O MAIOR ECOSSISTEMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO BRASIL

Artmed

O MAIOR ECOSSISTEMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO BRASIL

Artmed
  • Home
  • Conteúdos
  • Infância e tecnologia: principais recomendações das sociedades de pediatria

Infância e tecnologia: principais recomendações das sociedades de pediatria

O aumento do uso das redes sociais pela internet, associado à multiplicação do acesso aos vários aplicativos e jogos online direcionados às crianças e adolescentes, requer cada vez mais o alerta e a atenção de todos que lidam com as tarefas de responsabilidade dos cuidados de saúde durante a infância e a adolescência.

As crianças e os adolescentes estão crescendo em um mundo no qual a tecnologia é parte fundamental de quase todos os aspectos da vida. A tecnologia transformou a maneira como vivemos e interagimos. Assim, as crianças estão cada vez mais expostas a dispositivos como smartphones, tablets e televisores desde tenra idade, pois veem o quanto os adultos ao seu redor utilizam esses dispositivos regularmente em seu cotidiano.

As crianças acessam a internet por equipamentos como telefones celulares e smartphones, notebooks, além dos computadores que são usados pelos pais, irmãos ou família, em casa, nas creches, em escolas ou mesmo em quaisquer outros lugares, como restaurantes, ônibus, carros, sempre com o objetivo de fazer com que a “criança fique quietinha”. Isto é denominado distração passiva, resultado da pressão pelo consumismo dos joguinhos e vídeos nas telas, e pela publicidade das indústrias de entretenimento, o que é muito diferente do brincar ativamente — um direito universal e temporal de todas as crianças e adolescentes, em fase de desenvolvimento cerebral e mental.

Este fenômeno levanta questões importantes sobre o impacto a longo prazo no desenvolvimento neurológico e social das crianças e adolescentes, e sobre os riscos a que estão expostas em redes sociais, onde podem acessar conteúdos inadequados quando não supervisionadas. É um tema que tem sido amplamente estudado nos últimos anos.

Impactos da tecnologia no desenvolvimento infantil

O desenvolvimento neurológico na infância é complexo, e a exposição a telas interfere em diversos pontos dele, atuando desde o sistema límbico — responsável pela percepção e gerenciamento de emoções, memória e motivação — até as áreas pré-frontais, responsáveis pelas funções cognitivas e executivas do controle dos impulsos, julgamento, resolução de problemas, atenção, inibição, memória executiva e tomada de decisões.

A exposição precoce à televisão durante períodos críticos de desenvolvimento cerebral pode levar a problemas de atenção posteriores. Um estudo revelou que, para cada hora de televisão assistida por dia, há um aumento de 9% nos problemas de atenção.

Oitenta por cento do crescimento do cérebro adulto ocorre durante os primeiros três anos de vida de uma criança, tornando-as mais vulneráveis aos efeitos da mídia de tela. Por isso, a exposição a telas deve ser minimizada até os 3 anos de idade.

O uso excessivo da tela e da internet pode estar associado a uma diminuição nas habilidades sociais e emocionais, como a capacidade de ler as nuances das emoções dos outros. As áreas do cérebro associadas à empatia mostram pouca estimulação durante o uso da internet. Há evidências de um declínio nas habilidades de pensamento de nível superior entre adolescentes, possivelmente atribuído ao uso crescente de jogos de computador.

Adolescentes que passam tempo excessivo na internet podem apresentar alterações estruturais no cérebro. Estudos revelaram que algumas regiões cerebrais podem ser menores nesses adolescentes, com encolhimento da substância cinzenta, o que pode levar a efeitos negativos como redução da inibição de comportamentos inadequados e diminuição da orientação para objetivos, podendo contribuir para o desenvolvimento de comportamentos compulsivos e agressivos.

Além dos danos neurológicos, o uso excessivo de telas pode prejudicar a acomodação visual, atrapalhar o desenvolvimento da fala, favorecer comportamentos ansiosos e depressivos, e piorar a atenção.

