Acesso venoso jugular externa: passo a passo para enfermeiros

Segundo o parecer do COFEN nº 210/2022, a Veia Jugular é uma veia que faz transporte de sangue da região crânio-encefálico para a veia subclávia e veia cava superior, drenando-o até o coração. Existem as veias jugulares externas e internas, duas de cada lado do pescoço, sendo que as jugulares internas têm calibre maior do que as externas.
A veia jugular externa se origina na região próxima ao ângulo da mandíbula, cruza o músculo esternocleidomastóideo em direção oblíqua, em seguida, perfura a lâmina superficial da fáscia cervical e se direciona para a parte inferior da região cervical lateral, desembocando na veia subclávia.
A punção da Veia Jugular Externa é considerada como uma punção de veia periférica, e corre superficialmente sobre o músculo esternocleidomastóideo. É móvel e variável anatomicamente, dessa forma, a sua canulação segue os mesmos preceitos orientadores de um acesso venoso periférico.
Indicações
A veia jugular externa é uma via de acesso endovenoso, utilizada para a administração de doses mais volumosas e rápidas de medicamentos, líquidos ou sangue, geralmente utilizada em situações de urgência e emergência, cuidados intensivos e cirúrgicos e nos casos de fragilidade de acesso em vasos dos membros superiores e inferiores.
É normalmente utilizada no caso de internações mais longas, com maiores volumes a serem infundidos e em pessoas de difícil acesso nos membros superiores. Tem a vantagem de ser de média duração quando não há intercorrências.
Passo a passo da técnica
Material
- Álcool 70%;
- Algodão;
- Cateter Intravenoso de média duração (Jelco/Abocath) com calibre de 14 a 18;
- Curativo de filme transparente (de preferência) ou fita hipoalergênica;
- Luvas de procedimento;
- Polifix de duas vias;
- Seringa de 10 ml;
- SF 0,9%.
Etapas do procedimento
- Ler a prescrição médica checando os nove certos: identificação do paciente, medicamento, dose, orientação certa, via certa, hora, forma, anotação, resposta certa;
- Higienizar as mãos com água e sabonete líquido;
- Separar o material necessário;
- Realizar a desinfecção da bandeja ou cuba rim com álcool 70%;
- Realizar a higienização das mãos com álcool 70% glicerinado;
- Preparar o material, sistema de infusão montado e seringa com soro fisiológico 0,9%;
- Datar equipos e extensores;
- Apresentar-se ao paciente e acompanhante (checar a identificação do paciente – Identificação Segura do Paciente);
- Explicar o procedimento ao paciente e/ou acompanhante;
- Posicionar o paciente em decúbito 0º ou até 15° e com hiperextensão lateral da cabeça (expondo o lado a ser puncionado);
- Localizar o vaso a ser puncionado através de inspeção e de sua palpação;
- Higienizar as mãos com álcool a 70% glicerinado;
- Calçar as luvas de procedimento;
- Abrir a embalagem do cateter de forma adequada para não contaminar o dispositivo.
- Fazer a antissepsia do local com algodão ou gaze embebido em solução alcoólica a 70% ou gluconato de clorexidina alcoólica maior ou igual a 0,5% no sentido proximal para distal em sentido único. Em caso de sujidade no local da punção, removê-la com água e sabão antes da aplicação do antisséptico;
- Tracionar a pele para baixo, com o polegar abaixo do local a ser puncionado no sentido distal para proximal;
- Introduzir o cateter venoso na pele, com o bisel voltado para cima, num ângulo aproximado de 10° e, mantenha esse ângulo ou um ângulo menor, à medida que o cateter é introduzido;
- Direcionar o cateter na veia com o auxílio do mandril e, após introdução do cateter, retirar o guia do dispositivo sobre agulha (jelco);
- Observar o refluxo sanguíneo no canhão do cateter intravenoso de média duração;
- Aspirar com a seringa de 10 ml, caso não tenha retorno venoso no cateter;
- Testar o fluxo do acesso venoso, injetando solução fisiológica a 0,9%. Quando observar infiltração do acesso ou obstrução total do cateter, remover o cateter e repetir novamente o procedimento, com outro dispositivo;
- Manter o acesso permeabilizado acoplando o extensor preenchido com solução fisiológica a 0,9% ou salinizar o acesso com solução fisiológica a 0,9% e fechar extensor;
- Realizar fixação adequada. A fixação deve ser preferencialmente com cobertura estéril semi oclusiva (gaze e fita adesiva estéril) ou membrana transparente semipermeável;
- Identificar a punção: data, hora, nº do dispositivo, nome e registro do profissional;
- Deixar o paciente confortável;
- Recolher o material, descartando os perfurantes cortantes em recipiente adequado. Deixar o ambiente limpo e organizado;
- Higienizar as mãos;
- Realizar as anotações do procedimento no prontuário eletrônico.


