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Cuidados de enfermagem com ventilação mecânica

Monitorização de pacientes sob ventilação mecânica

A ventilação mecânica (VM) constitui uma das intervenções mais complexas em unidades de terapia intensiva (UTI), sendo utilizada em pacientes com insuficiência respiratória aguda ou crônica descompensada. O monitoramento contínuo do paciente sob VM é responsabilidade multiprofissional, mas a enfermagem possui papel central, visto que mantém vigilância permanente junto ao leito e intervém diante de alterações clínicas. 

Entre os parâmetros vitais a serem observados continuamente destacam-se frequência respiratória, saturação periférica de oxigênio (SpO₂), frequência cardíaca, pressão arterial invasiva ou não invasiva e temperatura corporal. A aferição e registro sistemático desses dados possibilitam a detecção precoce de complicações, como hipóxia, instabilidade hemodinâmica e febre, que podem indicar infecção associada ao uso do ventilador. 

Outro aspecto essencial é a interpretação dos alarmes do ventilador mecânico. O enfermeiro deve compreender os alarmes de alta pressão, geralmente relacionados a secreções, mordedura do tubo, broncoespasmo ou redução da complacência pulmonar; e os alarmes de baixa pressão, associados a vazamentos no sistema, desconexões ou extubação acidental. A resposta rápida a esses sinais reduz significativamente a morbimortalidade. 

A observação dos sinais clínicos de desconforto respiratório também é indispensável. Agitação, uso de musculatura acessória, diaforese, taquipneia ou queda da saturação podem indicar falha da sedação ou parâmetros ventilatórios inadequados. Nesse contexto, cabe ao enfermeiro comunicar a equipe médica e de fisioterapia para ajustes oportunos, além de avaliar a necessidade de reforço da sedação ou analgesia, garantindo o conforto e segurança do paciente. 

Portanto, a monitorização envolve não apenas a checagem dos parâmetros numéricos, mas também a avaliação clínica do paciente como um todo, associando tecnologia e observação sistemática de sinais e sintomas. 

Cuidados com o tubo orotraqueal ou traqueostomia

O tubo orotraqueal ou a cânula de traqueostomia são dispositivos indispensáveis para manter a ventilação mecânica invasiva, mas também representam potenciais fontes de complicações. A fixação adequada do tubo é um dos cuidados primordiais da enfermagem, pois reduz o risco de deslocamento ou extubação acidental. Recomenda-se o uso de fitas ou dispositivos específicos de fixação, com inspeção frequente da integridade e umidade do material. 

Outro cuidado central refere-se ao cuff, balonete presente no tubo que garante a vedação das vias aéreas. A pressão do cuff deve ser monitorada regularmente, mantendo-se entre 20 e 30 cmH₂O, a fim de prevenir escape aéreo, risco de aspiração de secreções e lesões traqueais. Pressões superiores a esse intervalo podem causar necrose da mucosa, enquanto valores inferiores aumentam a chance de pneumonia associada à ventilação. 

A inspeção do local de inserção do tubo ou cânula deve ser realizada de forma sistemática, observando sinais de hiperemia, secreção purulenta, edema ou lesões de pele. O enfermeiro deve realizar a higiene local, alternar o ponto de fixação e prevenir lesões por pressão relacionadas ao dispositivo. Além disso, o registro adequado dessas observações auxilia no acompanhamento evolutivo e na tomada de decisões clínicas. 

Aspiração de vias aéreas: quando e como fazer

A aspiração de vias aéreas é uma prática rotineira em pacientes em VM, destinada à remoção de secreções traqueobrônquicas. Entretanto, trata-se de um procedimento invasivo que requer técnica adequada e avaliação criteriosa. 

O enfermeiro deve identificar a real necessidade da aspiração, evitando sua realização de forma desnecessária. Entre os sinais clínicos que indicam acúmulo de secreção estão ruídos adventícios à ausculta pulmonar, queda da saturação, aumento da pressão de pico no ventilador e presença de secreções visíveis no tubo. 

