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Terapia Familiar Sistêmica: o que é, objetivos e aplicação

O que é Terapia Familiar Sistêmica?
 

 A Terapia Familiar Sistêmica (TFS) é uma abordagem terapêutica, que evolui há mais de setenta anos com constantes avanços técnicos e teóricos. Constitui-se em uma técnica de trabalho psicoterápico com as famílias e um campo teórico, que estuda as relações. (Linares, 2012). 

A Terapia Familiar nasce a partir da ideia de que, se reunirmos os membros da família, aqueles que vivenciam e compartilham a vida, iremos provocar que múltiplos olhares, diferentes modos de ver as situações, sejam convidados a vir à tona. A prática da conversa, as perguntas do terapeuta, auxiliam a reflexão e incentivam a família a encontrar suas próprias respostas.  

Reconhece que os problemas de comunicação e da dinâmica familiar afetam os relacionamentos entre todos os membros da família. A Terapia Familiar se propõe a trabalhar os problemas que ocorrem em diferentes etapas do desenvolvimento da vida em família, como as dificuldades em lidar com a educação dos filhos, nas situações onde a estrutura familiar sofreu modificações, como no caso de separações, morte de algum membro da família, para dar alguns exemplos, entre tantos. 

Bases teóricas
 

A Terapia Familiar Sistêmica nasce a partir da influência da Teoria Geral dos Sistemas, da Teoria da Cibernética e da Teoria da Comunicação Humana. Abrange na sua concepção de família diferentes configurações familiares, estuda seu ciclo evolutivo e diferentes crises vivenciadas. O olhar terapêutico traz para a sessão familiar, também, a reflexão sobre os aspectos culturais e sociais vivenciados pela família (Boscolo & Bertrando, 2001). 

A Teoria Geral dos Sistemas contribui com o olhar para a família, concebendo-a como um sistema. Adota, portanto, uma visão não linear de causalidade dos fenômenos ou problemas que ocorrem dentro dela. Na família também identificamos seus subsistemas, por exemplo, o parental, o fraterno, o intergeracional, o individual etc. Esses subsistemas se organizam e se comunicam entre si de modo particular, fazendo interações, também, com os sistemas externos à família, seu ambiente social e cultural, como a escola, o trabalho, o bairro, a cidade.  

A partir da Teoria Geral dos Sistemas sabemos que, se conhecermos apenas um subsistema, como o individual, por exemplo, não conseguimos caracterizar o sistema como um todo e todas as suas dinâmicas relacionais e comunicacionais, na sua complexidade. Outros conceitos sistêmicos, como a circularidade e a retroatividade, nos possibilitam abranger a visão do quanto as funções familiares, como a de garantir o crescimento e bem-estar afetivo dos seus membros, são impactados pelas mudanças sociais assim como, também, impactam os meios sociais que participam.  

Também, identificamos a influência da Cibernética na Terapia de Família. Alguns conceitos trazem entendimento da dinâmica familiar e se configuram em recursos para abordagem terapêutica. Um exemplo seriam os conceitos sobre mudança e equilíbrio, tão importantes na Terapia Familiar Sistêmica, onde se busca trabalhar para que a família reflita sobre encontrar formas de solucionar conflitos, trazendo mudanças nas suas dinâmicas, melhorando a comunicação e atingindo um novo equilíbrio. 

Como uma terceira influência teórica podemos citar a Teoria da Comunicação Humana. E, desta forma, vale destacar, que o principal objetivo da Terapia de Família é o de abordar a comunicação de forma que os membros da família trabalhem coletivamente na resolução de seus conflitos. Diversas técnicas comunicacionais são utilizadas em sessão e espera-se que no final do processo terapêutico a família possa ter desenvolvido novas habilidades de comunicação, com repertórios mais eficazes. 

É interessante citar que na década de 1960 a coterapia, estratégia que usa dois terapeutas nos atendimentos familiares, surge também com a perspectiva de incrementar o aspecto da comunicação no próprio sistema terapêutico. A partir do reconhecimento, que diante da complexidade das relações familiares, a presença de dois terapeutas, pode auxiliar na leitura do contexto familiar com maior possiblidade de se compreender, por exemplo, a linguagem verbal e não verbal da família.

Esse recurso também hoje em dia é utilizado nas várias escolas de formação de terapeutas de família como um método pedagógico trazendo, para o aluno e para a sessão, múltiplos olhares e perspectivas do que corre na família, enriquecendo as dinâmicas que ocorrem durante a terapia. (Andersen, T. 1996). 

