Um dos maiores desafios enfrentados pela saúde é a resistência antimicrobiana. O uso indiscriminado de antibióticos ao longo de décadas promoveu o surgimento de superbactérias, microrganismos multirresistentes que tornam as infecções uma das principais causas de internação e gastos com terapia intensiva.

O alto custo de pesquisas para a produção de antibióticos capazes de barrar as superbactérias é um dos gargalos da medicina. Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou apenas oito, entre 51 novos medicamentos dessa classe, como inovadores –o suficiente para serem considerados mais potentes que os disponíveis na atualidade.

A solução encontrada na prática clínica é o uso combinado de antibióticos. A medida tem como objetivo alargar o espectro antimicrobiano, reduzir ou impedir a seleção de germes multirresistentes e melhorar o resultado clínico por meio de possível sinergismo.

Algumas condições se beneficiam da combinação destes fármacos. Entre elas, a tuberculose e a AIDS. Ou então situações de elevada carga microbiana e alto poder de mutação dos patógenos. Apesar de haver resultados positivos, a estratégia não é recomendada para uso rotineiro.

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O que dizem as pesquisas

Em 2013, a Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP) promoveu experiências com camundongos mostrando que é possível combinar diferentes antibióticos para obter melhores resultados no tratamento de infecções hospitalares. À época, foram testadas 30 combinações para combater a bactéria Acinetobacter baumannii, multirresistentes produtoras de carbapenemases tipo OXA – endêmica no Brasil.

Já em 2018 uma equipe da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, analisou milhares de combinações de antibióticos. Os testes foram realizados em laboratório para combater a E. Coli, bactéria normalmente encontrada no trato gastrointestinal inferior.

Como prescrever o uso combinado de antibióticos

A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), vinculada ao Ministério da Saúde, recomenda a preferência por terapia única à combinada. A exceção fica por conta de situações de comprovada eficácia ou outras em que seja necessário ampliar espectro ou reduzir toxicidade. “O uso de terapia combinada para Pseudomonas spp somente está indicada em infecções graves”, alerta a EBSERH.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reconhece a importância da combinação de antibióticos na prática clínica. Ainda assim, alerta que, bem como a prescrição habitual, a prática combinada “poderá piorar o curso clínico pelo antagonismo antibacteriano, além de elevar custos, resistência e toxicidade” caso não seja elaborada com cautela.

A definição da posologia ao combinar os fármacos segue os protocolos de evidências científicas sobre a segurança e eficácia do tratamento. Outros cuidados como preparação e vias de administração também são essenciais para garantir bom prognóstico da terapia antibiótica.

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