Dr. Stephen Stefani fala sobre cuidado, escuta e saúde integral no Dia Mundial da Saúde 2025

Todo ano, o Dia Mundial da Saúde nos convida a refletir sobre um aspecto fundamental da vida que muitas vezes deixamos de lado: o cuidado. Em 2025, a Organização Mundial da Saúde escolheu o tema
"Inícios Saudáveis, Futuros Esperançosos"
. É uma frase simples, mas cheia de significado. Fala sobre garantir saúde desde o nascimento, mas também sobre a importância de manter, ao longo da vida, o compromisso com o bem-estar de todos.
E entre os muitos profissionais que têm se aprofundado nesse tema, está o oncologista e escritor Dr. Stephen Stefani. Em seu livro recém-lançado
Saúde (em) Crônicas
, ele compartilha histórias reais, emocionantes, às vezes difíceis, mas sempre profundamente humanas. Relatos que mostram que, mesmo com todo o avanço tecnológico, o que realmente faz diferença é o olhar atento, a escuta verdadeira e o tempo dedicado a quem precisa.
Tivemos a oportunidade de conversar com ele sobre o livro, suas inspirações e o que, para ele, significa, hoje, cuidar com presença. O papo que você vai ler aqui mistura literatura, medicina e sensibilidade, e chega em um momento importante, para nos lembrar de algo essencial: a saúde também se constrói com palavras, com vínculos e, acima de tudo, com humanidade!
Confira!
O tema do Dia Mundial da Saúde deste ano é "Inícios Saudáveis, Futuros Esperançosos". Ele nos convida a pensar na saúde como um processo contínuo, que se constrói desde o nascimento. Embora o seu livro Saúde (em) Crônica trate majoritariamente de pacientes adultos, ele também provoca uma reflexão sobre o cuidado integral ao longo da vida. Em sua visão, qual é a importância da empatia, da escuta e do vínculo para a construção de uma trajetória de saúde que seja verdadeiramente humana, da infância à velhice?
Dr. Stephen Stefani:
Essa encantadora transformação digital da medicina trouxe algumas vantagens, como a democratização da informação e a agilidade do conhecimento, mas também precisa ser vista com cuidado, pelos riscos notáveis. Um dos principais inconvenientes é a natureza imediata e frequentemente fragmentada da comunicação. A rapidez das interações nem sempre permite explicações claras, detalhadas ou matizadas. Além disso, as ferramentas digitais tendem a diminuir as interações face a face, potencialmente corroendo a profundidade dos relacionamentos profissionais. É possível que o desafio da boa comunicação, adaptada a cada geração, tenha que fazer parte formal do treinamento do profissional de saúde.
Em realidades marcadas pela desigualdade de acesso, como transformar a escuta, o tempo e a presença em ferramentas concretas de cuidado e acolhimento?
Dr. Stephen Stefani:
É um desafio global. A incrível incorporação de informação (já temos mais de 36 milhões de publicações de diversos grupos em plataformas como PubMed) em uma velocidade inédita, com custos elevadíssimos, é uma fórmula clara de inviabilidade. Se esse tema não for pautado de forma responsável, vamos enfrentar uma elitização da saúde, na qual somente os muito ricos terão acesso à medicina ideal. As estratégias de análise de custo-efetividade para definir prioridades e uma regulação forte nos investimentos em novas terapias e na precificação precisam estar presentes de forma corajosa nas agendas dos países.
Em tempos de tecnologia acelerada e protocolos cada vez mais rígidos, a escuta — tão central em sua obra — parece muitas vezes deixada de lado. Como o senhor enxerga o resgate da escuta como ferramenta terapêutica potente, tanto na relação médico-paciente quanto na formulação de políticas públicas mais sensíveis?
Dr. Stephen Stefani:
Existe uma necessidade enorme de as pessoas serem ilustradas sobre sua saúde e participarem das decisões. A relação médico-paciente não pode mais ser tão vertical (o médico manda e o paciente obedece), mas o médico tem que assumir um papel de educador, para que as pessoas possam entender suas decisões, tanto na esfera das políticas de saúde quanto no consultório. A educação passou a ser ainda mais relevante quando o tema é saúde.
