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Reabilitação neurofuncional em pediatria: abordagens e objetivos da fisioterapia

A reabilitação neurofuncional pediátrica é um campo que tem como objetivo restaurar ou melhorar as habilidades motoras e cognitivas de crianças com distúrbios neurológicos. Estes distúrbios podem ser congênitos ou adquiridos em função de traumas/lesões.

A implementação da reabilitação neurofuncional envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, neurologistas, psicólogos e demais profissionais. As ações visam melhorar a qualidade de vida, promover maior independência funcional e possibilitar a inclusão social das crianças acometidas por disfunções neurológicas.

O processo de reabilitação reside em seu impacto profundo no desenvolvimento infantil. Crianças em fases críticas de desenvolvimento neurológico têm uma plasticidade cerebral maior, o que significa que intervenções precoces podem levar a melhorias significativas na função motora e cognitiva. Além disso, a reabilitação pode reduzir complicações secundárias, como contraturas musculares e deformidades ósseas, que podem surgir devido à imobilidade, desequilíbrio ou ativação muscular inadequada.

No entanto, são vários os desafios que existem na implementação eficaz da reabilitação neurofuncional pediátrica. Primeiramente, a escassez de profissionais especializados e centros de reabilitação adequadamente equipados, especialmente em regiões menos desenvolvidas. Além disso, os custos associados aos programas de reabilitação podem limitar o acesso de muitas famílias.

A falta de conscientização e educação sobre a importância da reabilitação precoce também contribui para a subutilização dos serviços disponíveis. A adesão ao tratamento também pode ser um desafio, pois requer um compromisso significativo de tempo e esforço por parte das crianças e suas famílias. Superar essas barreiras é crucial para garantir que todas as crianças com disfunções neuro funcionais tenham acesso a intervenções que possam maximizar seu potencial de desenvolvimento e integração social.

Avaliação e planejamento terapêutico

Um dos pilares fundamentais na reabilitação neurofuncional de crianças e adolescentes é a atuação de uma equipe multiprofissional, que trabalha em conjunto para estabelecer objetivos e metas claras. Esse processo inclui uma avaliação inicial baseada em raciocínio clínico, a escolha de intervenções terapêuticas apropriadas e a realização de reavaliações periódicas. Essas reavaliações são essenciais para ajustar e otimizar as estratégias terapêuticas, garantindo que os objetivos estabelecidos sejam alcançados de forma eficaz.

A funcionalidade do paciente deverá ser formada a partir dos aspectos anatofisiológicos associados aos fatores pessoais e ambientais, conforme a
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(CIF) orienta.

Atualmente, a iniciativa Stepping Up to Rethink the Future of Rehabilitation (STEP) busca definir direções futuras na educação, pesquisa e prática da fisioterapia. Seu objetivo é disseminar as melhores evidências disponíveis para o tratamento de indivíduos com condições neurológicas ao longo da vida. Esse comitê identificou, através do acrônimo 4Ps (predição, prevenção, plasticidade e participação), a base para a prática de reabilitação dessa população nos próximos anos. Essa abordagem reflete o aumento significativo de evidências nessas quatro dimensões, que têm um potencial impacto na área. Além disso, cada "P" é dividido em três estágios: personalização, intervenção e desfechos/resultados.

No estágio 1, o planejamento da intervenção deve ser personalizado para cada tipo de paciente e condição, com o estabelecimento de metas claras. Esse planejamento pode utilizar dados de neuroimagem, genéticos e de funcionalidade.

O estágio 2 envolve a organização da intervenção, incluindo a atuação multiprofissional, a escolha das modalidades terapêuticas, a autogestão e a promoção da saúde.

O estágio 3 trata da reavaliação, focando na manutenção e revisão dos objetivos não alcançados. Nesse estágio, a prioridade deve ser a manutenção das habilidades motoras, a saúde geral e a prevenção de possíveis deficiências.

Objetivos da reabilitação neurofuncional

A fisioterapia neurofuncional, tanto para adultos quanto para crianças, é estruturada com base no funcionamento do sistema nervoso central e periférico. Ela é aplicada nas áreas de prevenção, promoção e recuperação das funções sensório-motoras, visando otimizar a capacidade funcional dos pacientes.

A fisioterapia neurofuncional também tem como objetivo organizar os gestos e melhorar a qualidade dos movimentos e da marcha, visando ganhos ou manutenção dessas capacidades. Isso contribui para aprimorar a capacidade, o desempenho e a participação nas atividades diárias. Essa área da fisioterapia busca promover ao máximo a independência e a autonomia dos pacientes, utilizando técnicas e métodos embasados na literatura, abrangendo desde conceitos tradicionais até a translação de conhecimento entre diferentes áreas com potencial terapêutico.

