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Infectologia pediátrica: como é a rotina de trabalho?

As doenças infecciosas são uma causa significativa de morbidade e mortalidade em bebês, crianças, adolescentes e jovens. Estima-se que as infecções sejam responsáveis por aproximadamente 25% de todas as hospitalizações pediátricas, sendo as infecções respiratórias, infecções do trato urinário e sepse algumas das condições mais prevalentes e de maior custo. 

As mudanças demográficas e climáticas globais aumentam a ameaça de patógenos emergentes e reemergentes, elevando a necessidade de conhecimento e experiência para entender, diagnosticar, prevenir e tratar essas infecções em crianças.

O aumento na sobrevivência de crianças com imunodeficiências herdadas e adquiridas também tem resultado em um crescimento rápido no número de crianças imunocomprometidas, aumentando a demanda por cuidados especializados em infectologia pediátrica (IP).   

Principais doenças atendidas pelo infectologista pediátrico 
 

O infectologista pediátrico auxilia nas infecções que são mais graves ou que exigem maior expertise para diagnóstico e tratamento. Desempenham um papel importante na identificação, tratamento e prevenção de doenças infecciosas existentes, reemergentes e novas que afetam crianças tanto em ambientes hospitalares quanto comunitários. Também atuam em equipes multidisciplinares que cuidam de crianças com imunidade comprometida, comorbidades complexas, estado crítico e infecções resistentes a antibióticos.  

Adicionalmente, alguns especialistas em infectologia pediátrica (IP) lideram departamentos de saúde pública, educação sobre vacinas e coordenação de respostas a surtos ou epidemias de doenças infecciosas. Suas atividades também podem estar envolvidas na operação dos sistemas de saúde, incluindo o manejo de antimicrobianos, supervisão laboratorial e controle de infecções hospitalares.  

Infecções oportunistas em crianças expostas ou infectadas pelo HIV, como pneumonia bacteriana e infecções por Pneumocystis jirovecii, são tratadas com base em diretrizes específicas.  

Entre os casos mais frequentemente atendidos, podemos destacar: 

  • toxoplasmose (doença parasitária, ainda muito comum no Brasil, que pode acometer todos os indivíduos, sendo ainda causa relevante de infecção congênita); 
  • citomegalovírus (extremamente comum, essa infecção pode ser congênita, ou acometer as crianças já nos primeiros dias de vida, sendo também causa de preocupação em pacientes imunossuprimidos); 
  • sífilis congênita (temos presenciado nos últimos 10 anos um aumento das taxas de incidência dessa doença no Brasil); 
  • infecção pelo vírus Zika (apenas recentemente identificado como potencial causa de malformações congênitas no feto quando acomete gestantes); 
  •  doenças exantemáticas (são as doenças infecciosas que provocam manchas no corpo das crianças: sarampo, rubéola, roséola, eritema infeccioso etc.); 
  • doenças tropicais negligenciadas e parasitoses (esquistossomose, malária, giardíase); 
  • infecções bacterianas graves recorrentes ou complicadas (meningites, pneumonias, septicemia, artrites etc.); 
  • infecções causadas por germes multirresistentes; 
  • febres de origem indeterminada; 
  • infecções oportunistas em pacientes imunossuprimidos (transplantados, em tratamento de câncer, infectados pelo HIV etc.). 
  • tuberculose;  
  • HIV – infecção por transmissão vertical em lactentes e crianças e por transmissão horizontal em adolescentes bem como acompanhamento de crianças com exposição a HIV sem transmissão vertical. 

Em algumas dessas condições o diagnóstico pode ser desafiador e o tratamento pode exigir tempo e seguimento de longo prazo.  

Rotina de trabalho do infectologista pediátrico 
 

A especialidade em doenças infecciosas pediátricas oferece múltiplas possibilidades de atuação. No âmbito da prática clínica, os especialistas podem trabalhar tanto em atendimentos ambulatoriais quanto hospitalares, contribuindo para o diagnóstico e tratamento de diversas infecções. Em ambientes hospitalares, especialmente em instituições de atenção terciária, esses profissionais também atuam diretamente nas enfermarias pediátricas, participando do controle de surtos intra-hospitalares e da implementação de medidas de profilaxia pós-exposição a agentes infecciosos específicos, quando necessário.

Os especialistas em IP podem se envolver em programas de administração de antimicrobianos, embora em algumas instituições pediátricas esses programas possam não estar formalmente estabelecidos. A intervenção direta por parte do especialista pode melhorar significativamente o uso de agentes antimicrobianos, reduzindo a duração do tratamento e promovendo o uso de antimicrobianos de espectro mais estreito. Essa atuação em geral se dá por meio da composição de comitês de controle de infecção hospitalar ou pela realização de interconsultas a pacientes internados conforme a demanda. A composição de serviços de controle de infecção hospitalar de hospitais pediátricos é um importante campo de atuação que segue em expansão. 

