Fisioterapia pós-AVC: cuidados, protocolos e resultados esperados

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de incapacidade no mundo, afetando significativamente a funcionalidade e a autonomia do paciente. Dependendo da área cerebral lesionada, podem ocorrer déficits motores, sensitivos, cognitivos e de comunicação, comprometendo atividades básicas de vida diária (AVDs), como alimentação, higiene e locomoção.
A hemiparesia, a espasticidade e os distúrbios de equilíbrio são frequentemente observados, reduzindo a independência e a qualidade de vida. Quanto mais cedo a reabilitação iniciar, maior a chance de restabelecimento das funções e menores os riscos de complicações secundárias, como atrofia muscular, contraturas e trombose venosa.
A fisioterapia atua com o objetivo de estimular a neuroplasticidade e com isso contribuir para o restabelecimento de funções perdidas. Estudos demonstram que a intervenção fisioterapêutica iniciada nas primeiras 24 a 72 horas pós-AVC está associada a melhores desfechos funcionais.
Fases da reabilitação fisioterapêutica pós-AVC
O AVC é uma condição neurológica que exige intervenção imediata e reabilitação contínua. A recuperação é dividida em três fases principais, cada uma com objetivos específicos de reabilitação.
Fase Aguda (Primeiras 24 a 72 horas)
Nesta fase, o paciente está hospitalizado, e o foco é estabilizar suas condições clínicas e prevenir complicações secundárias, como trombose venosa profunda (TVP), úlceras por pressão e atrofia muscular.
Os objetivos são:
- manter a integridade das articulações e prevenir contraturas (uso de órteses, posicionamento adequado);
- iniciar mobilização precoce, se clinicamente estável, para reduzir o risco de imobilismo e estimular a função respiratória (exercícios de expansão pulmonar).
Fase Subaguda (semanas a 3 meses pós-AVC)
Neste período, ocorre maior plasticidade neural, e a reabilitação intensiva é importante para ganhos funcionais.
Os objetivos são:
- melhorar força muscular e controle motor (treino de marcha, fortalecimento); restaurar independência em atividades de vida diária (AVDs);
- prevenir espasticidade e promover alinhamento postural.
Fase Crônica (após 6 meses)
Nesta etapa, os progressos podem ser mais lentos, mas a reabilitação visa maximizar a funcionalidade e adaptação a déficits residuais.
Os objetivos são:
- otimizar habilidades funcionais (equilíbrio, coordenação); prevenir recorrência de AVC (exercícios aeróbicos, educação em saúde) e;
- utilizar tecnologias como robótica e estimulação transcraniana para potencializar a recuperação.
Protocolos de fisioterapia e técnicas mais utilizadas
A fisioterapia neurofuncional desempenha um papel importante na reabilitação de pacientes após AVC, visando a recuperação da função motora, equilíbrio, coordenação e independência. Dentre os recursos terapêuticos mais utilizados, destacam-se:
- Terapia por Contensão Induzida (TCI), em que há contensão do membro não afetado, forçando o uso do membro parético. Estudos demonstram que essa abordagem promove neuroplasticidade e melhora a funcionalidade em pacientes com hemiparesia;
- Terapia do Espelho (Mirror Therapy), em que é utilizado um espelho para criar a ilusão de movimento no membro afetado, estimulando áreas corticais e melhorando a recuperação motora. É especialmente eficaz em casos de dor fantasma e déficits sensitivo-motores;
- Estimulação Elétrica Funcional (FES),em que é aplicada uma corrente elétrica nos músculos paréticos, auxiliando a contração muscular durante atividades funcionais, como marcha e preensão, facilitando a reaprendizagem motora;
- Plataformas de Equilíbrio e Realidade Virtual, como o sistema Wii Balance Board e programas de realidade virtual, que proporcionam treino de equilíbrio e coordenação em ambientes interativos, aumentando a adesão do paciente;
- Método Bobath e PNF (Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva), como técnicas que focam em padrões de movimento sinérgicos, inibindo espasticidade e promovendo controle postural e;
- Hidroterapia, já que o meio aquático reduz a carga articular e oferece resistência gradual, facilitando o treino de marcha e fortalecimento muscular.
A combinação desses recursos, associada a um plano individualizado, maximiza os resultados na reabilitação pós-AVC. A evidência científica atual reforça a importância da abordagem multidisciplinar e da atualização constante dos profissionais.
Resultados esperados e prognóstico funcional
A funcionalidade, mortalidade e qualidade de vida de pacientes pós-AVC são aspectos críticos na reabilitação. Estudos mostram que a fisioterapia precoce melhora significativamente a recuperação motora e funcional, reduzindo complicações como espasticidade e quedas. A mortalidade no primeiro ano pós-AVC varia entre 15% a 30%, sendo maior em casos de AVC isquêmico extenso ou hemorrágico. Fatores como idade, comorbidades e acesso a reabilitação influenciam no prognóstico.
Quanto à qualidade de vida, déficits cognitivos, depressão e limitações físicas impactam diretamente a autonomia e o bem-estar. Intervenções multidisciplinares, incluindo terapia ocupacional e suporte psicológico, são essenciais para melhorar os desfechos.
Conclusão
O fisioterapeuta neurofuncional tem um papel relevante na reabilitação de pacientes pós-AVC, atuando na recuperação de funções motoras, equilíbrio, coordenação e independência funcional. Com o uso de diferentes técnicas o profissional estimula a reorganização neural, promovendo a recuperação de movimentos afetados pela lesão.
Quanto mais precoce for o contato com o profissional, maior a chance de adaptação do paciente a nova rotina após o evento cerebrovascular. A intervenção precoce é crucial para prevenir complicações secundárias, como espasticidade, contraturas e quedas. O tratamento é individualizado, com metas que visam melhorar a qualidade de vida, desde a reeducação da marcha até o treino de atividades diárias. Além disso, o fisioterapeuta orienta familiares e cuidadores, garantindo um ambiente seguro e estimulante para o paciente.