Cistostomia: principais cuidados pela enfermagem

As ostomias urinárias caracterizam-se por uma abertura cirúrgica no trato urinário. Existem cinco tipos de ostomias urinárias, são elas: nefrostomia, ureterostomia, cistostomia, conduto ileal e conduto colónico. São criadas quando há obstrução do fluxo urinário havendo a necessidade de realizar a drenagem urinária.

A cistostomia, um exemplo de urostomia, é realizada quando a bexiga encontra-se preservada. Esse tipo de estoma é confeccionado colocando-se um cateter no interior da bexiga interligando-a ao meio externo, a partir da técnica a céu aberto ou por punção suprapúbica. A cistostomia é escolhida quando há prognóstico favorável em relação à bexiga. O cateter colocado permite maior controle do débito urinário, bem como a reeducação vesical.
Os estomas urinários, também denominados de urostomias, são recursos terapêuticos com a finalidade de exteriorizar a urina, preservando o tecido renal, com melhora ou até mesmo a reversão de insuficiência renal aguda. Essa intervenção é realizada em situações em que a pessoa apresenta dificuldades na eliminação urinária devido a obstruções, disfunções neurológicas ou lesões graves no trato urinário.
Segundo o Ministério da Saúde cerca de 54.000 procedimentos de cistostomia foram realizados no período de 2014 a 2024, o que justifica a necessidade de uma gestão do cuidado qualificada e fundamentada nas evidências científicas para o enfermeiro generalista e estomaterapeuta.
Indicações
As indicações para essa técnica são as obstruções do colo vesical, estenose de uretra, trauma vesical ou de uretra, obstrução prostática, pós uretroplastia e pós cistoplastias. Nos traumas de uretra, muito comuns em homens acidentados com envolvimento da pelve, as cistostomias também são indicadas, com o propósito de reconstrução cirúrgica uretral tardia. Estima-se, nesses casos, a manutenção da cistostomia por quatro a seis meses.
Em alguns casos de prostatites agudas, os pacientes podem apresentar retenção urinária aguda, necessitando de rápida abordagem para preservar a pelve renal. Prefere-se, neste caso, a realização de cistostomia ao cateterismo uretral, por representar menor risco de bacteremia.
A drenagem vesical suprapúbica oferece ao paciente algumas vantagens, como conforto e eliminação urinária mais cedo durante o pós operatório, coleta de amostra da urina sem manipulação da uretra e menor risco de infecção da bexiga.
Complicações
As complicações da cistostomia podem incluir:
- Infecção da ferida cirúrgica
- Infecção urinária
- Extravasamento de urina no tecido perivesical e/ou subcutâneo
- Obstrução do cateter
- Deslocamento do cateter
- Sangramento
- Celulite no local da pele
- Formação de cálculos renais e na bexiga
- Deterioração da função renal
Algumas complicações são menores e se resolvem espontaneamente, como a hematúria. Outras podem ser mais graves, como a travessia do cateter por uma alça do intestino delgado.
Cuidados de enfermagem
A pessoa com cistostomia, a partir do período pós-operatório, necessita de cuidados específicos para o seu processo de reabilitação: avaliação do seu estado físico e psicossocial, suas habilidades para o autocuidado, avaliação do estoma e pele periestoma e o manuseio dos sistemas coletores.
Para o cistomizado, em especial, a troca do cateter, a periodicidade e a disponibilidade de materiais para os procedimentos, também são necessários. O enfermeiro tem papel importante nesse processo, suas ações influenciam na trajetória de reabilitação, que perpassa desde as orientações, como a escolha do sistema coletor adequado até os procedimentos diretos com o estoma.
A assistência ao paciente com cateter urinário de longo prazo pode ser conduzida no ambulatório de especialidade ou no domicílio, tendo o hospital como ponto de atenção complementar à rede de assistência, conforme necessidade. O enfermeiro é responsável pela consulta de enfermagem e troca periódica deste cateter, desenvolvendo ações que vão desde a promoção da saúde à reabilitação e cuidados paliativos, para contribuir para a adaptação e qualidade de vida dos pacientes e seu entorno.
O enfermeiro generalista tem competência legal para o procedimento de troca do cateter em cistostomia e demais cuidados, conforme as recomendações dos órgãos da categoria de enfermagem.
Os referidos órgãos pontuam que este profissional apresenta competências técnicas, científicas, éticas e legais para a realização desse cuidado específico. Na fundamentação dos pareceres pesquisados, as bases técnicas e científicas são consolidadas na formação acadêmica e cursos sobre o tema, já a base ética é alicerçada pela Resolução n. 311/2007 (COFEN), e por fim, as bases legais, na Lei n. 7.498/86 que rege a regulamentação do exercício da enfermagem. Entretanto, os órgãos enfatizam que o enfermeiro deve autoavaliar as suas habilidades e conhecimentos antes de proceder qualquer técnica.
Para uma boa adaptação com o estoma urinário e adoção de um estilo de vida de qualidade, com segurança e eficiência, o enfermeiro precisa orientar e educar corretamente o paciente quanto ao tipo de bolsa coletora mais apropriada para o paciente, como o tamanho ideal, utilizando o medidor para obter a medição correta.
Também sobre o coletor, é necessário que ele seja guardado em lugares arejados, sem umidade e distante dos raios solares e é importante que ele não seja dobrado. Tais informações deverão ser passadas a todos os ostomizados, para evitar os riscos de complicações com seu estoma.
Além disso, referente ao esvaziamento da bolsa coletora, esse deve ser feito quando ela atingir 1/3 de seu espaço total, para evitar o descolamento da pele devido ao excesso de peso e extravasamento acidental. A higienização da pele ao redor do estoma deve ser feita com água e sabão, sem esfregar a região para não ferir e não se deve usar esponja, em seguida deve-se secar a pele com tecido macio e movimentos delicados.
Para evitar o deslocamento do cateter, que pode inclusive atravessar órgãos próximos, é importante fixar externamente este e medir o cateter a cada troca, para que se evite complicações.
Não deve ser aplicado nenhum produto na pele periestomal, tais como: essências, álcool, benzina, colônias, tintura de benjoim, mercúrio, merthiolate, pomadas e cremes. Estes produtos promovem ressecamento da pele, ferimentos, reações alérgicas, além de diminuir a aderência da bolsa. Salvo alguns que são prescritos pelo enfermeiro estomaterapeuta, como, por exemplo, o protetor cutâneo, ou creme barreira, utilizado para proteger a pele e prevenir infiltração de urina.