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Síndrome Pós-Cuidados Intensivos (PICS): abordagens e tratamento fisioterapêutico

A internação prolongada, especialmente em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), está associada a efeitos significativos na funcionalidade do paciente, incluindo perda de força muscular, redução da capacidade aeróbia e dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs).

O imobilismo prolongado pode desencadear o processo chamado de sarcopenia (redução da força e massa muscular) e à fraqueza adquirida na UTI, resultando em diminuição da capacidade funcional e maior dependência para tarefas básicas, como levantar da cama ou caminhar. Além disso, a descondicionamento cardiorrespiratório reduz a tolerância ao esforço, aumentando o risco de complicações pós-alta. 

A literatura demonstra que a promoção da reabilitação precoce, iniciada ainda na UTI, pode mitigar esses efeitos. Intervenções como mobilização passiva, exercícios ativo-assistidos e treino de marcha precoce melhoram a recuperação funcional, reduzem o tempo de hospitalização e aumentam a independência. A fisioterapia também previne complicações como atelectasias, trombose venosa e disfunções musculoesqueléticas. A reabilitação precoce é uma estratégia que envolve toda a equipe de saúde e é fundamental para preservar a funcionalidade e melhorar a qualidade de vida pós-UTI. 

Principais manifestações da síndrome pós-UTI

A Síndrome Pós-Cuidados Intensivos, ou do inglês
post-intensive care syndrome
(PICS) é um conjunto de alterações físicas, cognitivas e psicológicas que persistem após a alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Afeta pacientes que sobreviveram a doenças graves, como sepse, COVID-19 ou pós-cirurgias complexas, e pode impactar significativamente sua qualidade de vida.

As manifestações da síndrome podem incluir alterações físicas, como fraqueza muscular, fadiga intensa e dificuldades respiratórias decorrentes da imobilização prolongada; comprometimentos cognitivos, como dificuldades de memória, atenção e raciocínio — frequentemente descritos como “nevoeiro mental”; além de transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, associados à experiência vivida na UTI.

A fisioterapia desempenha um papel crucial na recuperação, com exercícios de fortalecimento, treino de equilíbrio e condicionamento cardiorrespiratório. Além disso, acompanhamento psicológico e terapia ocupacional ajudam na reintegração às atividades diárias.

Além disso, a SPCI afeta não apenas os pacientes, mas também seus familiares e a rede de apoio. Sobrecarga emocional, estresse pós-traumático e exaustão são comuns em cuidadores, que enfrentam mudanças bruscas na rotina e no estado de saúde do ente querido. Muitos desenvolvem ansiedade ou depressão, especialmente quando o paciente apresenta sequelas físicas ou cognitivas prolongadas.

A rede de cuidado também é impactada, exigindo suporte multidisciplinar contínuo. Fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e equipe de enfermagem tornam-se essenciais para orientar famílias e garantir a adesão à reabilitação. A falta de preparo dos cuidadores pode levar a reinternações, aumentando custos para o sistema de saúde.  Estratégias como grupos de apoio, educação sobre a SPCI e acompanhamento integrado são fundamentais para reduzir esse impacto, melhorando a qualidade de vida de pacientes e familiares. A reabilitação deve ser vista como um processo coletivo, envolvendo toda a rede de cuidado.  

Abordagens fisioterapêuticas na reabilitação pós-UTI 

A PICS é caracterizada por diversas alterações que comprometem a funcionalidade do paciente necessidade de cuidados após a alta da UTI. Como parte do processo de reabilitação, podem ser realizados exercícios resistidos com faixas elásticas, pesos leves ou carga corporal, que são eficazes para recuperar a força com volume de treino contemplando séries de 8 a 12 repetições, progressivamente aumentadas com o objetivo de restaurar a função muscular.

Como progressão do treinamento, podem ser incluídos treinos em cadeia cinética fechada (como agachamentos assistidos) para otimizar o processo e auxiliar nas atividades de vida diária. Para a melhora da força muscular ventilatória, o uso de dispositivos de resistência — como o Powerbreathe e o Threshold — pode ser um importante aliado na otimização da ventilação e na redução dos quadros de dispneia.

O uso de exercícios de controle da ventilação com movimentos de membros superiores podem ser usados da mesma forma. A espirometria de incentivo pode ser aplicada em pacientes com necessidade de expansão pulmonar.  Para a melhora da mobilidade e capacidade aeróbia, o estímulo precoce como caminhadas pela casa, em esteira ou até o uso de bicicleta ergométrica podem melhorar a tolerância ao esforço. O uso da escala de Borg para a percepção do esforço ajuda a controlar a intensidade do treino e a progressão.  

Evidências sobre a reabilitação pós-UTI

A PICS é uma condição que afeta sobreviventes de internações prolongadas em UTIs, caracterizada por comprometimentos físicos, cognitivos e mentais. A reabilitação precoce e multidisciplinar é essencial para reduzir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Pacientes com PICS apresentam maior risco de mortalidade em longo prazo, devido a complicações como fraqueza muscular adquirida, disfunção respiratória e comorbidades psiquiátricas (como depressão e transtornos de estresse pós-traumático).

Estudos indicam que programas de reabilitação precoce, incluindo fisioterapia motora e respiratória, estão associados a menor tempo de hospitalização e redução de complicações secundárias, como infecções e tromboembolismos.  A PICS pode levar a déficits funcionais persistentes, impactando a independência e o retorno às atividades diárias e, com isso, a percepção de saúde. Intervenções como exercícios de fortalecimento, treino de equilíbrio e suporte psicológico melhoram significativamente a funcionalidade e o bem-estar. Programas de reabilitação pós-alta também são importantes para a reintegração social e ocupacional.  

Conclusão 

O processo de reabilitação em pacientes com PICS deverá ser multiprofissional com o objetivo de reduzir eventos adversos e melhorar a funcionalidade, qualidade de vida e retorno as atividades laborais, se for o caso. O suporte também deverá ser estendido aos cuidadores e familiares que enfrentam os desafios junto ao paciente.