O senhor escreve com sensibilidade sobre o “ver o outro” — um olhar que ultrapassa o corpo doente e alcança a pessoa em sua totalidade. Como esse tipo de olhar pode contribuir para transformar o sistema de saúde em algo mais equitativo, afetivo e centrado no humano?
Dr. Stephen Stefani:
Entender o íntimo celular para definir um remédio é uma etapa simples… talvez ao alcance de qualquer algoritmo de inteligência artificial. Decifrar a pessoa, sua família, suas dificuldades e necessidades envolve empatia. Participar da vida de um paciente é entender como se pode ajudar em todas as esferas. Não existe saúde sem explorar cada camada desta jornada.
Uma das forças de Saúde (em) Crônica está em mostrar que cuidar da saúde é também cuidar da alma. Como essa perspectiva pode impactar a formação de profissionais da saúde e influenciar práticas que vão desde o acolhimento pediátrico até os cuidados paliativos?
Dr. Stephen Stefani:
Entender o significado de nossa existência ajuda a definir prioridades e a dar valor às coisas certas. Parece um conceito óbvio, mas é importante colocá-lo em uma perspectiva prática e auxiliar as pessoas a dar os passos na direção correta. Quanto antes se começar na direção correta, menos esforço será necessário para corrigir os rumos.
Dr. Stefani, poderia compartilhar conosco alguma história ou momento que o tenha tocado de forma especial e que, de certa forma, representa o espírito do livro?
Dr. Stephen Stefani:
Então pego um táxi. Já falando no telefone, oriento o destino. O motorista me olha por uns instantes com curiosidade. Dá a partida e segue. Eu, ainda no telefone, organizo minha agenda e dou instruções. Chego ao destino, concluo a ligação e pergunto quanto deu a corrida.
— Hoje é cortesia, doutor!
Eu, surpreso, fico sem reação.
O taxista abre o celular e me mostra uma foto de um homem abraçado a dois adolescentes.
— Esses das pontas são meus netos… e o do meio foi seu paciente… em 1999. Eu tenho três na minha vida por sua causa. No meu táxi o senhor não paga corrida!
Sigo sem reação. Só que com uma alegria enorme no peito.
(Recado, principalmente aos jovens colegas: a gente pode escolher entre passar pela vida das pessoas ou ficar na vida delas. Ficar é melhor.)
Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar neste Dia Mundial da Saúde? O que nos une como seres humanos é, talvez, essa necessidade profunda de sermos cuidados, escutados e respeitados desde o início da vida. O que o senhor acredita que deve ser lembrado — e praticado — neste dia?
Dr. Stephen Stefani:
Somos um em mais de 7 bilhões de seres humanos que passam por um breve momento nesta terra, que tem mais incertezas do que seguranças. Se cada um tentar deixar contribuições, por mais singelas, como um bom exemplo para seus filhos ou uma ajuda para alguém aleatório, avançamos como coletividade. Deixaremos um mundo melhor para uma geração que queremos que seja melhor do que a nossa. Estamos todos conectados. É por isso que as pessoas precisam acolher e levantar aqueles que caíram.
Em Saúde (em) Crônicas, Dr. Stephen Stefani nos convida a olhar para a medicina com olhos mais atentos, sensíveis e humanos. A partir de histórias reais, o autor revela como a escuta, a empatia e a presença podem transformar profundamente a experiência do cuidado em saúde.
Entre reflexões emocionantes e relatos que nos tocam pela simplicidade e pela profundidade, o livro mostra que a verdadeira medicina se constrói na relação entre pessoas — e que, no fim das contas, cuidar é, acima de tudo, um ato de humanidade.
Uma leitura essencial para quem acredita que a saúde vai muito além dos protocolos e das tecnologias, e começa, principalmente, na conexão genuína entre seres humanos.