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Intoxicação alcoólica em pronto-atendimento: atuação do enfermeiro

Intoxicação alcoólica: conduta terapêutica

A intoxicação aguda, de maneira geral, caracteriza-se pela ingestão de uma ou mais substâncias em quantidades suficientes para interferir nos sistemas de suporte do organismo. 

A conduta terapêutica diante de um quadro suspeito ou confirmado de intoxicação, como em qualquer outra emergência em saúde, requer uma avaliação clínica inicial rápida (com avaliação das funções vitais e da necessidade de suporte) para identificar e corrigir situações de risco iminente de morte. 

As condições de risco de morte devem ser identificadas e tratadas concomitantemente, obedecendo a sequência de prioridades estabelecida pelas diretrizes da American Heart Association 2010, acrescida obrigatoriamente pela etapa E – Exposure (exposição).

Nessa última etapa da avaliação primária, a exposição, o paciente deve ser despido de suas vestimentas para permitir e facilitar a observação de possíveis sinais externos (perfurações, equimoses, escoriações, fraturas, luxações, entre outros). Essa etapa deve ser realizada em local reservado e com equipe mínima, evitando a exposição da imagem do paciente.

Após a avaliação dos sinais e sintomas de intoxicação, é necessário estabelecer a síndrome tóxica e tratar a intoxicação com métodos disponíveis para a descontaminação e para o aumento da eliminação do tóxico absorvido. Uso de antídotos, tratamento sintomático e de suporte, quando indicado, são algumas das alternativas.

Considerações especiais devem ser levadas em conta no atendimento ao paciente, especialmente no momento da alta. É imperativo encaminhar aqueles que apresentam comorbidades, ideação suicida, síndrome de abstinência, uso crônico de drogas/poliusuário, ou que necessitam de cuidados específicos, como os casos envolvendo exposições não tóxicas. Isso inclui situações especiais, como pacientes pediátricos, adolescentes, idosos e gestantes, que requerem uma abordagem cuidadosa e direcionada para garantir sua saúde e bem-estar.

Estágios cínicos da intoxicação alcoólica

Os estágios clínicos de uma intoxicação alcoólica variam de embriaguez leve ao coma, depressão respiratória e, raramente, morte. Portanto, a maioria dos casos de intoxicação aguda pela bebida alcoólica não leva o indivíduo às unidades de urgência. 

Nessas unidades, geralmente são atendidas intoxicações por níveis crescentes de depressão do sistema nervoso central e alterações do comportamento como: agitação; quadros ansiosos e/ou depressivos; agressividade; desorientação; confusão mental e alterações psicomotoras, como fala pastosa, prejuízo no desempenho motor, letargia e ataxia, geralmente associadas a sinais e sintomas clínicos maiores.

A sintomatologia vai depender do nível sérico de álcool e da tolerância do paciente: 

  • 50 a 150 mg/dL - verborragia, reflexos diminuídos, visão borrada, excitação ou depressão mental;
  • 150 a 300 mg/dL - ataxia, confusão mental, hipoglicemia (principalmente em crianças), logorréia;
  • 300 a 500 mg/dL - descoordenção acentuada, torpor, hipotermia, hipoglicemia (convulsões), distúrbios hidroeletrolíticos, com hiponatremia, hipercalcemia, hipomagnesemia, hipofosfatemia e acidose metabólica;
  • > 500 mg/dL - coma e falência respiratória e/ou circulatória podendo levar ao óbito.

A intoxicação aguda é passageira, pois o organismo metaboliza cerca de 0,015mg% de álcool/hora, ou cerca de uma unidade de álcool (10g/hora). Porém, nas unidades de urgência, é atendido um número expressivo de complicações relacionadas ao uso continuo e/ou abusivo, ou à interrupção do álcool em usuários crônicos (síndrome de abstinência).

As doses tóxicas são variáveis, sendo que a velocidade da ingestão, a ingestão prévia de alimentos, o uso concomitante de outras substâncias psicoativas, fatores ambientais e o desenvolvimento de tolerância individual aos efeitos do álcool interferem nessa relação.  

Atenção especial deve ser dedicada aos pacientes que consumiram cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião (no caso de homens) ou quatro ou mais doses (no caso de mulheres). 

Manejo da intoxicação por álcool

O manejo da intoxicação tem como objetivos: 

  • promover para pacientes intensamente intoxicados a diminuição da exposição à estímulos externos, ambiente seguro e monitorado; 
  • averiguar as substâncias utilizadas e a rota de introdução, dosagem, tempo da exposição e se o nível de intoxicação está aumentando ou diminuindo; 
  • remover as substâncias do corpo por descontaminação ou por aumento da taxa de excreção; 
  • reverter os efeitos da substância pela administração de antagonistas, se existentes; 
  • usar abordagens que estabilizem os efeitos físicos da substância objeto da superdosagem e medicamentos para manter a pressão sanguínea em níveis satisfatórios. 

