O MAIOR ECOSSISTEMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO BRASIL

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Atenção à pessoa em cuidados paliativos

Os cuidados paliativos são, em sua definição mais recente e atual, uma abordagem de cuidados de saúde que se concentram no alívio do sofrimento e na melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves e seus cuidadores (Radbruch et al., 2020; Organização Mundial da Saúde, 2023; International Association for Hospital and Paliative Care [IAHPC], 2022). 

São cuidados aplicáveis em todos os estágios da doença, desde o diagnóstico até o fim da vida, com os objetivos de prevenir, aliviar e tratar sintomas angustiantes, incluindo dor física e psicológica, bem como atender às necessidades espirituais, sociais e emocionais das pessoas que os requerem. 

Os cuidados paliativos buscam apoiar também as famílias e cuidadores dos pacientes durante a doença e o luto, respeitando os valores culturais e crenças do paciente e sua família. Não visam acelerar nem atrasar a morte, mas sim 
afirmar
 a vida e 
reconhecer a morte como um processo natural
 (Radbruch et al., 2020).

Princípios dos cuidados paliativos

O principal objetivo dos cuidados paliativos é a garantia da melhor qualidade de vida frente aos problemas relacionados a condições clínicas ameaçadoras à vida. 

Trata-se, portanto, de uma abordagem que visa a trazer qualidade de vida em situações de adoecimento que não tenham perspectiva curativa, tanto aos pacientes quanto aos seus familiares, através da prevenção e do alívio do sofrimento (Issa et al., 2016). 

Os cuidados paliativos podem ser aplicáveis precocemente no curso da doença, em conjunto com outras terapias que objetivam prolongar a vida. 

Segundo Paim & Oliveira Filho (2022), seus princípios básicos são:

  • reafirmação da vida e compreensão da morte como um processo natural;
  • respeito à dignidade do paciente e de seus cuidadores;
  • sensibilidade para respeitar os desejos de pacientes e familiares;
  • promover intervenções consistentes com as escolhas do paciente;
  • priorizar o alívio da dor e de outros sintomas físicos;
  • atentar para e manejar problemas psicológicos, sociais e espirituais/religiosos;
  • oferecer continuidade — a pessoa deve continuar a ser cuidada, se assim o desejar, pelos profissionais de saúde e especialistas que lhe acompanham;
  • fornecer acesso a qualquer terapia que possa, realisticamente, melhorar a qualidade de vida do paciente, incluindo tratamentos alternativos ou considerados não tradicionais;
  • promover acesso a leito para cuidados paliativos;
  • respeitar o direito de recusar tratamento;
  • respeitar a responsabilidade profissional do médico e descontinuar alguns tratamentos quando apropriado, considerando as preferências do paciente e da família;
  • utilizar e contribuir com a medicina baseada em evidências voltada aos cuidados de final de vida.

A avaliação da pessoa em cuidados paliativos deve ser ampla e integral. Dessa forma, deve considerar fatores como suas preferências e dificuldades; a cronologia da evolução de sua doença; os tratamentos já realizados e as respostas aos mesmos; suas necessidades atuais; a percepção dos sintomas existentes; os achados do exame físico; os medicamentos utilizados; as prioridades clínicas; a evolução e o prognóstico; e as suas expectativas com relação ao tratamento proposto (Issa et al., 2016).

Evidências científicas dos cuidados paliativos

Estudos de metanálise e revisão sistemática têm demonstrado evidências sobre a eficácia dos cuidados paliativos, em desfechos como qualidade de vida, em pessoas que enfrentam o câncer (Hoerger et al., 2019; Kassianos et al., 2018; Fulton et al., 2019). 

Hoeger et al. (2019), em um recente artigo de metanálise, que abrangeu cinco estudos de alta qualidade sobre cuidados paliativos ambulatoriais especializados em câncer, identificaram que os cuidados paliativos foram associados a um aumento absoluto de 14,1% na sobrevida em um ano. Além disso, foi constatado que os cuidados paliativos especializados ambulatoriais melhoraram a qualidade de vida dos pacientes com câncer avançado. 

Com resultados na mesma direção, outras revisões sistemáticas têm apontado que os cuidados paliativos especializados têm um impacto positivo na qualidade de vida relacionada à saúde de pacientes com câncer avançado/metastático (Kassianos et al., 2018), e efeitos positivos na qualidade de vida de curto prazo, na carga de sintomas e na sobrevivência à doença (Fulton et al., 2019).

Em recente revisão sistemática e metanálise, Quinn e colaboradores (2020) objetivaram verificar a associação entre cuidados paliativos e uso de cuidados de saúde agudos, qualidade de vida e sobrecarga de sintomas em adultos com doenças crônicas não relacionadas ao câncer. 

Foi verificado, através de uma amostra de 28 ensaios clínicos randomizados, envolvendo 13.664 pacientes com doenças crônicas não relacionadas ao câncer, que as intervenções de cuidados paliativos foram associadas a taxas mais baixas de uso de cuidados de saúde agudos e a uma carga de sintomas modestamente menor, mas não houve diferença significativa na qualidade de vida. Esses dados apontam para a necessidade de mais pesquisas para entender as melhores maneiras de fornecer cuidados paliativos a pacientes com doenças não relacionadas ao câncer (Quinn et al., 2020).

Os cuidados paliativos em pessoas com doenças crônicas têm sido associados a taxas de readmissão clínica significativamente menores (em relação a pessoas que não os recebem), além de: redução dos sintomas de dor, cansaço, náusea, depressão, ansiedade, sonolência, melhora do apetite, da sensação de bem-estar e dispnéia (Xu et al., 2017).

Além disso, os cuidados paliativos desempenham um papel fundamental na facilitação da tomada de decisões informadas e no planejamento antecipado de cuidados. O processo de tomada de decisão acerca da melhor terapêutica para cada paciente em diferentes momentos de desenvolvimento da doença é um desafio. Este envolve não só questões clínicas, mas também o contexto social e econômico em que o paciente se insere; questões psicológicas, como expectativas em relação à cura, à autoimagem, à autoestima, à própria vida e a questões espirituais. Essa complexidade faz com que esse processo seja emocional e clinicamente desafiador para aqueles envolvidos: paciente, família, cuidador e profissionais de saúde (Sá, 2020).

Considerações finais

Os cuidados paliativos são, portanto, uma abordagem essencial para pessoas com doenças graves e crônicas, buscando aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida. Referem-se a ações que seguem os princípios de afirmação da vida e ao reconhecimento da morte como processo natural, englobando não apenas o tratamento de sintomas físicos, mas as necessidades psicológicas, sociais e espirituais das pessoas que os requerem. 

Estudos recentes têm demonstrado os benefícios dos cuidados paliativos, como aumento da sobrevida e melhoria da qualidade de vida em pessoas com câncer avançado, além de redução do uso de cuidados de saúde agudos em doenças crônicas. 

Para alcançar a integração dos cuidados paliativos nos sistemas de saúde são necessárias políticas e normas adequadas, que incluam os cuidados paliativos na legislação e nos programas nacionais de saúde, o acesso a medicamentos e tecnologias essenciais, além de 
treinamento de profissionais de saúde
 em todos os níveis de educação (Radbruch et al., 2020).

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Como citar este artigo: 
Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (2023, 24 jul). 
Atenção à pessoa em cuidados paliativos. 
Blog Artmed.

Editoria de Psicologia

Editora-chefe: 
Carmem Beatriz Neufeld.Psicóloga. Livre docente em TCC pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora e Mestra em Psicologia pela PUCRS. Fundadora e Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente-fundadora da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023). Bolsista Produtividade do CNPq.