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Cuidados paliativos: atenção psicológica ao profissional de saúde

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2023) define os cuidados paliativos como uma abordagem integrada que se concentra no cuidado de pessoas que enfrentam doenças graves e crônicas, bem como de suas famílias e cuidadores. O objetivo dos cuidados paliativos é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, aliviar o sofrimento e tratar sintomas físicos, psicológicos, sociais e espirituais. Eles são fornecidos por uma equipe de profissionais de saúde altamente capacitados e comprometidos, que trabalham em estreita colaboração com os pacientes e suas famílias para desenvolver um plano de cuidados individualizado.

É importante apontar que os cuidados paliativos são oferecidos como uma opção em qualquer fase da doença, desde o diagnóstico inicial até a fase terminal. Podem ser fornecidos em uma variedade de configurações, incluindo hospitais, unidades de cuidados paliativos especializadas, clínicas e em casa.

A abordagem dos cuidados paliativos é 
centrada na pessoa
, e é importante que os pacientes e suas famílias sejam informados e envolvidos no processo de tomada de decisão em relação aos cuidados que recebem (Artioli et al., 2019). Nesse sentido, os cuidados paliativos abordam não apenas a dor física, mas também os aspectos psicológicos, sociais e espirituais do sofrimento relacionado à saúde. Eles oferecem suporte emocional, ajuda na tomada de decisões, tratamento de sintomas, cuidados com feridas e outras necessidades médicas, além de serviços de apoio à família.

Os cuidados paliativos são um direito humano fundamental, e devem estar disponíveis para todas as pessoas, independentemente de sua idade, gênero, condição de saúde, origem étnica ou status socioeconômico. A disponibilidade dos cuidados paliativos deve ser garantida em todos os níveis de cuidados de saúde, desde o nível primário até o nível terciário. Eles também devem ser fornecidos por uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e terapeutas ocupacionais (OMS, 2023).

Um estudo de revisão sistemática e metanálise publicado pela Jama em 2017 concluiu, ao analisar 30 ensaios clínicos randomizados de intervenções de cuidados paliativos em adultos com doenças limitantes, que os cuidados paliativos foram associados a um melhor planejamento avançado dos cuidados, maior satisfação do paciente e do cuidador com os cuidados e menor utilização dos cuidados de saúde (Kavalieratos, 2017). O estudo sugere, ainda, que intervenções de cuidados paliativos estão associadas a melhorias significativas na qualidade de vida e na carga de sintomas em pacientes com doenças graves, mas não parecem afetar a sobrevivência de curto prazo (de 1 a 3 meses). No entanto, as evidências para essas associações foram consideradas fracas devido à heterogeneidade dos ensaios clínicos em qualidade metodológica e rigor (Kavalieratos, 2017).

Os profissionais de saúde que trabalham em cuidados paliativos enfrentam desafios únicos em termos de cuidado avançado e conhecimento técnico, bem como habilidades relacionais e competências humanas. Isso inclui a capacidade de se comunicar efetivamente com pacientes e suas famílias sobre questões difíceis, como a morte e o fim da vida, bem como fornecer apoio emocional e espiritual.

Além disso, esses profissionais enfrentam um grande desgaste emocional, pois estão constantemente em contato com pacientes que sofrem e estão no fim da vida. Isso pode levar a estresse relacionado ao trabalho e, se não for tratado adequadamente, pode levar ao 
burnout
. Os profissionais de saúde que trabalham em cuidados paliativos devem ser capazes de tomar decisões éticas difíceis em nome de seus pacientes e suas famílias, bem como trabalhar em equipe para fornecer um cuidado abrangente (Parola et al., 201; Pavelkova & Buzgova, 2015; Pereira, Fonseca, & Carvalho, 2011).

Parola e colaboradores realizaram um estudo de revisão sistemática e metanálise (2017) com o objetivo de examinar as evidências sobre a prevalência de burnout entre os profissionais de saúde que trabalham em cuidados paliativos. Os resultados da revisão mostraram que a maior prevalência de burnout existia nos profissionais de saúde que trabalhavam em asilos (15%), seguida pelos cuidados domiciliares ou unidades de cuidados paliativos (17,2%) e a menor prevalência foi encontrada nos profissionais de saúde que trabalham em cuidados paliativos hospitalares (9%).