Diversos pioneiros como Virginia Satir (2000), Minuchin (1982), Boscolo & Bertrando (2012), Michael White (2021), Andolfi &Angelo (1989) foram criadores de distintos modelos e teorias, que ainda hoje são estudadas e influenciam as novas abordagens. Com o passar dos anos observa-se que a Terapia Familiar Sistêmica se mostra mais sensível a aspectos da importância do contexto social e cultural e da diversidade de gênero, refletindo as mudanças da sociedade. (Nichols e  Schwartz,  1998) 

Há uma crescente ênfase na interseccionalidade, reconhecendo que múltiplas identidades (etnia, classe, gênero, orientação sexual) influenciam a dinâmica familiar. Os terapeutas são incentivados a explorar como essas identidades interagem no contexto familiar. Aspectos que desafiam os terapeutas a sempre considerar as influências externas nas vivencias familiares, levando em conta que, questões de identidade e senso de pertencimento, podem ser vivenciados com pressões sociais que impactam as dinâmicas relacionais da família. (Melo&Barzano,2020). 

Indicações da Terapia Familiar Sistêmica 
 

A Terapia de Família é indicada em várias situações em que a dinâmica familiar é o foco da atenção por estar afetando o desenvolvimento dos indivíduos e a qualidade do relacionamento entre eles, Boscolo & Bertrando (2012). 

De forma sucinta podemos citar: 

  1. Quando os conflitos familiares são tão evidentes e constantes, apresentando o aumento da tensão e escalonamento nas discussões. 
  2. Quando ocorrem mudanças significativas na família, como divórcios, morte de um membro da família, nascimento, afetando o funcionamento do sistema familiar como um todo. 
  3. Quando há problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, dependência e abuso de substância, transtorno alimentar, a terapia de família trabalha as dinâmicas familiares associadas. 
  4. Quando existem questões de conflitos ligados à educação dos filhos, a terapia de família pode favorecer o diálogo parental melhorando a cooperação e a participação na busca de soluções. 
  5. Quando existem questões relacionadas a identidade ou orientação sexual, a terapia de família pode oportunizar um ambiente seguro, que ajude a restaurar o diálogo, promovendo a comunicação, o respeito e o entendimento entre os familiares. 

Todos são fenômenos que merecem uma abordagem, visando o incremento da comunicação para que os problemas possam ser enfrentados pelo grupo familiar, em conjunto.   

Contraindicações da Terapia Familiar Sistêmica 
 

Em algumas circunstâncias o terapeuta pode avaliar a necessidade de outra abordagem terapêutica, configurando-se assim algumas contraindicações da TFS
 

  1. Abuso físico ou emocional. É importante se constatar e refletir sobre a terapia ser ou não um local seguro para a vítima. Nestes casos o suporte individual pode ser a prioridade dentro de uma terapia individual.  
  2. Quando os membros da família não estão disponíveis emocionalmente para a participação na terapia e, portanto, não estão abertos para o diálogo no grupo.  
  3. Problemas individuais agudos podem exigir que a terapia individual ocorra concomitante à terapia de família, e com a condução sendo realiza por dois terapeutas diferentes, que passam a trabalhar em cooperação. 
  4. Conflitos, que são específicos da dinâmica do casal, como falta de comunicação, infidelidade ou questões de intimidade, são algumas das situações que indicamos a terapia de casal e não a terapia de família. 

É importante que o profissional qualificado avalie a situação da família e eleja a melhor condução teórica e técnica para cada realidade. 

Considerações finais
 

A Terapia Familiar Sistêmica é uma abordagem psicoterápica, que visa proporcionar um espaço seguro para que as famílias trabalhem suas questões, permitindo que todos os participantes se sintam ouvidos e valorizados.

A teoria sistêmica contribuiu para uma compreensão mais profunda dos sistemas familiares, vistos como essencialmente dinâmicos e em constante mudança, o que possibilitou o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais efetivas e integradas com o desenvolvimento da própria sociedade. 

Podemos afirmar que a Terapia Familiar Sistêmica se encontra em constante evolução, colaborando para transformar a dinâmica de tantas relações familiares, promovendo a resiliência e a mudança nos olhares que as pessoas têm sobre si mesmas e sobre seus contextos. Fica o convite para que mais profissionais possam se aproximar e se aperfeiçoar nesta abordagem terapêutica.   

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Como citar este e-book: Wilke, M. E. V. M., Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (Set., 2024).
Terapia Familiar Sistêmica: O que é, objetivos e aplicação
. Artmed.

Autoras

  • Maria Eliza Vernet Machado Wilke
     

Psicóloga e Mestra em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista em Terapia Sistêmica pelo Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (CEFIPOA). Coordenadora de Ensino e Supervisora Clínica no Curso de Pós-Graduação em Terapia Sistêmica do CEFIPOA. Professora do Curso de Psicologia da FACEFI (Faculdade do CEFI). Contato: mariaeliza@cefipoa.com.br 

  • Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo
     

Psicóloga e Mestra em Psicologia (área de concentração Cognição Humana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutoranda em Psicologia em Saúde e Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), com bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e com Formação em Terapia do Esquema. Pesquisadora e Supervisora no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP da Universidade de São Paulo (USP).