A pesquisa e a educação também são componentes importantes da rotina de todos esses especialistas, alguns em maior, outros em menor grau. Mas é correto mencionar que a maioria dedica parte de seu tempo para atividades educacionais com o intuito de treinar novos profissionais. Há ainda a possibilidade de atuação em pesquisas clínicas e epidemiológicas.  Esses campos de pesquisa e educação podem ser direcionados a crianças imunossuprimidas (subdivididos em transplantados, oncológicos, infectados por HIV ou com outras doenças imunológicas crônicas), vacinação em pacientes com condições crônicas específicas, infecções congênitas e Infecções Sexualmente Transmissíveis.  

Em resumo, a rotina de um especialista em doenças infecciosas pediátricas é multifacetada, abrangendo cuidados clínicos, pesquisa e educação continuada. 

Desafios e tendências na infectologia pediátrica 
 

Apesar da sua importância, a infectologia pediátrica enfrenta diversos desafios significativos na prática clínica. Os estudos que embasam os próximos dados a respeito do trabalho em infectopediatria foram realizados nos Estados Unidos e na Coreia do Sul.

Segundo esses trabalhos, a força de trabalho em IP tem uma projeção de crescimento mais lento do que a maioria das outras subespecialidades pediátricas, e espera-se que as disparidades geográficas no acesso aos cuidados de IP se agravem entre 2020 e 2040. A distribuição de especialistas em IP é desigual, com a maioria dos profissionais concentrada em áreas urbanas. 

Há uma tendência de declínio no número de médicos residentes (fellows) que ingressam em programas de treinamento em IP. Nos Estados Unidos, o número de indivíduos que iniciaram fellowship em IP diminuiu entre 2008 e 2022. 

Temos que considerar ainda o impacto de Pandemias e Doenças Emergentes. A pandemia de COVID-19 impôs uma alta demanda de trabalho aos infectologistas pediátricos, muitas vezes sem compensação adicional, e o impacto de futuras emergências infecciosas na formação da força de trabalho é incerto. A necessidade de esforços cada vez maiores para combater o negacionismo científico em relação à epidemias e vacinas no cenário de mudanças climáticas, também é um ponto que pode tornar a prática da especialidade mais desgastante. 

Quanto à remuneração, um estudo realizado nos EUA mostra que o potencial de ganho vitalício dos infectologistas pediátricos é menor em comparação com pediatras gerais e especialistas em doenças infecciosas de adultos. Essa disparidade financeira pode influenciar as escolhas de carreira e afetar o preenchimento de vagas de fellowship. O sistema de remuneração médica, que muitas vezes valoriza procedimentos em detrimento da investigação clínica, contribui para essa questão.  

Apesar dessa disparidade, estudo Coreano evidencia alto grau de satisfação profissional dos infectologistas pediátricos, em comparação com os infectologistas gerais, e aponta para a necessidade de remuneração adequada para as atividades dos especialistas pela relevância da especialidade no controle de infecções, uso racional de antibióticos e educação continuada de profissionais generalistas.

O estudo reforça também o papel fundamental da IP no diagnóstico e tratamento de diversas doenças infecciosas em crianças, com importante melhora nos resultados de saúde dos pacientes pediátricos. 

Conclusão 
 

As doenças infecciosas continuam sendo um desafio crítico na pediatria, exigindo expertise especializada para diagnóstico, tratamento e prevenção. O infectologista pediátrico desempenha um papel relevante no manejo de infecções complexas, no controle de surtos e na promoção do uso racional de antimicrobianos, contribuindo significativamente para a saúde infantil.

No entanto, a especialidade enfrenta obstáculos, como a escassez de profissionais, disparidades regionais e questões de remuneração, que podem impactar sua sustentabilidade. A integração entre assistência clínica, pesquisa e políticas públicas é também importante para proteger a saúde das crianças em um cenário epidemiológico em constante evolução.

A intervenção clínica direta de um especialista em doenças infecciosas pediátricas pode levar a uma redução na proporção de proporção de pacientes que recebem tratamento antimicrobiano intravenoso e reduzir o uso de agentes antimicrobianos de amplo espectro. Diante de patógenos emergentes e populações vulneráveis, como crianças imunocomprometidas, investir na formação, valorização e expansão da infectologia pediátrica é indispensável para garantir uma resposta eficaz às ameaças infecciosas atuais e futuras.