Remoção do Cateter
- Realizar avaliação de necessidade de permanência do cateter diariamente.
- Remover o cateter periférico tão logo não haja medicamentos endovenosos prescritos, caso não tenha sido utilizado nas últimas 24 horas.
- O cateter periférico instalado em situação de emergência com comprometimento da técnica asséptica deve ser trocado, por conseguinte tão logo quanto possível.
- Em casos de eritema, calor local e/ou infiltrações retirar o dispositivo, comunicar ao enfermeiro e realizado o registro em prontuário.
- Rotineiramente o cateter periférico deve ser trocado a cada 96 h.
- Em contraste com pacientes neonatais e pediátricos, não trocar o cateter rotineiramente.
Estabilização
- Empregar técnica asséptica ao estabilizar o cateter periférico;
- Não utilizar fitas adesivas não estéreis para estabilização ou coberturas de cateteres;
- A cobertura deve ser trocada se houver suspeita de contaminação e sempre quando estiver úmida, solta, suja ou com a integridade comprometida;
- Estabilizar o cateter de modo a preservar a integridade do acesso, prevenir o deslocamento do dispositivo e sua perda. A estabilização dos cateteres não deve interferir na avaliação e monitoramento do sítio.
Flushing e manutenção do cateter periférico
- Utilizar 5 ml de cloreto de sódio 0,9% isenta de conservantes para flushing e lock dos cateteres periféricos. Não utilizar água estéril para flushing dos cateteres;
- Realizar o flushing de cateteres periféricos imediatamente após cada uso;
- Realizar a desinfecção das conexões com álcool a 70% friccionando por 15 segundos;
- Avaliar diariamente a necessidade do uso de cateteres vasculares removendo aqueles cuja permanência não seja mais necessária ou em caso de sinais flogísticos;
- Aplicar Escala para avaliação de sinais de flebite;
- Caso ocorram sinais de flebite e infiltração/extravasamento, deve-se retirar o cateter venoso;
- Fazer o rodízio das punções a cada 96 horas, no máximo, mesmo que a veia pareça íntegra (em crianças a duração de um acesso venoso é maior, e deve ser avaliado diariamente).
Possíveis complicações
Vale ressaltar que tal punção predispõe o cliente/paciente a riscos de saúde de caráter agudo tais como: sangramentos, pneumotórax, hidrotórax, hemotórax, arritmia cardíaca, perfuração cardíaca, hemomediastino, lesão nervosa, disfonia por lesão do nervo laríngeo recorrente, hematomas, risco de dor, à infecção, à flebite, à trombose, à embolia, à perfuração da parede posterior da veia, à seção de nervo e à seção arterial.
O acesso venoso por jugular externa é um procedimento privativo do Enfermeiro no âmbito da Enfermagem. Já a inserção de cateter de posicionamento central por este acesso, não é permitido ao Enfermeiro, é um procedimento médico conforme a Lei nº 12.482 de 10 de julho de 2013.
Frente à diferenciada dinâmica da assistência na situação de urgência e emergência que exige trabalho inter profissional e considerando a impossibilidade de acessos por outras vias, é aceitável que diante da experiência do Enfermeiro na realização da técnica de acesso jugular externa, este profissional execute a técnica, para que ela seja complementada com inserção do cateter no posicionamento central pelo profissional com a competência legal.