Com mais de 40 anos de experiência na Psicologia Clínica, o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, doutor em Psicologia e pós-doutor pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, compartilha sua visão sobre os rumos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).
Autor de best-sellers na área, coordenador de importantes núcleos de psicoterapia e terapias virtuais em São Paulo, e responsável pelo curso de
Terapia Cognitivo-Comportamental da Pós Artmed
, ele discute como a TCC tem evoluído e os desafios que os profissionais enfrentam na prática clínica.
Em entrevista, Nabuco aborda as abordagens mais eficazes da TCC, as inovações na área e como o curso que coordena está preparado para qualificar profissionais diante das demandas do contexto contemporâneo. Confira!
Você tem quase 40 anos de experiência em saúde mental e coordena a pós-graduação em TCC da Pós Artmed. Gostaria que falasse um pouco sobre sua trajetória com a TCC e como ela se consolidou como uma abordagem essencial na sua carreira e na formação dos alunos.
Cristiano:
é um longo caminho, são quase 40 anos de trabalho dentro das questões ligadas à saúde mental. A Terapia Cognitivo-Comportamental é considerada hoje o padrão ouro para tratar 85% dos transtornos psiquiátricos. Isso faz com que nós, praticantes do modelo, nos sintamos muito amparados do ponto de vista científico, do ponto de vista das evidências, que norteiam o nosso trabalho.
Lá atrás, há 40 anos, obviamente isso não existia. Nós tínhamos uma dificuldade muito grande de ter acesso a livros. Era um outro mundo, sem internet. O máximo que você conseguia era fotocopiar um livro que alguém tivesse trazido de fora. E, com o tempo, nós começamos a ter um grupo muito maior de profissionais transitando dentro desse segmento, o que fez com que a TCC se tornasse o que é hoje.
No Brasil, também conseguimos acompanhar e fazer jus ao que acontece em outros países. Eu entendo que, hoje, um curso como esse (
Terapia Cognitivo-Comportamental da Pós Artmed)
deveria ser quase obrigatório para quem sai da faculdade e quer trilhar esse caminho. É um curso de fundamentação, para que as pessoas consigam ter uma visão mais ampla e não se sintam tão inseguras ou reticentes.
É curioso, porque a gente só começa a explorar mais profundamente a vida dos nossos pacientes e os diferentes caminhos depois de uns 10 anos de formado. E a TCC, por ser um modelo manualizado, com roteiros para diversos transtornos, facilita muito.
Também não podemos deixar de mencionar os terapeutas mais velhos, que estão transitando entre diferentes linhas. Eu creio que esse curso fundamenta de uma maneira que a faculdade não consegue. Mas não é culpa da faculdade, coitada, porque ela tem que dar conta de tantas áreas que não teria como abordar tudo. Isso faz parte do esforço do profissional.
O grande diferencial do nosso curso são os professores. Nós temos professores internacionais no masterclass e professores nacionais que foram escolhidos por dois critérios: notório saber e habilidade didática. Eu cansei de encontrar professores que dominam muito bem a área, mas têm uma didática terrível, não conseguem se comunicar. Por isso, fiz questão de que esse curso tivesse professores que conseguem transmitir suas ideias com leveza e simpatia, criando um ambiente que convida à interação e às perguntas.
Por fim, acredito que o nosso trabalho, enquanto profissionais, deve ser leve. Não é porque a gente começa a transitar, ter mais conhecimento, ter mais experiência, que isso deva concorrer com a sua leveza. Ao contrário, a gente tem que ganhar exatamente essa agilidade, porque a cada dia são pacientes novos, com demandas novas, por mais que a gente saiba o que vai acontecer. E depois de um tempo os casos se tornam mais simples de serem conduzidos, mas mesmo com a experiência, sempre haverá um ponto cego, uma zona cinza, e é esse equilíbrio entre quem somos como pessoas e o conhecimento que construímos que nos dá a segurança para trabalhar.
Você mencionou a diferença entre a graduação e a pós-graduação, sendo a pós um curso de aprofundamento. Pensando nisso, o que você destacaria como os principais diferenciais do curso de TCC da Pós Artmed em comparação com outras formações na área?
Cristiano:
o nosso curso está em constante aprimoramento. A cada ano, temos um objetivo muito claro: ouvir as necessidades e as opiniões dos nossos alunos.
