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Transporte intra-hospitalar de pacientes: atuação do enfermeiro

Conceito e relevância do transporte intra-hospitalar

O transporte intra-hospitalar (TIH) é definido como o deslocamento de pacientes dentro do ambiente hospitalar, seja para realização de exames diagnósticos, procedimentos terapêuticos ou transferência para unidades assistenciais de maior ou menor complexidade. Esse processo, aparentemente simples, envolve uma série de riscos clínicos e logísticos que podem impactar diretamente a segurança e o desfecho clínico do paciente. 

Cerca de 70% dos pacientes críticos necessitam de pelo menos um transporte intra-hospitalar durante sua internação, sendo os exames de imagem (ressonância magnética, tomografia computadorizada e radiografias) os principais motivos para deslocamento. Além disso, a necessidade de procedimentos cirúrgicos, terapias invasivas e transferências entre unidades (como enfermarias para UTI ou vice-versa) também se destacam. 

Apesar de sua frequência, o TIH é considerado uma prática de alto risco. Diversas intercorrências podem ocorrer, como instabilidade hemodinâmica, dessaturação, deslocamento de dispositivos, falhas no monitoramento e até parada cardiorrespiratória. Tais complicações estão frequentemente relacionadas a falhas na preparação, na monitorização e na comunicação entre equipes. 

Dessa forma, o transporte intra-hospitalar deve ser reconhecido como uma atividade crítica que demanda planejamento, protocolos bem estruturados e atuação ativa da equipe de enfermagem, garantindo a continuidade da assistência e a minimização de riscos. 

Avaliação prévia do paciente

Antes da realização do TIH, é imprescindível a avaliação clínica detalhada do paciente. O enfermeiro deve verificar parâmetros como frequência cardíaca, pressão arterial, saturação periférica de oxigênio (SpO₂), nível de consciência, débito urinário e estabilidade hemodinâmica. 

A literatura enfatiza que pacientes instáveis não devem ser transportados sem que medidas de estabilização sejam previamente realizadas, a menos que o procedimento seja vital e emergencial. Isso reforça a necessidade de avaliação criteriosa e uso de critérios de estabilidade, como saturação acima de 90%, pressão arterial sistólica > 90 mmHg e ausência de arritmias graves. 

Outro aspecto fundamental é a comunicação entre as equipes de origem e destino, garantindo que todos estejam informados sobre o estado clínico do paciente, os dispositivos em uso e os cuidados necessários durante o transporte. Além disso, a documentação em prontuário, com registro das condições do paciente antes da transferência, é uma exigência legal e de segurança (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2021). 

 

Papel do enfermeiro no planejamento do transporte

O enfermeiro desempenha papel central na organização do TIH, atuando desde a checagem dos dispositivos até a definição dos recursos humanos necessários. Entre os cuidados incluem-se: 

  • Verificação de dispositivos:
    acessos venosos, sondas, drenos, cateteres e ventiladores mecânicos devem ser cuidadosamente avaliados, assegurando fixação adequada para evitar deslocamentos. 
  • Recursos humanos:
    dependendo da gravidade do paciente, a equipe pode incluir médico, enfermeiro e técnico de enfermagem. Pacientes críticos, em ventilação mecânica ou uso de drogas vasoativas, exigem a presença do enfermeiro e, preferencialmente, de um médico durante o deslocamento. 
  • Equipamentos de suporte:
    monitor multiparamétrico, oxímetro de pulso, cilindro de oxigênio, bomba de infusão e kit de emergência devem ser checados antes da saída. Estudos demonstram que até 20% dos eventos adversos durante o TIH estão relacionados a falhas de equipamentos. 

O enfermeiro, portanto, atua como articulador e responsável por garantir que todos os recursos necessários estejam disponíveis e em perfeito funcionamento, reduzindo o risco de intercorrências. 

 

Protocolos de segurança e monitorização durante o transporte

A adoção de protocolos de segurança é considerada uma das estratégias mais eficazes na prevenção de falhas durante o TIH. Checklists de verificação pré-transporte têm sido amplamente recomendados por sociedades científicas e organismos reguladores, como a ANVISA (2021). 

Esses protocolos incluem: 

  • Confirmação da identificação do paciente. 
  • Revisão das condições clínicas e dispositivos. 
  • Garantia da presença de equipamentos de suporte e medicações de emergência. 
  • Registro do transporte em prontuário. 

Durante o deslocamento, a monitorização contínua dos sinais vitais é obrigatória, especialmente em pacientes críticos. O acompanhamento da saturação de oxigênio e da frequência cardíaca permite a detecção precoce de instabilidades. Além disso, a comunicação entre as equipes de origem e destino deve ser mantida em tempo real, sempre que possível, garantindo a rápida resposta a intercorrências. 

 

Intercorrências mais comuns e condutas de enfermagem

As intercorrências mais comuns durante o TIH incluem hipotensão arterial, dessaturação de oxigênio, arritmias e parada cardiorrespiratória. Estudos indicam que a ocorrência de eventos adversos varia entre 5% e 30% dos transportes, dependendo da complexidade do paciente e da qualidade da equipe envolvida. 

O manejo rápido é essencial. Em casos de hipotensão, deve-se avaliar posicionamento, acesso venoso e infusão de soluções. Para dessaturação, garantir oxigenação adequada e verificar integridade das vias aéreas. Em situações extremas, como parada cardiorrespiratória, a equipe deve estar apta a iniciar protocolos de reanimação cardiopulmonar imediatamente. 

Diante desse contexto, destaca-se a relevância do treinamento contínuo da equipe de enfermagem em emergências clínicas e uso de protocolos padronizados. Simulações realísticas e capacitações periódicas têm mostrado impacto positivo na redução de eventos adversos. 

Normas, recomendações e boas práticas

O transporte intra-hospitalar é regido por diversas recomendações nacionais e internacionais. No Brasil, a ANVISA (2021) e o Conselho Federal de Enfermagem (2021) estabelecem diretrizes que reforçam a necessidade de protocolos institucionais, checagem de equipamentos e capacitação profissional. 

Sociedades científicas, como a Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (SOBRICE) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), também destacam a importância do TIH seguro, especialmente em pacientes submetidos a procedimentos complexos. 

No âmbito internacional, diretrizes publicadas pela Society of Critical Care Medicine (SCCM) e pela European Society of Intensive Care Medicine (ESICM) enfatizam práticas baseadas em evidências, incluindo a padronização de checklists e treinamentos. 

A educação continuada é apontada como fator essencial para a melhoria contínua do processo. Programas de capacitação periódica para enfermeiros e técnicos de enfermagem demonstraram impacto direto na redução de falhas durante o TIH. 

Conclusão

O transporte intra-hospitalar de pacientes é um processo crítico, repleto de riscos potenciais, que exige organização, protocolos bem estruturados e atuação eficiente da equipe multiprofissional. Nesse cenário, o enfermeiro assume papel central, desde a avaliação prévia do paciente até a condução do transporte e manejo de intercorrências. 

Os resultados da literatura dos últimos anos demonstram que a adoção de protocolos de segurança, monitorização contínua e capacitação profissional são estratégias determinantes para reduzir eventos adversos e garantir a qualidade da assistência. 

Dessa forma, a atualização constante do enfermeiro, aliada ao trabalho em equipe e à implementação de boas práticas baseadas em evidências, contribui significativamente para a segurança do paciente e a excelência do cuidado prestado dentro dos hospitais.