Relação com sono, comportamento e aprendizado

Estudos mostram que crianças estão dormindo menos do que as gerações anteriores e enfrentando mais dificuldades para dormir. A exposição à televisão está relacionada a dificuldades de sono em diferentes faixas etárias, desde bebês até adultos. A visualização de televisão entre bebês e crianças pequenas está associada a padrões de sono irregulares. O número de horas de televisão assistidas por dia está independentemente associado a horários de soneca e de dormir irregulares. Em crianças de 5 a 6 anos, tanto a visualização ativa de TV quanto a exposição "passiva" ao ruído de fundo da TV por mais de 2 horas por dia estão relacionadas a uma duração mais curta do sono, distúrbios do sono e perturbações gerais do sono.

Adolescentes que assistem a três ou mais horas de televisão por dia apresentam um risco significativamente maior de problemas de sono frequentes na idade adulta. No entanto, aqueles que reduziram o tempo de tela para menos de uma hora por dia experimentaram uma redução significativa no risco de problemas de sono.

A exposição às telas está associada a níveis mais baixos de melatonina, um hormônio que auxilia no sono. Quando crianças de 6 a 12 anos foram privadas de seus aparelhos de TV, computadores e videogames, sua produção de melatonina aumentou em média 30%. A redução dos níveis de melatonina pode ainda ter um papel no início precoce da puberdade.

Recomendações das sociedades de pediatria

Limites de tempo de tela por faixa etária

Há algumas recomendações referentes ao tempo de exposição à tela para crianças em diferentes faixas etárias. Essas recomendações podem diferir pouco entre si. As citadas abaixo são oriundas de documento da Sociedade Brasileira de Pediatria:

  • Menores de 2 anos: evitar a exposição de crianças menores às telas sem necessidade (nem passivamente!).
  • Crianças com idades entre 2 e 5 anos: limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora/dia.
  • Crianças com idades entre 6 e 10 anos: limitar o tempo de telas ao máximo de 1–2 horas/dia.
  • Adolescentes com idades entre 11 e 18 anos: limitar o tempo de telas e jogos de videogames a 2–3 horas/dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando.
  • Não permitir que as crianças e adolescentes fiquem isolados nos quartos com televisão, computador, tablet, celular, smartphones ou com uso de webcam; estimular o uso nos locais comuns da casa.
  • Para todas as idades: evitar telas durante as refeições e desconectar 1–2 horas antes de dormir.

É importante lembrar que o tempo de tela permitido para as crianças deve ser supervisionado, sobretudo em crianças maiores, em jogos online que podem oferecer riscos à exposição a cyberbullying e conteúdos inadequados para a idade.

Sugestões para equilíbrio entre atividades digitais e não digitais

Não basta proibir o consumo de telas quando o que as crianças veem ao seu redor são adultos que dependem dessas telas para muitas de suas atividades diárias. Não há como negar que a tecnologia oferece benefícios significativos. Existem diversos aplicativos com jogos educativos que podem ajudar no desenvolvimento cognitivo e no aprendizado de novas habilidades. As plataformas de vídeo e redes sociais permitem que as crianças se conectem com familiares e amigos, mesmo à distância, o que pode fortalecer os vínculos e auxiliar no desenvolvimento social. As telas também são comumente utilizadas para assistir a filmes, jogos esportivos, animações, e assim funcionam como fonte de entretenimento, que pode ser uma forma de relaxamento, sobretudo para famílias que têm pouco acesso a outros recursos de lazer devido a condições financeiras desfavoráveis — o que significa dizer, a maior parte das famílias em nosso país.

Entretanto, dados os riscos do uso excessivo, é necessário oferecer alternativas para atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza. E essa é uma responsabilidade não só individual de cada família, mas também coletiva. É necessário que os familiares tenham acesso a equipamentos de lazer e tempo disponível para passarem bons momentos com seus filhos, minimizando, assim, o uso da tela como recurso de entretenimento familiar.

Preferir a maior tela, na maior distância possível (televisão é preferível ao celular); controlar a distância de uso (manter os aparelhos a uma distância de um braço adulto) e evitá-las durante as refeições. Outras medidas para evitar danos oculares são:

  • Evitar telas pelo menos 2 horas antes de dormir;
  • Estabelecer intervalos periódicos, seguindo a regra do “20-20-20”: a cada vinte minutos de atividade de perto, realizar intervalos de pelo menos 20 segundos para fixar objetos a 20 pés (6 metros) de distância, permitindo o relaxamento do foco de perto (acomodação);
  • Manter uma postura adequada: tablets e computadores devem ficar na altura dos olhos da criança, atentando-se à posição das costas e pescoço durante o uso;
  • Estimular atividades ao ar livre, sob exposição solar indireta, pelo menos 2 horas por dia;
  • Reduzir o brilho e aumentar o contraste da tela do aparelho eletrônico. A luminosidade da tela deve ser menor ou igual à do ambiente, devendo-se evitar o uso de telas em ambientes mal iluminados.