Um diferencial, sem dúvida, é o time de professores. Por exemplo, temos professores em Belém do Pará, no Rio Grande do Sul, em São Luís do Maranhão e em Manaus. Quando você busca um curso, provavelmente encontrará bons professores, o Brasil é muito rico nesse sentido. Mas, ao fazer isso, você acaba lidando com recortes específicos. Um professor pode ser excelente em um campo específico, como a área da depressão, por exemplo. Você vai estar em contato com a fonte, mas ele não terá uma abordagem mais ampla ou pode não ter domínio de determinadas tecnologias de ensino, algo que vemos com frequência.
Nós, como coordenadores, estamos sempre atentos às tendências e à evolução do ensino para poder oferecer o melhor aos alunos. A internet, especialmente depois da pandemia, proporcionou novas formas de aprendizado, e estamos aproveitando essas oportunidades. Inclusive, vemos universidades renomadas, como Harvard, adotando esse modelo de ensino.
Outro grande diferencial do nosso curso é que a maioria dos cursos oferece apenas aulas gravadas ou masterclasses esporádicas. Aqui, não. A cada módulo, abrimos reuniões e webinars onde os alunos podem interagir diretamente com os professores, compartilhar casos pessoais e discutir os temas em profundidade. Acreditamos que esse espaço de interação é essencial para que o conhecimento se torne ativo e de fato faça sentido na prática.
Quando você assiste a uma aula com um bom professor e uma boa infraestrutura, é ótimo, mas o conhecimento só se fixa verdadeiramente quando você tem que se posicionar, quando precisa discutir um caso real. Por exemplo, em um tema como as dependências tecnológicas, que é algo que valorizo muito, o aluno será incentivado a trazer uma apresentação de caso, se desejar. Esse “ir e vir” entre teoria e prática ajuda a sedimentar o aprendizado.
A maioria dos cursos que conhecemos não oferecem essas aulas síncronas, em tempo real. Eles simplesmente colocam as aulas gravadas e, se o aluno tiver dúvidas, que seja. Sabemos que isso não é suficiente. Para nós, ou fazemos bem feito ou não fazemos. O nome dos professores, da editora e da universidade está envolvido, então nosso compromisso é com a excelência.
Por isso, com esse modelo de ensino, com interações ao vivo e a troca constante de experiências, temos muitos diferenciais. Eu diria que é difícil encontrar algum outro que concorra diretamente.
Quais são as maiores dificuldades que os psicólogos enfrentam ao aplicar a TCC e como o curso da Pós Artmed pode ajudar a superá-las?
Cristiano:
quando falamos sobre as dificuldades que os psicólogos enfrentam ao aplicar a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), um dos maiores desafios é que, ao aprendermos a técnica, sabemos que ela exige estudo e prática. Mas, como diz o ditado, “na prática, a teoria é outra.” O que quero dizer com isso? É simples: não basta apenas ler livros ou assistir a vídeos no YouTube. Se você já tem proficiência em outro idioma, pode até se aprofundar mais facilmente, mas a prática exige mais do que isso.
Aqui está o grande diferencial. Muitos dos professores e teóricos da TCC vêm de outros países, e esses países trazem características culturais muito específicas. O que quero explicar é que, se você seguir rigidamente o que é ensinado, sem levar em conta as diferenças culturais, você pode não ser tão bem-sucedido quanto espera. Vou dar um exemplo prático.
Uma técnica bastante utilizada na TCC é o uso dos flashcards. São cartões onde o paciente escreve frases ou afirmações para consultar em momentos de dificuldades, como quando está enfrentando pensamentos negativos. Por exemplo, Mariana poderia me dizer: "Eu quero atravessar a rua, mas não consigo." Eu recomendaria que ela usasse um flashcard que a lembre: "Eu sou capaz de fazer isso." Esse é o conceito básico.
No entanto, ao trazer essa técnica para o Brasil, percebi que algumas estratégias que funcionam bem em outros países não têm o mesmo impacto aqui. O contexto cultural é crucial. No Canadá, por exemplo, se eu sugerisse que um paciente usasse um flashcard para superar seus medos, ele provavelmente seguiria a orientação sem maiores questionamentos. O processo seria aceito com mais facilidade.
Já no Brasil, o cenário é diferente. Se eu pedisse para fazer isso,a pessoa poderia achar a ideia absurda. O brasileiro tem uma característica única: a tendência a questionar, confrontar e até desafiar a autoridade do terapeuta. Isso, em muitos casos, é visto de maneira negativa, mas na realidade, exige que o psicólogo saiba lidar com essa dinâmica de forma adequada.
