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Terapia manual e liberação miofascial para dor musculoesquelética: evidências atuais

A dor musculoesquelética (DME) é uma condição altamente prevalente que impacta significativamente a qualidade de vida da população em geral. Estudos indicam que cerca de 67,5% das pessoas apresentam algum tipo de dor musculoesquelética, associada a dificuldades para realizar atividades de vida diária (AVD), como caminhar, levantar objetos e realizar tarefas domésticas
¹
. Essa dor crônica limita a funcionalidade, reduz a mobilidade e aumenta a dependência, afetando a autonomia dos indivíduos, especialmente em idosos. Além disso, a DME está fortemente relacionada a transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão, e a distúrbios do sono, que agravam a fadiga e criam um ciclo vicioso de dor e sofrimento emocional
²
.

O impacto social e econômico da dor musculoesquelética também é expressivo, pois compromete a produtividade no trabalho e aumenta o absenteísmo, acarretando perdas para empregadores e trabalhadores. A limitação funcional decorrente da dor pode levar ao isolamento social e à diminuição da autoestima, afetando a participação social e a qualidade de vida global. Por isso, abordagens multidisciplinares que combinam fisioterapia, manejo da dor e suporte psicológico são essenciais para mitigar esses efeitos e promover a reabilitação funcional e emocional dos pacientes.

Em resumo, a dor musculoesquelética é um problema de saúde pública que exige atenção integral, pois afeta não apenas a saúde física, mas também o bem-estar mental e social da população. Estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento são fundamentais para reduzir seu impacto e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados.

Fundamentos da terapia manual e liberação miofascial

A liberação miofascial e a terapia manual são técnicas utilizadas no tratamento da dor musculoesquelética, visando melhorar a função, reduzir a rigidez e promover o alívio da dor. Ambas as abordagens atuam em diferentes mecanismos fisiológicos, influenciando o sistema nervoso, a vascularização e a matriz extracelular. 

A liberação miofascial é uma técnica que visa liberar restrições no tecido conjuntivo (fáscia), melhorando a mobilidade e reduzindo a dor. Os principais mecanismos fisiológicos incluem:

Alterações reológicas do tecido conjuntivo

A aplicação de pressão sustentada e alongamento promove a reorganização das fibras de colágeno, reduzindo aderências e melhorando a elasticidade fascial.

Modulação da dor via sistema nervoso periférico/autonômico

A liberação miofascial estimula receptores mecanossensíveis (como os corpúsculos de Ruffini e Pacini), levando a uma diminuição da atividade simpática e aumento do tônus parassimpático, o que reduz a percepção de dor.

Melhora da circulação sanguínea e linfática

A compressão e descompressão dos tecidos facilitam a remoção de metabólitos inflamatórios e aumentam a oxigenação local, acelerando a recuperação tecidual.

A terapia manual engloba técnicas como mobilização articular, manipulação e massagem terapêutica, atuando através da estimulação de mecanorreceptores (como fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi) e inibindo a transmissão de sinais dolorosos via inibição pré-sináptica no corno dorsal da medula. Também induz a liberação de β-endorfinas e encefalinas, modulando a dor de forma central além de reduzir a expressão de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α) e aumentar a liberação de anti-inflamatórios (IL-10), contribuindo para a reparação tecidual.   

Evidências científicas e aplicações clínicas

A fáscia é um tecido conjuntivo que envolve músculos, ossos, nervos e vasos sanguíneos, contribuindo na biomecânica corporal. Quando ocorrem aderências ou restrições fasciais devido a traumas, inflamação ou má postura, podem surgir dores e limitações de movimento.

A liberação miofascial consiste em técnicas manuais ou instrumentais (como o *foam roller* ou ganchos) que aplicam pressão sustentada sobre as áreas tensionadas, promovendo o relaxamento e a reorganização das fibras fasciais. Estudos indicam que a liberação miofascial pode reduzir a dor em condições como lombalgia crônica, síndrome do impacto do ombro e fibromialgia. Além disso, ela melhora a amplitude de movimento e a circulação local, auxiliando na recuperação de lesões. 

A terapia manual engloba diferentes técnicas (descritas anteriormente) aplicadas para aliviar a dor e restaurar a função musculoesquelética. Em casos de dor aguda (como contusões ou contraturas musculares), a terapia manual pode reduzir a inflamação e acelerar a cicatrização. Já na dor crônica (como osteoartrite ou hérnia de disco), ela ajuda a modular a percepção dolorosa e a melhorar a mobilidade. 

Pesquisas demonstram que a terapia manual é eficaz no tratamento de disfunções da coluna vertebral, tendinopatias e dores de origem neuropática. A combinação de técnicas e mobilizações graduais pode influenciar positivamente o sistema nervoso, reduzindo a sensibilização central presente em muitas síndromes dolorosas crônicas. Tanto a liberação miofascial quanto a terapia manual são intervenções valiosas no manejo da dor aguda e crônica. A escolha da técnica deve ser individualizada, considerando as características clínicas do paciente.

Protocolo de tratamento e integração com outras abordagens

A dor musculoesquelética, especialmente na região lombar, é uma das principais causas de incapacidade funcional e redução da qualidade de vida. A combinação de técnicas como a liberação miofascial (LM), terapia manual (TM) e exercícios terapêuticos tem se mostrado eficaz no manejo dessas condições, promovendo alívio da dor, melhora da mobilidade e restauração da função. Como possibilidade integrada, podem ser realizados exercícios de fortalecimento do core com alongamentos e exercícios de controle motor para estabilizar a coluna lombar e prevenir recidivas.

A combinação com LM e TM potencializa os efeitos, pois as técnicas manuais preparam o tecido para o movimento, enquanto os exercícios consolidam os ganhos. Inicialmente o terapeuta deverá identificar pontos de tensão miofascial, restrições articulares e padrões de movimento alterados. Na sequência, poderá ser feita a aplicação da técnica de LM com pressão sustentada nos pontos gatilho da região lombar, glúteos e cadeia posterior (isquiotibiais) com uso de rolo de espuma ou bola para auto-liberação (quando feito em domicílio). Também poderá ser utilizada as mobilizações lombares (I-IV) para melhorar a mobilidade articular considerando a sintomatologia musculoesquelética. A escolha das técnicas e a sua aplicação dependerá da fase que o paciente se encontra (aguda ou crônica), intensidade dos sinais e sintomas e impacto na vida do paciente.

Conclusão

A integração da liberação miofascial, terapia manual e exercícios terapêuticos oferece uma abordagem multimodal eficaz para o tratamento da dor lombar. A aplicação estruturada dessas técnicas, conforme o protocolo descrito, pode melhorar significativamente os resultados clínicos, reduzindo a dor e restaurando a função musculoesquelética.