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Técnicas de higiene brônquica: o que são e quando utilizar

A higiene brônquica é um conjunto de técnicas terapêuticas destinadas a auxiliar na remoção de secreções das vias aéreas, melhorando a função respiratória e prevenindo complicações em pacientes com doenças pulmonares crônicas ou agudas. Essa prática é essencial para indivíduos com condições como bronquite crônica, fibrose cística, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e pneumonias, nos quais o acúmulo de secreção pode levar a infecções e piora da capacidade ventilatória. A higiene brônquica engloba métodos físicos e mecânicos que visam facilitar a mobilização e eliminação de secreções brônquicas. Entre as principais técnicas estão: 

  1. Tosse Dirigida:
    Ensina o paciente a tossir de forma controlada para expelir secreções. 
  2. Drenagem Postural:
    Utiliza a gravidade para auxiliar na drenagem de muco em posições específicas. 
  3. Exercícios de Expiração Forçada (
    Huffing
    ):
    Promove a eliminação de muco sem causar colapso das vias aéreas. 
  4. Dispositivos de Pressão Expiratória Positiva (PEP):
    Como o flutter, que auxilia na vibração e deslocamento das secreções. 

Pacientes com doenças respiratórias crônicas frequentemente apresentam disfunção no
clearance
mucociliar, levando ao acúmulo de secreções e maior risco de infecções. A higiene brônquica é crucial porque: 

  • Reduz Infecções:
    A estagnação de muco favorece o crescimento bacteriano, aumentando o risco de pneumonias e exacerbações. 
  • Melhora a Troca Gasosa:
    A remoção de secreções otimiza a ventilação e a oxigenação. 
  • Diminui a Dispneia:
    A obstrução brônquica reduz o fluxo aéreo, causando falta de ar. 
  • Previne Atelectasias:
    O acúmulo de muco pode levar ao colapso alveolar. 

Os objetivos principais da técnica estão relacionados a facilitação na eliminação de secreções promovendo uma expectoração eficaz; melhora na função pulmonar com a restauração da capacidade ventilatória. Esses fatores previnem complicações coimo infecções e hospitalizações recorrentes além de contribuir na redução dos sintomas como tosse e fadiga respiratória melhorando a qualidade de vida do paciente.

Técnicas de higiene brônquica

A higiene brônquica é um conjunto de técnicas terapêuticas utilizadas para auxiliar na remoção de secreções das vias aéreas, melhorando a função pulmonar e prevenindo complicações em pacientes com doenças respiratórias crônicas ou agudas. Com o avanço da fisioterapia respiratória, algumas técnicas tradicionais, como a tapotagem e a vibrocompressão, foram substituídas por métodos mais eficazes e baseados em evidências. Abaixo, são descritas as principais técnicas atualmente recomendadas: 

  • Técnica de Expiração Forçada (TEF) ou
    "Huff"
    :
    Consiste em uma expiração ativa e controlada, realizada com a glote aberta, seguida de um período de respiração diafragmática. Essa técnica ajuda a mobilizar secreções das vias aéreas mais periféricas para as centrais, facilitando sua eliminação por meio da tosse. O paciente inspira profundamente e, em seguida, expira de forma rápida e forçada, emitindo um som semelhante a "huff". Pode ser realizada em diferentes volumes pulmonares (alto e baixo) para atingir diferentes níveis da árvore brônquica. Indicado para pacientes com bronquiectasia, DPOC, fibrose cística e outras condições com acúmulo de secreções. 
  • Ciclo Ativo da Respiração:
    Combina três fases: respiração diafragmática, exercícios de expansão torácica e a técnica de expiração forçada (TEF). Essa abordagem promove a mobilização e a eliminação de secreções de forma mais eficiente. A primeira parte que envolve a respiração diafragmática lenta é realizada para relaxar e melhorar a ventilação. Em seguida são realizadas inspirações profundas seguidas de pausas inspiratórias para aumentar o fluxo de ar em áreas colapsadas e posteriormente a expiração forçada para deslocar e eliminar secreções. Indicado para pacientes com produção excessiva de secreções, como na fibrose cística e DPOC. 
  • Pressão Expiratória Positiva (PEP – Positive Expiratory Pressure):
    Utiliza um dispositivo que gera resistência durante a expiração, mantendo as vias aéreas abertas e facilitando a mobilização de secreções. O paciente respira através de um dispositivo PEP (como um resistor de fluxo ou máscara) com uma pressão entre 10 e 20 cmH₂O, realizando expirações ativas e lentas. Isso ajuda a prevenir o colapso das vias aéreas e a movimentar secreções. Indicado para pacientes com atelectasias, bronquiectasias e fibrose cística. 
  • Oscilação Oral de Alta Frequência (OPEP – Oscillating Positive Expiratory Pressure):
    É uma variação da PEP que adiciona vibrações durante a expiração, facilitando o deslocamento de secreções. O paciente assopra em um dispositivo (como o Flutter® ou Acapella®), que gera oscilações de pressão e vibrações nas vias aéreas, soltando as secreções aderidas. Indicado para pacientes com doenças pulmonares crônicas e hipersecreção brônquica. 