Portanto, para quem trabalha com a TCC no Brasil, é fundamental ter a sensibilidade cultural necessária para lidar com esses desafios. Se o psicólogo não tiver o jogo de cintura para lidar com essas situações, pode se sentir frustrado, mesmo sabendo o que precisa fazer. Isso é completamente legítimo, mas é importante ter a experiência e o suporte necessários para superar essas barreiras.
Por isso, acredito que o curso oferece um diferencial imenso. Ele prepara os profissionais para enfrentar esses desafios culturais e clínicos de maneira estruturada. Claro, o sucesso depende da parceria entre o aluno e o curso, mas quem participa dessa formação sai muito mais preparado para seguir em frente e aplicar a TCC com confiança.
Agora adentrando nos temas da pós-graduação em TCC, vamos conversar um pouco sobre a conceitualização cognitiva, que é uma ferramenta tão central dentro da TCC. Você poderia nos explicar brevemente o que ela envolve e como o curso pode ajudar os profissionais a aplicar com confiança essa ferramenta?
Cristiano:
um ponto super importante para que a gente possa deixar claro é que os modelos cognitivos se centram muito na maneira como o indivíduo pensa.
Como assim? Você pode ter uma abordagem em que eu vou virar para você e falar assim: quando eu te falo isso, o que você sente ou do que você imagina? A terapia cognitiva vai trabalhar qual é o seu pensamento? Quando eu te falo a respeito de uma experiência XYZ, qual é o primeiro pensamento que vem à sua cabeça? A gente vai chamar isso de pensamentos automáticos, que são aqueles que surgem o tempo todo, pensamentos intrusivos em algumas situações. Mas o que a gente entende? O que a teoria como um todo entende? Que nós, à medida que vamos nos desenvolvendo, crescendo, construímos uma rede de significados, um sistema de crenças.
Por exemplo, eu me lembro que quando eu era pequeno, minha mãe sempre tocava piano, e ela tinha o hábito de fechar as janelas da casa porque dizia que os vizinhos não eram obrigados a ouvir o piano. Isso ficou na minha cabeça, virou parte do meu sistema de crenças. Então, hoje, quando faço algo, isso fica impregnado na minha memória. O modelo cognitivo se baseia na ideia de que, nesse grande "lego mental", você vai encaixando peças que se combinam, mas, em algum momento, uma peça pode não se encaixar corretamente. Ou seja, você tem uma peça quadrada tentando encaixar em um círculo, ou uma peça que está faltando uma parte, e isso é o problema.
O que acontece? Eu penso de uma forma, mas ajo de outra. Parte central do trabalho é realizar uma conceitualização cognitiva. Essa conceitualização ajuda a entender como as experiências passadas influenciam nossos pensamentos. Ela vai ajudar o paciente a perceber a força dessas crenças. Por exemplo, se você me diz: "Eu não confio em pilotos de avião", eu vou perguntar de 0 a 10, o quanto isso é forte para você? "Ah, 11." E eu vou questionar: "Por que você não confia em pilotos de avião? Já teve alguma experiência para isso?" Se não, pode ser que haja uma pecinha fora do lugar. Eu vou peneirando suas crenças, buscando entender de onde vem esse receio. Assim, a técnica de conceitualização ajuda o paciente a compreender o passo a passo de seus pensamentos.
Mesmo que você não seja um terapeuta cognitivo, entender essa ferramenta é fundamental. O curso vai ensinar os alunos a aplicar essa técnica de maneira prática e teórica, para que eles possam identificar onde estão os nós e como eles afetam a interpretação dos fatos. Afinal, mais importante do que a situação em si é a interpretação que você faz dela. O filósofo romano Epicteto dizia: "O mundo não é movido pelas coisas, mas pela visão que se tem delas." É a partir dessa visão que você cria uma estrutura cognitiva, uma forma de funcionar que pode servir para muitas coisas, mas não para todas.
Nos casos de psicopatologias, como a depressão, por exemplo, as crenças podem ser mais fortes e dominantes, prejudicando a capacidade do indivíduo de viver normalmente. O paciente pode ter uma visão negativa de si mesmo e do futuro, dizendo: "Eu fracassei, não há solução." Nesse contexto, a terapia busca mudar esses padrões de pensamento, muitas vezes com o auxílio de medicação, se necessário. Mas a terapia cognitiva é uma ferramenta essencial para reorganizar esse funcionamento mental, ajudando a pessoa a entender como seu mundo funciona.
