Esporão do Calcâneo: o que é, sintomas e estratégias de fisioterapia
Os pés são frequentemente uma das partes menos lembradas ao longo do dia, ao mesmo tempo em que são fundamentais para diversas atividades do organismo humano ao longo dos tempos, como a realização de trabalho diário e da mobilidade.
A falta de atenção a eles pode levar a condições dolorosas, como o Esporão de Calcâneo (EC) ou outras condições como a fasceíte plantar.
O EC é uma projeção óssea da tuberosidade calcânea e têm sido estudado por numerosos métodos (cadáveres, radiografia, histologia e cirurgias). É uma protuberância óssea que se desenvolve na parte inferior do calcanhar, osso conhecido como calcâneo. Normalmente, se forma em resposta a tensão ou pressão prolongada no pé, geralmente resultante de atividades como correr, pular ou ficar em pé por períodos prolongados.
Essas atividades podem causar estresse repetitivo no calcanhar, causando irritação e inflamação nos ligamentos e tecidos. Em resposta a esta inflamação, o corpo pode produzir depósitos de cálcio, que gradualmente se acumulam e formam uma protuberância ou um esporão no osso.
Embora os esporões de calcanhar em si possam não causar necessariamente dor, eles podem exacerbar condições existentes, como fascite plantar ou tendinite no tendão de aquiles, causando desconforto e problemas de mobilidade. A presença de esporão no calcâneo pode afetar significativamente a qualidade de vida do paciente, principalmente se houver dor com limitação nas atividades de vida diária.
Dor e desconforto são sintomas comuns associados ao esporão do calcâneo, especialmente durante atividades como levantamento de peso, caminhada ou apenas o ato de ficar em pé. Esse desconforto pode variar de uma dor pontual a uma dor aguda e penetrante na região do calcanhar, tornando as tarefas diárias desafiadoras e afetando a mobilidade.
Além disso, o esporão do calcanhar pode causar inflamação dos tecidos moles circundantes, como a fáscia plantar, exacerbando ainda mais a dor e potencialmente causando dificuldades em atividades que exijam flexão ou extensão do pé.
Consequentemente, os indivíduos com esporão de calcâneo podem experimentar limitações nas suas atividades físicas, diminuição da produtividade e diminuição do bem-estar geral, necessitando de estratégias adequadas de gestão e tratamento para aliviar os sintomas e melhorar a função.
O que é o Esporão do Calcâneo?
Por definição, os EC são tipicamente descritos como projeções ósseas que surgem anteriormente ao processo medial da tuberosidade calcânea e que se formam ao redor do osso calcâneo, o osso mais forte, mais significativo e mais posterior nos pés.
No entanto, não há uma definição única na literatura. Para alguns autores, há a definição de projeções maiores que 1 ou 2 mm, enquanto outros usam microscopia ou avaliação subjetiva.
Entre jovens e adultos de meia-idade, a prevalência é de 11 a 21%, podendo variar entre populações. A prevalência de EC aumenta com a idade, principalmente a partir da 4ª década de vida. Na população idosa, as alterações no padrão da marcha podem desempenhar um papel no desenvolvimento da condição com aumento do contato relativo da base do calcâneo com o chão associado a redução no comprimento do passo.
O excesso de peso também é indicado como um fator desencadeador de EC, podendo aumentar em até quase sete vezes a chance de desenvolver em sujeitos obesos comparados com sujeitos sem obesidade. A literatura também descreve que pessoas com pé pronado tem maior chance de desenvolverem EC.
Outro fator que está envolvido com a ocorrência de EC é a fasceíte plantar. Supõe-se que a fasceíte plantar seja devida à sobrecarga mecânica da fáscia plantar, resultando em microrrupturas; o trauma repetido do impacto do calcanhar inibe a resposta reparadora e resulta em uma condição inflamatória fascial crônica, caracterizada por remodelação, fibrose e até mesmo ossificação no ponto de inserção fascial no osso calcâneo.
Sintomas e diagnóstico
O sintoma mais comum do EC é a talalgia, comumente conhecida como “dor no calcanhar”. O EC é muito parecido com uma espora de galo, por isso ganhou essa nomenclatura. Existem muitas causas de dor no calcanhar, que geralmente estão associadas a EC e, diante disso, é muito importante o diagnóstico correto para o tratamento mais eficaz.
Ainda não é claro o principal mecanismo envolvido no desenvolvimento do EC e o motivo que algumas pessoas são mais propensas a desenvolver a condição do que outras. A literatura aponta para fatores como o sexo, idade, ocupação e estilo de vida além da relação com outros condições.
O EC é considerado o fator etiológico na fascite plantar e no aumento do peso corporal, e como uma complicação em artropatias, gota, pé cavo e pé plano. Os pacientes com essa proeminência óssea queixam-se de dor na região do calcanhar ao amanhecer ou ao caminhar.
Homens praticantes de corrida e mulheres na pré-menopausa ou com obesidade estão mais suscetíveis ao EC. O diagnóstico da calcificação é realizado por radiografia e, em sua prevenção e tratamento, o fisioterapeuta é de extrema importância.
