Dependência química: como a terapia cognitivo-comportamental atua na manutenção da abstinência
A dependência química é descrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o uso abusivo de substâncias psicoativas. Sejam elas lícitas (como o álcool) ou ilícitas (como as drogas sintéticas), os efeitos tóxicos podem lesionar áreas do cérebro, alterar o equilíbrio neuroquímico e desencadear ou agravar transtornos mentais. Efeitos assim são complicadores no processo de manutenção da abstinência.
No contexto da pandemia de Covid-19,
o isolamento social e as incertezas econômicas potencializaram o consumo de drogas
– uma espécie de escape emocional. Dados do Ministério da Saúde mostram que o socorro por uso de alucinógenos no Sistema Único de Saúde (SUS) cresceu 54% de março a junho de 2020, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A pasta aponta que, na história recente, esse tipo de aumento foi registrado raras vezes.
Dependência química no Brasil
O fenômeno do aumento no consumo de drogas ocorre em meio a um cenário onde
mais de 4,5 milhões de brasileiros declararam ter consumido substâncias ilícitas nos 12 meses anteriores à pesquisa
. O indicador é de um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado em 2019. Atualmente, o país destina apenas 0,34% dos leitos para atendimentos de dependentes químicos.
A nova
Política Nacional de Drogas (PNAD)
prevê a ampliação de leitos hospitalares específicos para o atendimento desses pacientes. Outro aspecto importante na nova lei diz respeito à
mudança de abordagem
no tratamento da dependência química. Antes, a diretriz previa a redução de danos, em que o paciente mantinha o uso das drogas, mas era orientado a reduzir riscos biológicos, psicossociais e econômicos.
Sob a nova perspectiva, o indivíduo é submetido à terapia da abstinência. Ou seja, acaba afastado dos psicoativos. Durante o tratamento, feito em comunidades terapêuticas ou em leitos hospitalares, pode ser necessário administrar medicamentos para atenuar os efeitos da falta da droga. Sintomas como agitação, irritação e mal-estar são os mais comuns.
Manutenção da abstinência: papel da terapia cognitivo-comportamental
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) trabalha com as crenças centrais do indivíduo e sua relação com o ambiente. Aqui, o paciente passa a entender quais são os pensamentos automáticos e os gatilhos que levam a comportamentos autodestrutivos – como o consumo e dependência de drogas.
Assim, a TCC auxilia o paciente na manutenção da abstinência e, posteriormente, no abandono dos psicoativos. Ao compreender o funcionamento de suas emoções, a pessoa ganha autonomia sobre o seu próprio monitoramento – e consegue controlar possíveis recaídas.
A depender do grau de seu comprometimento, dependentes químicos levam em média de três meses a um ano para alcançar o afastamento definitivo do vício em drogas. Isso é possível porque a TCC se vale de diferentes recursos para a personalização do tratamento. A estratégia é fundamental para pacientes com vícios, pois eles lidam com a sensação de prazer logo após o consumo da droga e com as consequências negativas do ato.