Terapia ABA: o que é e como aplicar?
ABA é a sigla para
Applied Behavior Analysis
(em português, Análise do Comportamento Aplicada) e representa um plano terapêutico apoiado em uma teoria bem estabelecida e com bons resultados na literatura para diversas populações. Mas, primeiro, o que é comportamento?
“O objeto de estudo da Análise do Comportamento, são as interações dos organismos humanos vivos com o mundo que habitam, e a essa interação, denomina-se comportamento” (Moreira & Hanna, 2012).
O comportamento é composto não apenas por aquilo que o indivíduo faz, pensa, sente ou fala, mas também por todo o contexto ambiental que promove as respostas do sujeito, que é afetado por estas. Nesse sentido, o comportamento é constituído por uma resposta emitida pelo organismo, o contexto em que ela ocorre e, especialmente no caso do comportamento operante, pelas alterações no ambiente que a sucedem, as consequências.
Dois conceitos importantes para essa definição são
estímulo
e
resposta
. Sendo a resposta, aquilo que o indivíduo faz, pensa, sente ou fala, e os estímulos as partes do ambiente que se relacionam sistematicamente a essas respostas.
Os estímulos consequentes de uma resposta irão alterar a probabilidade de que ela ocorra no futuro. Por exemplo, estímulos punitivos diminuem esta probabilidade, enquanto estímulos reforçadores aumentam esta probabilidade. Caso nenhuma consequência seja fornecida, a resposta é submetida a um processo de extinção.
Portanto, para a Análise do Comportamento, não basta apenas compreender o que o sujeito faz, mas é indispensável descrever também os eventos ambientais dos quais essa resposta é função.
ABA na modificação de comportamentos
Sabendo como e em que contextos os comportamentos ocorrem, é possível que, a partir de um planejamento estruturado, eles sejam modificados. Isto é feito com a manipulação dos estímulos consequentes, principalmente os reforçadores.
Em ABA, uma das intervenções mais utilizadas é o ensino por tentativas discretas (DTT, do inglês Discrete Trial Teaching). O DTT tem o propósito de decompor comportamentos com o objetivo de ensinar seus componentes de maneira isolada (Varella & Souza, 2018). Neste procedimento, um número pré-determinado de tentativas é repetido até atingir critérios de aprendizagem também estabelecidos previamente.
O terapeuta apresenta uma instrução (antecedente), o paciente emite uma resposta e o terapeuta libera o reforçador. Porém, o terapeuta não irá reforçar qualquer resposta, mas sim aquela que está sendo treinada no momento (ou as respostas que sejam diferentes daquelas que se pretende extinguir). Esse processo é chamado de reforçamento diferencial.
Reforçamento diferencial
O reforçamento diferencial consiste em reforçar uma resposta específica enquanto as demais são colocadas em extinção (Moreira & Medeiros, 2019). Essa estratégia é uma ferramenta importante no ensino de novas respostas e pode ser usada para reduzir comportamentos indesejados de forma não punitiva, contando com diferentes procedimentos que podem ser adaptados a variados contextos. Os procedimentos principais são:
- Reforçamento diferencial de outros comportamentos (DRO):O estímulo reforçador é liberado quando a pessoa emite quaisquer outros comportamentos que não sejam o indesejado, dentro de um intervalo de tempo previamente estipulado.
- Reforçamento diferencial de comportamentos alternativos (DRA):O estímulo reforçador é liberado quando a pessoa emite um comportamento específico treinado pelo terapeuta e que não é necessariamente um comportamento incompatível com o indesejado.
- Reforçamento diferencial de comportamentos incompatíveis (DRI):O estímulo reforçador é liberado quando a pessoa emite um comportamento incompatível ao comportamento que se pretende extinguir. Este comportamento pode ser um comportamento treinado ou não, dependendo da estratégia adotada pelo profissional.
Modelagem
A redução de comportamentos indesejados é um aspecto fundamental do processo de aprendizagem em ABA. No entanto, é essencial que, simultaneamente, a pessoa desenvolva novos comportamentos mais funcionais e adequados ao seu contexto. Para que isso aconteça, o profissional estabelece um comportamento-alvo que será ensinado a partir do reforçamento diferencial de aproximações sucessivas deste comportamento. Este processo é chamado de modelagem (Moreira & Medeiros, 2019).
Para realizar a modelagem, o profissional pode ou não utilizar dicas, em um procedimento chamado de aprendizagem sem erros, descrito pela primeira vez em um experimento realizado por Herbert Terrace (1963). Neste procedimento, o terapeuta emite inicialmente uma dica intrusiva e a retira gradativamente (fading out) até que o comportamento-alvo seja estabelecido e o paciente consiga emiti-lo de maneira independente.
Encadeamento
Algumas atividades são formadas por uma série de respostas e precisam de uma decomposição em etapas para que possam ser ensinadas. Para isso, existe um procedimento chamado encadeamento de respostas.
Por exemplo, a atividade “lavar as mãos” é composta por várias etapas: ligar a torneira, molhar as mãos, pegar o sabão, esfregar as mãos, enxaguar as mãos e secá-las. Se o terapeuta exigisse que o paciente realizasse todas estas etapas para ter acesso a um reforçador, é muito provável que a aprendizagem seria difícil e nada agradável. O terapeuta então pode exigir que o paciente realize uma etapa específica para ter acesso ao reforçador. Este encadeamento pode ser feito de trás para frente (mais usual) ou ser feito apenas para frente.
Conclusão
A terapia ABA é um conjunto de práticas e procedimentos fundamentados em uma teoria sólida e robusta, com comprovações científicas na promoção de comportamentos funcionais e diminuição de comportamentos inadequados para diversas condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA) (Yu et al, 2020), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) (Seftiani et al, 2023), fobias (Chok et al, 2010), entre outros.
Ainda existem barreiras de acessibilidade que devem ser superadas com alternativas financeiramente viáveis e ampla disseminação do conhecimento científico, como produções acadêmicas e intervenções adaptadas a diferentes públicos. Desta forma, a terapia ABA pode ser uma prática cada vez mais difundida, alcançando e mudando a vida de pessoas por meio de estratégias não punitivas, que promovam a saúde e o bem-estar, independentemente das condições financeiras, localização geográfica ou posição social dos indivíduos.