Nos últimos anos uma nova perspectiva de tratamento vem ganhando força entre os terapeutas. Trata-se da psicologia positiva, abordagem que trabalha as virtudes do paciente e relega os problemas a coadjuvantes no caminho para a retomada da felicidade.

Ainda em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que, até 2020, a depressão seria a doença mais incapacitante do mundo. Não é incomum que ansiedade esteja associada a depressão, evidenciando a relevância da saúde mental no contexto global. Diante desse fenômeno, a psicoterapia positiva vem trazendo resultados significativos ao progresso dos pacientes.

A terceira onda da psicologia, que teve início junto à virada dos anos 2000, trouxe uma série de inovações no tratamento de transtornos mentais. Se antes os eventos traumáticos eram explorados à exaustão, até que o paciente os superasse, a popularização das terapias cognitivo-comportamentais (TCC) permitiu instrumentalizar o paciente de modo a superá-los aos primeiros sinais de estresse. Assim, diante de um conflito, o indivíduo consegue identificar o problema e acionar comportamentos adequados para o enfrentamento de cada situação.

A psicologia positiva é mais um dos movimentos que ascenderam nesse cenário. E sua abordagem procura ir além: em vez de focar no problema, elas se apegam ao potencial do paciente.

“A prática foca nas forças e virtudes da pessoa para atingir sintomas de bem-estar mental. A ideia é aumentar as forças e virtudes em todos os aspectos da vida, como no trabalho e nas relações”, explica Marco Callegaro, psicólogo responsável pela revisão técnica do livro Psicoterapia positiva: manual do terapeuta. Ele também é coordenador do curso digital Terapias Cognitivas, que serve para ampliar a área de atuação dos profissionais da área e atualizá-los quanto às condutas psicoterápicas mais relevantes.

Psicologia positiva na prática

Condições como depressão e ansiedade estão entre os transtornos mentais passíveis de abordagem pela psicologia positiva. A sessão começa identificando as forças do indivíduo. Uma das estratégias, aqui, é o uso de questionários próprios da prática.

No entanto, não é apenas o paciente que responde às questões: um familiar e uma pessoa próxima (como amigo ou colega) também fornece informações a respeito do paciente. “Isso possibilita o cruzamento das informações e a identificação da força de assinatura da pessoa, ou seja, aquela que a define. A ideia então é usá-la a seu favor na terapia”, afirma Callegaro.

Em geral, o profissional clínico em terapia positiva é um psicólogo ou psiquiatra com formação clássica. Como em qualquer sessão de terapia, cabe ao profissional reconhecer o espectro da psicopatologia, determinando um diagnóstico.

Para dar continuidades às sessões, o clínico precisa seguir uma série de orientações e diretrizes que definem a prática da psicoterapia positiva. “Trabalhamos com estratégias. Em uma sessão lidamos com as memórias fechadas, ou seja, aquelas bem-resolvidas e que não influenciam na vida. Em outra, trazemos as lembranças abertas, que remontam eventos traumáticos e que desencadeiam transtornos”, descreve Callegaro.

Segundo o psicólogo, lembranças negativas são usadas apenas para determinar o nível de influência sobre a vida do paciente. Portanto, a psicoterapia limitará tais memórias sem destacá-las durante o tratamento.

Assim, uma das forças comumente trabalhadas é a do perdão. “É preciso atentar para questões éticas delicadas quando se trata do perdão. É importante avaliar a transgressão cometida, pois ela não pode ter continuado nem estar ativa, como em casos de abusos”, define o profissional. Nesse sentido, a psicoterapia positiva incentiva o paciente a não cultivar sentimento vingança, que pode sugar a energia mental da pessoa.

TCC e psicoterapia positiva

As terapias cognitivo-comportamentais exercem forte influência na psicoterapia positiva. Isso porque as TCCs possibilitaram aos clínicos o desenvolvimento de novas práticas, que variam de acordo com o contexto de cada paciente. Foi assim que protocolos como terapia do espelho, terapia processual e terapia do esquema foram desenvolvidos para tratar determinados transtornos com maior assertividade. A psicoterapia positiva parte dessa dinâmica de adaptação para propor sua própria abordagem.

“Nos livros mais atualizados da TCC há um consenso sobre a necessidade de os terapeutas conhecerem a psicoterapia positiva, já que ela revela o mapa das virtudes do paciente. No fim, elas se complementam de maneira colaborativa, já que ambas têm foco no bem-estar.”

Se o objetivo é se manter sempre em dia nessa área, existem alternativas como a Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental (PROCOGNITIVA) desenvolvida pela FBTC. Os conteúdos abordam os temas mais recentes da psicologia, produzidos por nomes conceituados.

Tanto psicólogos quanto psiquiatras podem utilizá-la em seus tratamentos. Para atuar na área, no entanto, é necessário que o profissional passe por cursos e treinamentos específicos, mantendo-se atualizado através de cursos de educação continuada e programas de atualização, além de participar de eventos que abordem a temática.

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Terceira onda da psicologia: novas abordagens junto à terapia cognitivo-comportamental

Psicologia positiva: como as virtudes do paciente podem se sobrepor aos transtornos mentais