A técnica pode ser realizada de forma aberta ou fechada. Na aspiração aberta, o circuito do ventilador é desconectado, aumentando o risco de contaminação e dessaturação. Já a aspiração fechada mantém o circuito conectado, reduzindo complicações e sendo mais indicada em pacientes críticos. Independentemente da técnica, é fundamental realizar pré-oxigenação, limitar o tempo de aspiração a 10–15 segundos e utilizar pressão negativa adequada. 

Entre as complicações possíveis destacam-se hipóxia, broncoespasmo, arritmias e traumas de mucosa. Por isso, a aspiração deve ser feita apenas quando necessário, seguindo protocolos institucionais e respeitando princípios de segurança do paciente. 

Prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM)

A pneumonia associada à ventilação mecânica é uma das infecções mais prevalentes em UTIs, aumentando tempo de internação, custos e mortalidade. A prevenção da PAVM é prioridade na assistência de enfermagem e requer a adoção de medidas sistemáticas. 

A higiene oral com clorexidina a 0,12% ou 0,2% constitui uma prática comprovadamente eficaz na redução da colonização orofaríngea e na prevenção de pneumonia. Recomenda-se que seja realizada de forma regular, a cada 8 a 12 horas, associada à escovação mecânica dos dentes quando possível. 

A elevação da cabeceira entre 30° e 45° é outro cuidado essencial, pois diminui o risco de broncoaspiração. A manutenção dessa posição deve ser verificada periodicamente pela equipe de enfermagem, sendo registrada em prontuário como medida preventiva. 

O manejo adequado das secreções também é fundamental. Isso inclui drenagem do condensado dos circuitos respiratórios, aspiração subglótica em tubos apropriados e cuidados de higiene geral do paciente. 

O protocolo de desmame ventilatório e mobilização precoce, realizado em conjunto com a equipe multiprofissional, também impacta na prevenção de complicações. A retirada precoce do ventilador, quando possível, reduz o tempo de exposição ao risco de PAVM. 

Papel da enfermagem na equipe multiprofissional

O enfermeiro exerce papel articulador dentro da equipe multiprofissional, garantindo que a assistência ao paciente em VM seja integral e segura. 

Entre as responsabilidades está o registro adequado das intervenções, parâmetros do ventilador, alterações clínicas e intercorrências. Essas informações são fundamentais para a continuidade do cuidado e para a tomada de decisão por médicos e fisioterapeutas. 

A comunicação efetiva é igualmente essencial. O enfermeiro deve dialogar com a equipe de fisioterapia sobre estratégias de ventilação, ajustes de parâmetros e protocolos de desmame. Além disso, a interação com a equipe médica permite discussão conjunta sobre sedação, analgesia, uso de bloqueadores neuromusculares e antibioticoterapia. 

A participação da enfermagem em protocolos de desmame ventilatório tem se mostrado eficaz na redução do tempo de ventilação e na prevenção de complicações. O enfermeiro contribui avaliando sinais de prontidão para o desmame, como melhora da oxigenação, estabilidade hemodinâmica e nível de consciência. 

Frente a intercorrências respiratórias, como queda brusca da saturação, obstrução do tubo ou falha ventilatória, o enfermeiro deve estar preparado para agir prontamente. O treinamento contínuo em emergências, simulações clínicas e educação permanente são fundamentais para assegurar condutas rápidas e eficazes. 

Considerações finais

Os cuidados de enfermagem com pacientes em ventilação mecânica envolvem conhecimento técnico-científico, capacidade de monitorização crítica e atuação integrada à equipe multiprofissional. Desde a vigilância dos parâmetros vitais até a prevenção de complicações como a PAVM, a enfermagem assume protagonismo na segurança do paciente crítico. 

A atualização constante sobre práticas baseadas em evidências é essencial para que os profissionais possam aplicar protocolos de forma padronizada e eficaz. Investir na formação e capacitação em terapia intensiva fortalece a autonomia da enfermagem e promove uma assistência de excelência. 

Nesse contexto, a atuação crítica, reflexiva e fundamentada do enfermeiro contribui diretamente para a qualidade do cuidado em UTI, para a redução de morbimortalidade e para a recuperação mais rápida dos pacientes submetidos à ventilação mecânica. 

Perguntas Frequentes