Estratégias para um uso saudável da tecnologia

As crianças aprendem com o que veem, então boa parte da redução do uso de telas por crianças inicia com a redução e o uso consciente de telas pelos adultos que as circundam. Além disso, para evitar exposição em redes criminosas que promovem pedofilia, por exemplo, é preciso tomar alguns cuidados, como:

  • Nunca postar fotos de crianças e adolescentes em redes sociais públicas, por quaisquer motivos — essa exposição precoce é desnecessária e carrega riscos.
  • Sabemos que os jovens dominam as redes sociais e as tecnologias com facilidade, por isso é importante que os adultos aprendam sobre como regular os acessos a determinadas redes, criando regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda a família.
  • É importante que a família se envolva em atividades de alfabetização digital nas escolas e na comunidade, com o objetivo de compartilhar entre si regras éticas de convivência e respeito a todas as idades e situações culturais, para o uso seguro e saudável das tecnologias.
  • Encontros com desconhecidos online ou off-line devem ser evitados. Saber com quem e onde a criança está, o que está jogando ou sobre conteúdos de risco transmitidos (mensagens, vídeos ou webcam) é responsabilidade legal dos pais/cuidadores.
  • Criar espaços e momentos de desconexão com as redes entre todos os familiares, priorizando a convivência familiar com troca e conexão afetiva. As crianças que usam tela por mais tempo que o indicado podem se beneficiar de redução gradual, substituindo-a por momentos de brincadeiras e jogos em família.

Alguns estudos mostram que um pouco dos efeitos danosos do uso de telas pode ser minimizado se esse uso for supervisionado por um familiar. Acompanhar a criança num jogo educativo, optar por momentos de tela em conjunto, com trocas sobre o que estão assistindo ou jogando, pode ser positivo. Além disso, compartilhar com as crianças chamadas de vídeo com familiares também ajuda na construção de vínculo com pessoas que estão distantes, mas que são importantes para a família.

Conclusão 
 

Como discutido anteriormente, o uso excessivo de telas é um problema que atinge a todas as idades. Entretanto, nas crianças pode trazer consequências graves relativas ao desenvolvimento cognitivo, social e emocional. Por esse motivo, é importante que todos os que são responsáveis pelo cuidado com as crianças enfatizem a necessidade de seguir as recomendações de tempo de tela para cada idade. A sociedade também deve agir coletivamente para proteger crianças e adolescentes das seguintes formas:  

  • Conteúdos ou vídeos com teor de violência, abusos, exploração sexual, nudez, pornografia ou produções inadequadas e danosas ao desenvolvimento cerebral e mental de crianças e adolescentes, postados por cyber criminosos, devem ser denunciados e retirados pelas empresas de entretenimento ou publicidade responsáveis;
  • Identificar, avaliar e diagnosticar o uso inadequado precoce, excessivo, prolongado, problemático ou tóxico de crianças e adolescentes para tratamento e intervenções imediatas e prevenção da epidemia de transtornos físicos, mentais e comportamentais associados ao uso problemático e à dependência digital;
  • Exigir e cobrar dos governos a melhor distribuição de equipamentos de saúde e lazer, bem como a fiscalização quanto ao cumprimento das leis e meios de proteção social para garantir o uso seguro e ético das tecnologias que já existem, devem ser respeitadas por todos e multiplicadas em campanhas de educação em saúde acessíveis ao público, em geral.  

É importante a conscientização destas leis já aprovadas e a implementação em políticas públicas e por campanhas de educação em saúde e materiais de apoio, com o objetivo da proteção integral e a prevenção dos riscos do uso de Internet, redes sociais, jogos de videogames e tantos outros aplicativos que têm seu uso alastrado em idades cada vez mais precoces por crianças no Brasil.