Em resumo, a conceitualização cognitiva é como um descompartilhamento conceitual, permitindo que você entenda como seus pensamentos moldam sua realidade. Isso é muito interessante e essencial para trabalhar as crenças e atitudes dos pacientes.
Quais são as principais abordagens da TCC para tratamento de transtornos mentais e o que os psicólogos podem esperar aprender sobre isso no curso da Pós Artmed?
Cristiano:
o curso foi dividido nas principais famílias ou categorias de psicopatologias. Os transtornos de humor são uma delas, e é sobre isso que vamos nos debruçar, abordando aspectos ligados à depressão, distimia, transtorno bipolar e todas as suas subdivisões. Mas por que isso é importante? O que isso agrega? A grande vantagem disso é que, ao contar com um professor especialista, ele vai explicar: “Você precisa analisar, ao trabalhar com um paciente que tem bipolaridade, qual é o tipo do transtorno bipolar dele.” Por exemplo, se você for utilizar a técnica A, ela pode não funcionar no caso de um transtorno A, mas sim no de um transtorno B. Essa sutileza faz toda a diferença.
Há um ditado americano que diz: "one size fits all" — ou seja, que um único modelo serve para todos. No entanto, quando estamos lidando com o ser humano, não podemos trabalhar com a premissa de que o que você tem ali vai funcionar para todos os casos. Não é “one size fits all.” Por isso, a experiência do professor, ou dos professores, que já percorreram esse caminho, é fundamental para dizer: “Olha, você tem que observar isso com atenção, pois se não o fizer, a chance que você corre — tomara que não aconteça — é de continuar batendo em uma porta que nunca vai se abrir.”
Eu me lembro de um professor querido, já falecido, que costumava falar sobre a "lei do martelo". Ele dizia: “Cristiano, quando uma pessoa tem um martelo, a única coisa que ela vê são pregos.” Ou seja, se você tem uma técnica ou um modelo, como um martelo, você vai querer usar isso em tudo. Mas existem outras formas de resolver os problemas que não envolvem simplesmente dar marteladas, ou como ele dizia, nem tudo é um prego.
Essa diferenciação é algo muito sutil, que não é facilmente perceptível em uma aula teórica, mas que surge na troca de experiência entre os profissionais. Recentemente, fiz as contas aproximadas de quantos pacientes eu atendi ao longo dos meus 40 anos de carreira e de quantas sessões realizei — sem contar supervisões e aulas. O total foi cerca de 80 mil consultas. E posso te assegurar: depois de 80 mil consultas, você aprende muito. Isso não está nos livros. Exatamente. Essa experiência não registrada, essa bagagem adquirida ao longo do tempo, permite perceber nuances que nem sempre são abordadas por autores. Por exemplo, um aspecto importante que pode não ser abordado diretamente, mas que pode ser crucial, como a forma como o paciente brasileiro tende a reagir, por exemplo. O que você faria se tentasse outra abordagem, então?
Essa é a riqueza de diferentes profissionais — todos altamente capacitados, com abordagens claras e simples, mas ao mesmo tempo motivadoras e instigantes. Isso faz com que o aprendizado seja prazeroso e eficaz, sempre com uma perspectiva de estar na vanguarda do conhecimento. Hoje, muitos dos profissionais que participam do curso, especialmente os mais experientes, fazem cursos internacionais e participam de congressos. O que posso garantir é que ao fazer esse curso, você vai beber da fonte do conhecimento de ponta.
Como a pós-graduação aborda o mindfulness e quais são os benefícios dessa prática para os pacientes?
Cristiano:
a técnica de mindfulness traz muito dos princípios e práticas tradicionais do budismo, focando no desenvolvimento de um poder de observação e contemplação sobre como reagimos às situações. Diferente de um simples exercício para acalmar a mente, o mindfulness vai criando, ao longo do tempo, padrões de intervenção e observação, onde deixamos de ser apenas espectadores das nossas emoções e passamos a participar ativamente desse processo de estruturação mental e equilíbrio psicológico.