Esse conhecimento visa integrar o participante aos aspectos sociais, afetivos, cognitivos e motores. A abordagem busca melhorar a participação nas atividades diárias, conforme orientado pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), aprimorando a interação do paciente com o ambiente e trazendo reflexos positivos na qualidade de vida.

Abordagens da reabilitação neurofuncional

Dentro da fisioterapia neurofuncional, a abordagem mais tradicional é a
cinesioterapia convencional
. Essa técnica foi uma das primeiras a ser desenvolvida e serviu como base para o entendimento e desenvolvimento de outras metodologias.

São exercícios que usam o movimento para a melhora da função motora, força muscular, aumento da resistência/coordenação/flexibilidade. Usa o raciocínio anatofisiológico adaptados para a condição individual do sujeito. Algumas técnicas utilizam o conceito da cinesioterapia, como a intervenção ou estimulação precoce.

Em recém-nascidos (pré-termo e a termo) e lactentes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a
estimulação sensório-motora (ESM)
é uma estratégia de intervenção precoce que inclui uma série de abordagens para melhorar o desenvolvimento neuropsicomotor. Essa intervenção utiliza estímulos sensoriais e leva em consideração fatores como o nível de desenvolvimento funcional, a idade gestacional ao nascer e o peso do bebê.

O objetivo primário da ESM é organizar os sistemas do corpo humano, como os sistemas tátil, cinestésico, vestibular, olfatório, gustativo, auditivo e visual, ou uma combinação deles. Essa intervenção tem início ainda na UTI.

Outro recurso é a
Terapia de Neurônios Espelho
, que utiliza um espelho para fornecer feedback visual ao membro parético, simulando a realização de movimentos normais através da imagem do movimento do membro não parético. Embora a maioria dos estudos sobre essa técnica seja realizada em populações adultas, é um recurso que o fisioterapeuta pode inserir no contexto do paciente pediátrico.

Outra alternativa é
Terapia por Contensão Induzida
. Ela é conduzida em etapas: envolve a realização de tarefas orientadas, a restrição do membro superior menos afetado em 90% das atividades diárias e a aplicação de uma sistemática comportamental para a execução das atividades pelo paciente. Em crianças, o uso dessa terapia ainda é controverso, pois a criança pode não ter experiência com os movimentos típicos.

A
abordagem voltada para objetivos
(goal-directed task) requer uma organização complexa, com um maior envolvimento de neurônios direcionados para a realização de tarefas específicas alinhadas a um objetivo funcional. A realização de movimentos simétricos ou assimétricos bilaterais (coordenação bimanual) diz respeito a utilização de ambos os membros em atividades que simulem o dia a dia do paciente, como, por exemplo, bater palmas ou o ato de servir um copo de água, em que uma mão estabiliza o copo e a outra mão serve a bebida.

Existem terapias que utilizam a intensidade de estímulo para promover maiores ganhos e adaptações, como a T
erapia Neuromotora Intensiva, PenguimSuit®, AdeliSuit®, PediaSuit® e TheraSuit®
. Essas terapias são consideradas intensivas quando o ritmo de treinamento é de 2 a 4 horas por dia, por até 5 dias por semana, intercalados com longos períodos de descanso ou terapia convencional. No entanto, essas abordagens têm um alto custo, exigem dedicação exclusiva e o uso dos trajes pode ser desconfortável para os pacientes.

Para crianças com alterações na marcha, o
Treino de Marcha com Suporte Parcial de Peso
pode ser uma estratégia, uma vez que a técnica facilita os ajustes corporais e garante maior segurança para a realização da tarefa.

O
Conceito Neuroevolutivo/Bobath
é uma das abordagens mais antigas e amplamente utilizadas na fisioterapia neurofuncional. Ele estimula o sistema nervoso a se reprogramar através de experiências de movimento facilitadas pelo fisioterapeuta, promovendo a aquisição de habilidades funcionais.

Técnicas como a equoterapia, que utiliza o cavalo, oferecem estímulos sensoriais potencializados pelo contato com o animal. O movimento tridimensional do galope do cavalo atua como um movimento cinesioterapêutico, ampliando o repertório motor e beneficiando também os aspectos emocionais, cognitivos e sociais do paciente.

A terapia com videogames, conhecida como gameterapia ou Terapia por Realidade Virtual (TRV), é uma forma de treinamento funcional e terapêutico que apresenta uma abordagem motivacional. Estudos mostram que a TRV tem efeitos comprovados sobre a marcha, o equilíbrio, o treino de força e a aquisição de habilidades motoras em crianças com paralisia cerebral (PC). Os resultados são superiores aos obtidos com o treino de marcha na esteira sem realidade virtual, evidenciando a estimulação da neuroplasticidade em imagens neurológicas funcionais.

De forma geral, técnicas mais tradicionais apresentam um maior volume de informações na literatura. A escolha e o uso dessas informações devem considerar o tipo de paciente, o grau de disfunção, a experiência do profissional e os desejos do paciente.

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