Estratégias de fisioterapia
Uma das ferramentas para o tratamento do Esporão de Calcâneo é o uso da terapia a laser de alta intensidade (HILT). Estudos experimentais
in vitro
e em animais demonstraram mecanismos plausíveis para o seu uso.
A irradiação a laser proporciona uma dose específica de fótons (energia) aos locais lesados, o que resulta em um aumento na geração de ATP (adenosina trifosfato). Além disso, há uma elevação na atividade enzimática, na funcionalidade da membrana plasmática e na síntese de DNA e RNA.
Nos tecidos, possui como efeitos o aumento do metabolismo, circulação e linfática, redução da pressão intracapilar, aumento do limiar de excitabilidade das terminações nervosas e melhora da resposta imune. Esses fenômenos podem explicar os efeitos analgésicos e antiinflamatórios.
Estratégias como a Terapia por Ondas de Choque Extracorpórea (ESWT) e a Ablação Térmica por Radiofrequência (RFA) demonstraram reduzir a intensidade de dor, a incapacidade e a restrição de atividades no tratamento da fascite plantar em pacientes com EC. A ESWT mostrou-se particularmente eficaz no alívio da dor, enquanto a RFA teve efeitos mais pronunciados na redução da incapacidade e das limitações de atividade. A escolha entre as técnicas deverá considerar as preferencias e queixas de cada paciente.
O uso de ultrassom terapêutico e de terapia por ondas de choque também compõem o arsenal de técnicas da fisioterapia no tratamento conservador do EC. Estudos apontam para a redução eficaz na dor em pacientes com EC. Um estudo demonstrou que são necessárias menos sessões de terapia por ondas de choque do que sessões de ultrassom para a redução na dor sugerindo que a terapia por ondas de choque tem maior eficácia analgésica.
Além disso, calçados e palmilhas ortopédicas são eficazes na redução do impacto no calcanhar. O tratamento inclui alongamentos, mobilização articular, contração excêntrica, liberação miofascial, acupuntura e crioterapia, com o objetivo de aliviar a dor. Quanto mais precoce for o início do tratamento, melhor será o prognóstico do paciente.
Em contrapartida, a busca tardia por fisioterapia tende a resultar em uma menor qualidade de vida, podendo, em alguns casos, tornar-se necessário o tratamento cirúrgico. Outro estudo também mostrou que tanto o tratamento mecânico com palmilha customizada quanto o uso de calçado flexível por seis meses em mulheres com EC reduziu a dor no calcâneo, aumentou a função e a saúde dos pés e reduziu a carga plantar no retropé, mediopé e antepé.
Como a fasceíte plantar é uma condição que acompanha o desenvolvimento do EC, no ano de 2023 foi publicada um revisão chamada
Heel pain – plantar fascitis: Revision 2023
. Nela, foram indicadas algumas intervenções e seus graus de recomendação, como por exemplo:
- terapia manual;
- alongamento;
- taping;
- órteses para o pé;
- uso de talas noturnas;
- ultrassom terapêutico;
- terapia com laser de baixa intensidade;
- fonoforese;
- eletroterapia;
- educação e perda de peso;
- exercícios terapêuticos e neuromusculares edry needling.
Os objetivos do pacientes juntamente com a expertise do profissional e o conhecimento das evidências científicos darão o suporte para a melhor tomada de decisão.
Prevenção e Cuidados
O Esporão de Calcâneo é uma projeção óssea que se forma no calcanhar, frequentemente associada à fascite plantar, causando dor e desconforto. Existem diversas maneiras de prevenir e tratar essa condição. Para a prevenção, recomenda-se:
- Usar calçados adequados com bom suporte para o arco do pé e amortecimento adequado, evitando sapatos de salto alto ou com solas muito duras.
- Utilizar palmilhas ortopédicas, que proporcionam suporte adicional ao arco do pé e ajudam a distribuir a pressão de maneira mais uniforme.
- Controlar o peso corporal para reduzir a pressão sobre os calcanhares.
- Realizar alongamentos da musculatura flexora plantar e da fáscia plantar, além de fortalecer as cadeias musculares intrínsecas dos pés, as pernas e a musculatura posterior das pernas.
- Evitar longos períodos em pé ou caminhadas excessivas em superfícies duras.
Durante os períodos de crise, onde a dor impacta na rotina, recomenda-se:
- Realizar repouso.
- Aplicar gelo.
- Utilizar medicação anti-inflamatória e analgésica.
Mesmo durante a crise, é importante, com precaução, manter uma rotina ativa com exercícios para outros grupos musculares e fazer um monitoramento contínuo dos sinais e sintomas junto a um profissional de saúde.
Essas estratégias combinadas podem ajudar a prevenir o aparecimento do Esporão de Calcâneo e a gerenciar os sintomas caso ele ocorra. Se a dor persistir, é fundamental buscar a orientação de um profissional de saúde para um diagnóstico e tratamento adequados.