Administração de quimioterápicos: protocolos pela enfermagem
O câncer é definido como um conjunto de doenças cuja característica é o crescimento desordenado das células, que podem se disseminar pelos tecidos adjacentes e outros órgãos. Apresenta relevância epidemiológica por seu alto impacto social e econômico, devido ao grande número de tratamentos ambulatoriais, altas taxas de internações hospitalares e elevado uso de recursos públicos para custear os tratamentos. Sua incidência é crescente em face de envelhecimento populacional, aumento de exposição a fatores cancerígenos e as inovações tecnológicas para o diagnóstico.
Nos diversos cenários de cuidados, os pacientes oncológicos são submetidos a tratamentos, sendo uma das terapêuticas mais utilizadas a administração de quimioterápico antineoplásico endovenoso, que pode ser classificada como: neoadjuvante, adjuvante e paliativa, considerando o momento em que se inicia e a sua finalidade. A administração de quimioterápico antineoplásico endovenoso pode ser realizada isolada ou combinada com radioterapia e/ou cirurgia.
A administração dos quimioterápicos segue protocolos clínicos internacionais que ditam quais as drogas, dosagens, via de administração, tempo de infusão e intervalos a serem empregados por patologia, faixa etária, fases do tratamento e status da doença de base. Logo, observa-se que existe uma padronização no tratamento oncológico, permitindo que seja aplicado independente do local que o paciente se encontra.
É de competência privativa do enfermeiro administrar quimioterápico antineoplásico, conforme farmacocinética da droga e protocolo terapêutico. Portanto, é imprescindível que este desenvolva conhecimentos técnico-científicos em todos os tópicos no que tange os quimioterápicos.
Protocolo padrão para administração do quimioterápico antineoplásico
O processo de administração do quimioterápico antineoplásico constituiu-se das etapas de prescrição, preparo, dispensação e administração. Qualquer falha pode implicar danos psicológicos, sociais, diminuição da eficácia e até mesmo óbito. Devido à especificidade do quimioterápico antineoplásico, sua ação nas células, efeitos colaterais e riscos ao paciente, a administração do quimioterápico antineoplásico é privativa do enfermeiro. Segue-se, essencialmente, esta ordem:
- recepcionar os pacientes agendados;
- aferir e registrar sinais vitais;
- realizar punção de acesso venoso periférico, quando necessário, ou ativar cateteres semi ou totalmente implantados;
- administrar as medicações pré-quimioterápicas (evitam possíveis reações de curto prazo como enjoo, vômito e etc);
- conferir o paciente e o esquema quimioterápico e administrar conforme prescrição;
- avaliar sinais vitais e registrar;
- avaliar quaisquer respostas orgânicas e suas manifestações clínicas face às reações adversas e registrar;
- retirar/desativar acesso;
- evoluir todo o processo.
A quimioterapia antineoplásica atua no processo de divisão e crescimento celular. Devido a sua especificidade e risco, é preciso conhecimento científico para compreender sua ação, as possíveis reações adversas imediatas ou tardias, os cuidados específicos para administração dos medicamentos, os efeitos colaterais para orientações específicas ao paciente e seus familiares. Para isso, é fundamental enfermeiros preparados para ofertar uma assistência de qualidade, com menos riscos ao paciente, aos profissionais e à instituição.
Além dos impactos psicológicos, sociais, biológicos e espirituais causados pelo câncer, o próprio tratamento pode ocasionar efeitos adversos como náuseas, vômitos, mal-estar, alopecia, diarreia, obstipação, mucosite, neutropenia febril, fadiga, comprometimento de atividades de vida diária, que fragilizam ainda mais o paciente. Nesta perspectiva, faz-se necessário o estabelecimento de uma relação de confiança entre o profissional e o paciente, de modo a facilitar que este expresse seus sentimentos, emoções, desejos e medos.
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Segurança do paciente e prevenção de erros
Erros de medicação e administração de medicação insegura estão entre os tipos de falhas com alto índice de incidência de danos evitáveis em sistemas de saúde, acarretando elevados custos em todo o mundo anualmente, levando a graves danos e podendo acarretar até em morte. Considerando o risco elevado de danos que podem ocorrer por erros potenciais associados à administração de quimioterapia antineoplásica intravenosa, é fundamental que sejam utilizadas ferramentas para que a administração seja segura.
A padronização de processos e a respectiva institucionalização de procedimentos operacionais padrão contribuem para prevenir erros, mediante definições claras sobre os processos de prescrição médica, revisão farmacêutica, preparo, dispensação, administração, monitoramento da terapia antineoplásica, assim como sobre a responsabilidade da equipe em cada processo. O uso de checklist é recomendado.
Os protocolos de tratamento devem ser atualizados e baseados em evidências, escritos de forma clara e inequívoca, com:
- nome do protocolo;
- estágio do tumor para que se destina;
- medicamentos a serem administrados;
- via de administração de cada medicamento;
- ordem de infusão de cada medicamento;
- método de cálculo da dose;
- diluente e volume;
- tempo de administração;
- intervalos de tempo;
- exames laboratoriais necessários para monitorar toxicidade;
- ajuste de dose para cada agente, de acordo com resultado dos exames laboratoriais e efeitos adversos;
- reações adversas esperadas;
- uso de medicamentos sintomático;
- entre outras informações pertinentes ao paciente e seu tratamento.
Uma das principais medidas para a efetividade de boas práticas de infusão de quimioterápicos antineoplásicos é a implementação da cultura de segurança organizacional. Estabelecê-la requer investimentos em programas de capacitação contínua, revisão de processos organizacionais e análise de causas que impeçam os profissionais de seguir as diretrizes de segurança e políticas internas de cada instituição, com vista à implementação de oportunidades de melhoria.
A capacitação deve ser uma prática realizada no momento de contratação, mas também contínua, periódica, atualizada e abrangente a todas as categorias de colaboradores envolvidos no processo de infusão de quimioterápicos, desde sua prescrição, dispensação, preparo, administração, descarte, coleta de resíduos, limpeza, entre outros processos de trabalho que possam tem contato com esses medicamentos. A instituição deve fornecer capacitações periódicas para minimizar riscos aos colaboradores e pacientes.
Visto isso, as instituições hospitalares que operam com medicamentos de alta vigilância, como os quimioterápicos antineoplásicos, exigem gerenciamento rigoroso e padronização do processo de medicação.
As práticas de segurança do paciente devem ser continuamente monitoradas pelo enfermeiro. Para isso, é fundamental conhecer os processos envolvidos, o que permite identificar falhas e propor a implementação de barreiras de segurança, contribuindo para a prevenção e a redução de danos aos pacientes.
O mapeamento de processos é uma ferramenta essencial nesse contexto, pois facilita a compreensão detalhada dos macro e microprocessos, define seus relacionamentos, e estabelece quem realiza cada atividade e quando. Além disso, oferece uma visão clara dos objetivos de cada etapa, auxiliando na melhoria da eficiência e segurança.
Na administração de quimioterápicos antineoplásicos, o papel do enfermeiro se destaca, especialmente na gestão do cuidado e dos riscos. Sua atuação é crucial na vigilância de efeitos adversos e intercorrências durante e após a infusão, garantindo a segurança do paciente e promovendo a educação em saúde.
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