Hoje, o mindfulness é considerado uma das grandes intervenções terapêuticas. Algumas pesquisas, por exemplo, mostram que apenas quatro semanas de prática podem alterar a estrutura cerebral do praticante, afetando a morfologia de certas regiões do cérebro e melhorando a comunicação entre os axônios, tornando a transmissão de informações mais eficaz.
Outro diferencial importante do curso é a professora, que foi uma das pioneiras a trazer o mindfulness para o Brasil. Ela se formou no exterior e teve aulas com grandes nomes internacionais da área, o que oferece aos alunos uma oportunidade única de aprender com uma referência nesse campo.
E sobre as dependências tecnológicas, que é um tema que está cada vez mais em alta, como a pós-graduação em TCC aborda esse assunto? Quais são as técnicas mais eficazes e qual é o cenário no Brasil?
Cristiano:
as dependências tecnológicas é um tema que venho trabalhando há mais de duas décadas. Eu montei a primeira unidade ambulatorial de tratamento no Brasil, no Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo. E o que observamos foi algo surpreendente: a busca por ajuda superou todas as nossas expectativas. Durante quase 12 anos, eu coordenei o grupo de psicologia no Ambulatório de Transtornos Alimentares, então já tinha uma ideia da demanda por tratamento. No entanto, quando abrimos o grupo de dependências tecnológicas, foi impressionante.
Lembro que dei uma entrevista para o jornal regional da Rede Globo, anunciando a abertura do grupo. No dia seguinte, das 9h ao meio-dia, recebemos 150 chamadas telefônicas. Esse número superou até mesmo o volume de atendimentos semestrais que eu realizava. Isso aconteceu porque, até aquele momento, as pessoas não tinham consciência de que esse problema existia ou que estava se tornando tão grave, e cada vez mais surgem casos de uso precoce e desenvolvimento de complicações sérias.
Esse tema ganhou ainda mais visibilidade quando a dramaturgia da Globo se interessou pelo assunto. A Glória Pérez, depois da pandemia, me procurou para ajudar a criar personagens que representassem esse tipo de dependência. Acabei até aparecendo na novela. Esse envolvimento ajudou a popularizar o tema, e minhas redes sociais explodiram com mensagens de pessoas que não sabiam que a dependência tecnológica poderia ser tão grave.
No nosso curso de TCC, com certeza, esse é um dos tópicos que será abordado de maneira profunda, e o único curso a se dedicar a isso dessa forma. Além disso, desenvolvi um modelo exclusivo de TCC para tratar da dependência tecnológica, um modelo único no mundo. Tenho certeza de que os alunos que se aprofundarem nesse tema no curso estarão recebendo um conteúdo de altíssima qualidade e atualidade. É mais um diferencial do curso.
Para finalizar, quais conselhos você daria para psicólogos que querem começar ou se aprofundar na TCC? Quais são os principais conselhos que você, como profissional experiente, daria para quem está começando ou quer se tornar um grande especialista?
Cristiano:
toda a vida profissional, em alguns momentos, é muito sofrida. Eu digo isso por experiência própria, os anos iniciais de profissão são difíceis, e oferecem desafios significativos, como em outras áreas, como no direito, na medicina, na engenharia. Então, no começo, é necessário realmente exceder os nossos esforços.
O conselho que eu dou, e que segui, é o de sempre buscar o aprimoramento. Desde a minha formação, eu saí com o desejo de melhorar, de me aprimorar. Lembro que, quando era recém-formado, via os professores com livros publicados nas universidades e pensava: “Um dia eu quero chegar lá, será que vou conseguir?”. E, Mariana, o mais curioso é que vi muitos dos meus colegas, não só da faculdade, mas também depois, ficando pelo caminho. Muitos diziam: “Ah, eu tive uma dificuldade, eu não consegui, eu tive outro problema”. Eu costumo brincar que meu signo é Capricórnio e meu ascendente é Mula, então nunca desisti. Eu segui em frente.
Fiz minha especialização, meu mestrado, e quando queria entrar no doutorado, percebi que não havia ninguém fazendo isso no Brasil, então fui estudar fora. Depois, fiz o pós-doutorado e ajudei a fundar a Associação Brasileira de Terapias Cognitivas. Enfim, acredito que esse é um caminho que agracia aqueles que se dedicam, como qualquer atividade na vida pessoal.
Então, o conselho que eu daria é: venham sonhar com a gente. Quando sonhamos juntos, nos tornamos mais fortes.