No estudo intitulado
“Comparison of 6 Oscillatory Positive Expiratory Pressure Devices During Active Expiratory Flow”
(2020), tinha como objetivo comparar seis dispositivos de Pressão Expiratória Positiva Oscilatória (OPEP) em relação à pressão gerada, resistência expiratória e frequência de oscilação durante um fluxo expiratório ativo, simulando condições de uso clínico. Foram testados os seguintes dispositivos OPEP:  Acapella® (verde e azul), Aerobika®, Flutter®, Lung Flute®, Pari O-PEP® e RC-Cornet®. Os dispositivos foram avaliados em um sistema de fluxo experimental, medindo: Pressão expiratória positiva (PEP), Resistência ao fluxo aéreo e Frequência de oscilação. Foram simulados fluxos expiratórios de 10, 20 e 30 L/min, representando diferentes esforços respiratórios. Os principais resultados foram os seguintes: todos os dispositivos geraram PEP, mas com variações significativas; Aerobika® e RC-Cornet® produziram as maiores pressões (até ~15 cmH₂O em fluxos mais altos) enquanto o Lung Flute® gerou as menores pressões. Quanto a resistência expiratória, Acapella® (verde) e Aerobika® apresentaram maior resistência, exigindo mais esforço do paciente enquanto o Pari O-PEP® e Lung Flute® tiveram menor resistência, sendo mais fáceis de usar em fluxos baixos. Os dispositivos Flutter® e RC-Cornet® produziram as maiores oscilações (~15-25 Hz), potencialmente mais eficazes para mobilizar secreções enquanto o Lung Flute® gerou oscilações em frequências mais baixas (~10 Hz). A PEP e a frequência de oscilação aumentaram com fluxos mais altos (30 L/min) e dispositivos como Aerobika® e RC-Cornet® foram mais sensíveis a mudanças no fluxo. Os autores concluíram que nenhum dispositivo foi superior em todos os aspectos, mas cada um tem características distintas que podem ser selecionadas conforme a necessidade do paciente. Dispositivos com maior resistência (Aerobika®, Acapella® verde) podem ser mais eficazes para pacientes com maior capacidade expiratória. Dispositivos de baixa resistência (Pari O-PEP®, Lung Flute®) são mais adequados para pacientes com fraqueza muscular ou fluxos expiratórios reduzidos. Flutter® e RC-Cornet® destacaram-se por gerar altas frequências de oscilação, o que pode melhorar a desobstrução brônquica. Para a aplicação clínica, a escolha do dispositivo OPEP deve considerar a capacidade respiratória do paciente (fluxo expiratório e força muscular), o objetivo terapêutico (maior PEP vs. maior vibração) e a tolerância e preferência do paciente. 

Outra forma de higiene brônquica é a aspiração de vias aéreas. Trata-se de uma técnica invasiva utilizada para remover secreções acumuladas em pacientes com incapacidade de eliminar secreções por meio da tosse ou técnicas de higiene brônquica não invasivas. É comumente aplicada em pacientes críticos, traqueostomizados, intubados ou com disfunção neuromuscular grave. 