Em consonância com esses dados, uma revisão sistemática da literatura publicada em 2021 (Dijxhoorn et al, 2021) apontou que a prevalência de burnout entre os profissionais de saúde que prestam cuidados paliativos varia entre 3% a 66%. No estudo, não foram constatadas diferenças significativas na prevalência de burnout entre enfermeiros e médicos. Além disso, foi observado que os profissionais de saúde que prestam cuidados paliativos em ambientes gerais apresentam mais sintomas de burnout do que aqueles em ambientes especializados de cuidados paliativos. Nesta revisão, dez estudos relataram intervenções destinadas a prevenir o bournout entre os profissionais de saúde que prestam cuidados paliativos. Seis estudos relataram uma redução de um ou mais sintomas de burnout após a intervenção, o que incluiu meditação de aprendizagem, melhoria das habilidades de comunicação, treinamento de pares e supervisão baseada em arte-terapia. Entretanto, os resultados de longo prazo dessas intervenções ainda não são conhecidos.

Em geral, há necessidade de mais pesquisas nesta área, particularmente no que diz respeito à eficácia em longo prazo das intervenções destinadas a prevenir o bournout entre os profissionais de saúde que prestam cuidados paliativos. As organizações de saúde e os formuladores de políticas públicas também devem priorizar a prevenção do burnout nesta população, pois pode ter impactos negativos tanto sobre os profissionais de saúde quanto sobre a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes.

A variação na prevalência de burnout entre os profissionais de saúde que prestam cuidados paliativos pode ser devido a diferenças nas cargas de trabalho, níveis de suporte e recursos disponíveis em diferentes ambientes de cuidados paliativos. É importante que os gerentes de saúde e as equipes de cuidados paliativos sejam proativos na prevenção, fornecendo suporte emocional, recursos de cuidado pessoal e programas de treinamento de habilidades de comunicação e manejo de estresse (Dijxhoorn et al., 2021).

7 estratégias essenciais para os profissionais que atuam em cuidados paliativos

Embora haja uma necessidade urgente de intervenções para prevenir o bournout entre os profissionais de saúde que prestam cuidados paliativos, é importante destacar que não existe uma solução única para todos. As intervenções devem ser adaptadas às necessidades específicas dos profissionais de saúde e das organizações de cuidados de saúde. Além disso, é importante que os gerentes de saúde e as organizações de cuidados paliativos incentivem uma cultura de cuidado pessoal e apoio mútuo entre os profissionais de saúde. Isso pode incluir a promoção de atividades de equipe, como a participação em grupos de discussão e programas de treinamento de habilidades de comunicação (Dijxhoorn et al., 2021).

Ao cuidar de si mesmos, os profissionais de saúde que trabalham com cuidados paliativos podem oferecer um atendimento mais eficaz e compassivo aos pacientes. A capacidade de se cuidar é um aspecto crítico do trabalho com cuidados paliativos e pode ajudar a promover a saúde e o bem-estar tanto dos profissionais de saúde quanto dos pacientes. Esse autocuidado pode envolver definir limites saudáveis, planejar atividades de lazer e tempo com amigos e familiares, e aprender a delegar tarefas ou pedir ajuda quando necessário. A seguir, estão algumas dicas de cuidado para profissionais de saúde que trabalham com cuidados paliativos:

Acesso a treinamento e desenvolvimento profissional: é importante que os profissionais de saúde que trabalham com cuidados paliativos tenham acesso a treinamento e desenvolvimento profissional para ajudá-los a lidar com as demandas emocionais e físicas do trabalho. Isso pode incluir cursos de gerenciamento de estresse, comunicação eficaz e cuidados de autocuidado.

Suporte emocional: os profissionais de saúde que trabalham com cuidados paliativos podem se beneficiar ao compartilhar suas experiências e desafios com colegas, amigos e familiares. É importante que esses profissionais tenham acesso a suporte emocional profissional, como aconselhamento ou terapia.

