramentas mais saudáveis (Burnell, Fox, Maheux e Prinstein, 2024). É essencial que os profissionais da Psicologia estejam atentos às demandas sociais que têm surgido para oferecer o devido suporte clínico. 

Como citar este artigo: Motta, H. A., Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (Jun., 2025). Redes sociais e saúde mental: impacto e como trabalhar na prática clínica?. Blog da Artmed 

Autoras

  • Hayanna Alves Motta
      

Psicóloga graduada pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Especialista em Saúde pela Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário da UFGD, Mestranda em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atua como psicóloga clínica na abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental. 

  • Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo
     

Psicóloga e Mestra em Psicologia (área de concentração Cognição Humana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutoranda em Psicologia em Saúde e Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), com bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e com Formação em Terapia do Esquema. Pesquisadora e Supervisora no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (LaPICC) da Universidade de São Paulo (USP). Membro associada à Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). 

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    Editora-chefe: Carmem Beatriz Neufeld.
     

Psicóloga. Livre docente em TCC pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora e Mestra em Psicologia pela PUCRS. Fundadora e Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente-fundadora da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023). Bolsista Produtividade do CNPq.