A indicação da aspiração inclui pacientes intubados ou traqueostomizados com acúmulo de secreções, incapacidade de tosse efetiva (ex.: lesão medular, doenças neuromusculares) e atelectasia ou obstrução brônquica por secreções espessas. Os materiais necessários para a aplicação da técnica são: sonda de aspiração estéril (tamanho adequado ao diâmetro da via aérea), fonte de vácuo (ajustado entre 80-120 mmHg em adultos e 60-100 mmHg em pediatria), solução salina 0,9% (para lavagem, se necessário) e equipamento de proteção individual (EPI) (luvas estéreis, máscara, óculos). As possíveis complicações incluem hipoxemia, trauma da mucosa, broncoespasmo ou infecção e arritmias.

Quando utilizar a higiene brônquica?

A fisioterapia respiratória é parte do manejo de diversas doenças pulmonares, auxiliando na remoção de secreções, melhora da ventilação e prevenção de complicações. Suas técnicas são adaptadas conforme a condição clínica do paciente. Em pacientes com pneumonia, a fisioterapia respiratória é indicada para facilitar a eliminação de secreções e reduzir o risco de atelectasias. No caso de pacientes com DPOC, eles se beneficiam de técnicas como treinamento muscular inspiratório, exercícios de pursed-lip breathing e reabilitação pulmonar. A fisioterapia é mais eficaz durante exacerbações e na fase estável, melhorando a tolerância ao esforço. Cuidados incluem evitar hiperinsuflação em pacientes com enfisema avançado. Na fibrose cística, a terapia de higiene brônquica (como oscilação oral de alta frequência e drenagem autógena) pode se usada para remover secreções espessas. A fisioterapia deve ser diária e combinada com inalação de mucolíticos. As técnicas possuem benefícios tanto na fase aguda (para desobstrução brônquica) quanto na estabilização (para reabilitação e fortalecimento) e como profilaxia evitando complicações pós-cirúrgicas. 

Cuidados e precauções

Especialmente em pacientes críticos com incapacidade de eliminar muco espontaneamente, as técnicas podem apresentar riscos e complicações, exigindo cuidados específicos durante sua execução. Alguns riscos e complicações podem ocorrer na realização da higiene brônquica, como:

Hipoxemia: Técnicas como aspiração traqueal e fisioterapia respiratória podem causar dessaturação de oxigênio, especialmente em pacientes com comprometimento pulmonar grave; Trauma das Vias Aéreas: A aspiração frequente ou inadequada pode lesionar a mucosa brônquica, aumentando o risco de sangramento e infecção; Atelectasias: A remoção excessiva de secreções sem reposição de volume corrente adequado pode levar ao colapso alveolar; Bradicardia e Arritmias: A estimulação vagal durante a aspiração endotraqueal pode desencadear bradicardia reflexa e até parada cardíaca em pacientes instáveis e; Infecções Hospitalares: O manuseio inadequado de dispositivos de higiene brônquica pode introduzir patógenos, aumentando o risco de pneumonias associadas à ventilação mecânica.

Algumas considerações são pertinentes destacar em pacientes críticos, como: a monitorização contínua da saturação de oxigênio, frequência cardíaca e pressão arterial antes, durante e após a técnica; administrar oxigênio suplementar (pré-oxigenação) antes da aspiração reduz o risco de hipoxemia; utilizar de cateteres estéreis e luvas para minimizar infecções; em pacientes sob ventilação mecânica, ajustes como aumento do volume corrente ou PEEP podem prevenir atelectasias pós-aspiração e a individuação da técnica. Pacientes com hipertensão intracraniana ou instabilidade hemodinâmica exigem técnicas menos invasivas, como fisioterapia respiratória modificada. 

Conclusão

A higiene brônquica é uma intervenção no manejo de pacientes com doenças respiratórias, contribuindo para a manutenção da saúde pulmonar e prevenção de agravos. Sua aplicação deve ser individualizada, considerando as necessidades e limitações de cada paciente. As técnicas de higiene brônquica evoluíram com base em evidências científicas, que demonstraram eficácia na melhora da clearance mucociliar e na função pulmonar. É fundamental que os profissionais escolham as técnicas mais adequadas para cada paciente, evitando métodos ultrapassados ou sem comprovação científica.