Cuidado com a saúde física: manter uma dieta saudável, fazer exercícios regularmente e dormir o suficiente são importantes para manter a saúde física e reduzir os níveis de estresse.

Estabelecer limites saudáveis: é importante que os profissionais de saúde estabeleçam limites saudáveis em relação ao trabalho e aprendam a delegar tarefas ou pedir ajuda quando necessário.

Praticar a autorreflexão: é importante que os profissionais de saúde reflitam sobre suas próprias práticas de cuidados de saúde e considerem formas de melhorar sua prática, estabelecer metas e monitorar seu próprio bem-estar.

Praticar o autocuidado: O autocuidado inclui um olhar atento para as próprias necessidades físicas e emocionais e o movimento para satisfazê-las, assim como realizar atividades de lazer, passar tempo com amigos e familiares e possuir atividades como hobbies.

Criar um ambiente de trabalho saudável: é importante que o ambiente de trabalho seja saudável e apoiador. Isso pode incluir comunicação aberta, oportunidades de desenvolvimento profissional e um ambiente seguro e confortável.

Ao cuidar dos profissionais de saúde que trabalham com cuidados paliativos, podemos ajudá-los a oferecer um atendimento mais eficaz e compassivo aos pacientes. O cuidado com esses profissionais é essencial para garantir que eles permaneçam engajados, motivados e capazes de fornecer o melhor atendimento possível (McIlfatrick, 2006).

Nesse sentido, considerando a crescente necessidade de cuidados paliativos, existem diversos desafios para os profissionais de saúde que trabalham nessa área. É fundamental que esses profissionais recebam treinamento adequado e tenham acesso a apoio emocional e físico para cuidar de si mesmos e, assim, oferecer um atendimento mais eficaz e compassivo aos pacientes e suas famílias. O autocuidado, estabelecimento de limites saudáveis, acesso a treinamento e desenvolvimento profissional, suporte emocional e um ambiente de trabalho saudável são algumas das maneiras de cuidar dos profissionais que trabalham com cuidados paliativos.

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Editoria de Psicologia

Editora-chefe: Carmem Beatriz Neufeld.Psicóloga. Livre docente em TCC pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora e Mestra em Psicologia pela PUCRS. Fundadora e Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente-fundadora da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023). Bolsista Produtividade do CNPq. 

Referências

Artioli, G., Bedini, G., Bertocchi, E., Ghirotto, L., Cavuto, S., Costantini, M., & Tanzi, S. (2019). Palliative care training addressed to hospital healthcare professionals by palliative care specialists: a mixed-method evaluation. BMC Palliative care, 18(1), 1-10.

Dijxhoorn, A. F. Q., Brom, L., van der Linden, Y. M., Leget, C., & Raijmakers, N. J. (2021). Prevalence of burnout in healthcare professionals providing palliative care and the effect of interventions to reduce symptoms: a systematic literature review. Palliative medicine, 35(1), 6-26.

Kavalieratos, D., Corbelli, J., Zhang, D. I., Dionne-Odom, J. N., Ernecoff, N. C., Hanmer, J., ... & Schenker, Y. (2016). Association between palliative care and patient and caregiver outcomes: a systematic review and meta-analysis. Jama, 316(20), 2104-2114.

Parola, V., Coelho, A., Cardoso, D., Sandgren, A., & Apóstolo, J. (2017). Prevalence of burnout in health professionals working in palliative care: a systematic review. JBI Evidence Synthesis, 15(7), 1905-1933.

Pavelková, H., & Bužgová, R. (2015). Burnout among healthcare workers in hospice care. Cent Eur J Nurs Midwifery, 6(1), 218-223.

Pereira, S. M., Fonseca, A. M., & Carvalho, A S. (2011). Burnout in palliative care: a systematic review. Nursing ethics, 18(3), 317-326.

McIlfatrick, S. (2007). Assessing palliative care needs: views of patients, informal carers and healthcare professionals. Journal of advanced nursing, 57(1), 77-86.

World Health Organization. WHO (2023). Palliative care. Acesso em 27/02/2023. Disponível em: 
https://www.who.int/health-topics/palliative-care