Na maioria dos casos, é necessário apenas assegurar a interrupção da ingestão de álcool pelo indivíduo e proporcionar-lhe um ambiente seguro e livre de estímulos.

Merece atenção o efetivo controle da temperatura corporal de pacientes etilistas, haja vista maior suscetibilidade desses indivíduos à hipotermia, em decorrência da perda de calor corporal causada pelo efeito vasodilatador direto do etanol. Deve-se levar em conta o elevado efeito deletério do álcool ao que concerne à termogênese e à neoglicogênese, o que pode elencar déficit cognitivo.

Em casos em que há evidência clínica-laboratorial de hipoglicemia, deve-se, precedendo a infusão de soro glicosado, aplicar uma ampola de 100mg de Tiamina (B1) IM, pois trata-se de um cofator no metabolismo da glicose. 

É crucial destacar que, ao lidar com um paciente em pronto-atendimento, muitas vezes não se dispõe de uma extensa história clínica relacionada aos seus hábitos de consumo de bebida alcoólica. Nesse contexto, a administração de tiamina assume uma importância significativa, não apenas como uma medida preventiva, mas também como uma estratégia proativa para evitar a ocorrência da Síndrome de Wernicke, especialmente se o paciente já apresenta deficiência de vitamina B1.

 Após a tiamina, recomenda-se a correção rápida com 5 ampolas de glicose a 50% e manter o paciente com soro glicosado a 5%. 

O atendimento inicial nos serviços de urgência pré-hospitalar é marcado pela estabilização das condições vitais do paciente, realizada por meio do suporte à vida. Essa abordagem demanda agilidade e objetividade por parte da equipe de saúde, com ações direcionadas à manutenção da vida e à minimização de possíveis eventos adversos. O foco principal está na intervenção imediata e eficaz, visando preservar a função vital do paciente. 

Esses serviços priorizam uma sequência lógica durante a assistência, seguindo os protocolos específicos de atenção à saúde e orientando-se pelos padrões mínimos de assistência. O objetivo é garantir a eficácia da conduta adotada pelos profissionais de saúde.

Cuidados de enfermagem

  • Efeitos neurológicos (depressão do SNC em vários níveis, isoladas ou associadas a outros sinais e sintomas clínicos): avaliar nível de consciência, através da escala de avaliação padronizada na unidade de saúde. Manter paciente em observação clínica por no mínimo 6 horas, para monitoramento de sinais avançados de depressão do SNC. Manter vigilância cuidadosa do paciente e verificação dos sinais vitais de acordo com a gravidade do caso até a melhora clínica do paciente.
  • Risco de queda/trauma, depressão respiratória e risco de broncoaspiração: manter leito/maca com grades elevadas ou colocar paciente para repousar em maca próxima ao piso ou colchão no piso, quando possível. Manter cabeceira elevada a 45°. Instituir medidas de proteção de vias aéreas, se indicado.
  • Efeitos hidroeletrolíticos por vômitos, diarreia ou sudorese profusa. Risco de desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos e de convulsão: observar turgor de pele diminuído, hipotermia, taquicardia, taquipneia, mucosas secas e hipocoradas. Controlar diurese. Monitorar balanço hídrico. Puncionar veia(s) periférica(s) e manter acesso venoso seguro permeável.
  • Efeitos gastrintestinais: irritação gástrica, náusea e vômito. Risco de aspiração de conteúdo gástrico.
  • Risco de infecção pulmonar: posicionar o paciente em decúbito lateral, se não houver contraindicação (traumas), para evitar a aspiração de secreções. Realizar procedimentos terapêuticos indicados.
  • Alteração da temperatura corpórea (sensação de calor e aumento da transpiração e consequente hipotermia): verificar sinais vitais rigorosamente, com ênfase na temperatura corpórea. Manter o paciente aquecido (cobertor).
  • Alterações nos resultados de exames complementares: acompanhar resultados de exames, padrões para glicemia, acidose respiratória e/ou metabólica e dosagens toxicológicas.
  • Orientação para a alta hospitalar da unidade de urgência: abordar o paciente de forma adequada, evitando comentários estigmatizantes. Oferecer ambiente adequado para o atendimento. Orientar paciente e família quanto à necessidade de participação de programas de reabilitação e grupos de apoio na alta hospitalar.

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