Escalas de sedação e analgesia que todo fisioterapeuta deve conhecer

A sedação e a analgesia são elementos que integram os cuidados e manejo de pacientes críticos, visando garantir conforto, segurança e facilitar a adesão a procedimentos invasivos. A sedação refere-se ao uso de fármacos para induzir um estado de relaxamento, redução da ansiedade e, em alguns casos, depressão do nível de consciência. Já a analgesia tem como objetivo aliviar a dor, um sintoma frequente em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Em pacientes críticos, a sedação e a analgesia são frequentemente utilizadas em conjunto, especialmente durante a ventilação mecânica, onde o controle da dor e a minimização do estresse são fundamentais para otimizar a recuperação. No entanto, o uso inadequado desses medicamentos pode levar a complicações, como prolongamento do tempo de ventilação mecânica, aumento do risco de delirium e maior permanência na UTI.
Por isso, é importante individualizar a abordagem, ajustando a dose e o tipo de fármaco conforme as necessidades de cada paciente. Protocolos de sedação leve e analgesia baseados em escalas validadas, têm sido recomendados para garantir um equilíbrio entre o conforto do paciente e a segurança clínica. Além disso, o uso dessas escalas de forma contínua para monitoramento e a interrupção diária da sedação são estratégias que podem reduzir complicações associadas ao uso prolongado desses medicamentos.
Principais escalas de sedação e analgesia
As escalas de avaliação de sedação e analgesia são instrumentos usados no monitoramento do nível de consciência e do nível de dor em pacientes críticos contribuindo para o melhor manejo dessa população. Entre as principais escalas, destacam-se:
Escala de Sedação e Agitação de Richmond (RASS)
Amplamente utilizada, a RASS varia de -5 (paciente não responsivo) a +4 (paciente agitado). Ela permite uma avaliação rápida e precisa do nível de sedação, auxiliando na titulação de medicamentos sedativos. A Escala de Sedação de Ramsay classifica o paciente em seis níveis, desde "ansioso e agitado" até "sem resposta a estímulos". Apesar de sua simplicidade, é uma ferramenta confiável para avaliar o grau de sedação.
Confusion Assessment Method for the ICU (CAM-ICU)
É uma ferramenta amplamente utilizada para identificar delirium em pacientes críticos, uma condição comum em unidades de terapia intensiva (UTI) que pode levar a complicações significativas. O CAM-ICU é baseado em quatro critérios: início agudo ou flutuação do estado mental, desatenção, pensamento desorganizado e alteração do nível de consciência. Sua aplicação é rápida e eficaz, permitindo a detecção precoce do delirium e direcionar a melhor intervenção. Estudos mostram que o uso do CAM-ICU melhora a identificação do delirium, facilitando a implementação de estratégias de prevenção e tratamento.
Escala de Avaliação de Dor em Pacientes Críticos (CPOT)
Para avaliação do nível de analgesia, a Escala de Avaliação de Dor em Pacientes Críticos (CPOT) foi especificamente desenvolvida para pacientes incapazes de se comunicar, a CPOT avalia indicadores comportamentais e fisiológicos de dor, como expressão facial, movimentos corporais e tensão muscular.
Escala Visual Analógica (EVA)
Outra ferramenta para o monitoramento da dor é a Escala Visual Analógica (EVA). É um método simples e eficaz para avaliar a intensidade da dor em pacientes críticos, mesmo naqueles com comunicação limitada, já que precisa de um mínimo de participação do mesmo. A EVA consiste em uma linha de 10 cm, onde o paciente indica o nível de dor, variando de "nenhuma dor" a "dor máxima". Em pacientes incapazes de se comunicar, versões adaptadas, como a Escala de Dor Comportamental, podem ser utilizadas. A avaliação adequada da dor compõe o manejo clínico, pois a dor não controlada pode levar a complicações como aumento do estresse metabólico e aumento do tempo de internação.
Influência da sedação e analgesia no manejo do paciente crítico: vantagens e desvantagens
A sedação e a analgesia desempenham papéis fundamentais no processo de reabilitação. Em UTI, a sedação é frequentemente utilizada para promover conforto, reduzir a ansiedade e facilitar o uso da ventilação mecânica. Já a analgesia visa controlar a dor, que, se não tratada adequadamente, pode levar a complicações podendo impactar na recuperação funcional.
No entanto, o uso excessivo ou inadequado desses recursos pode resultar em efeitos adversos, como delirium, fraqueza muscular adquirida na UTI e prolongamento do tempo de desmame ventilatório, tendo impacto negativo na reabilitação.
A reabilitação precoce em pacientes críticos tem ganhado destaque como estratégia para melhorar os desfechos funcionais. No entanto, a sedação profunda e a analgesia excessiva podem limitar a participação do paciente em terapias físicas e cognitivas, essenciais para a recuperação.
Por isso, protocolos de sedação consciente e analgesia multimodal têm sido recomendados, visando equilibrar o controle da dor e a manutenção da consciência, permitindo que o paciente colabore com a equipe de reabilitação. Além disso, o monitoramento adequado dessas variáveis (nível de sedação e dor), por meio de escalas validadas, é necessário para individualizar o processo terapêutico.
Uma condição que pode ocorrer em pacientes críticos é o delirium. Trata-se de uma síndrome aguda e flutuante caracterizada por alterações na atenção, consciência e cognição, comum em pacientes críticos internados em UTIs. Sua ocorrência está associada a fatores como infecções, distúrbios metabólicos, sedação excessiva e imobilidade prolongada.
Essa condição impacta negativamente a recuperação, aumentando o tempo de internação, o risco de complicações e a mortalidade. O manejo do delirium na reabilitação envolve estratégias multiprofissionais, incluindo a mobilização precoce, estímulos cognitivos e ajustes farmacológicos.
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Desafios na aplicação e interpretação das escalas
A utilização de escalas para sedação e analgesia é uma das etapas no cuidado ao paciente crítico. No entanto, a aplicação e interpretação dessas escalas apresentam desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a subjetividade inerente a muitas dessas ferramentas, como a Escala de Sedação de Richmond (RASS) e a Escala de Avaliação de Dor em Pacientes Críticos (CPOT). A interpretação dos resultados pode variar entre profissionais, levando a inconsistências no manejo do paciente.
Além disso, a falta de treinamento adequado e a rotatividade de equipes dificultam a padronização do uso dessas escalas. Em contextos de reabilitação, onde os pacientes podem apresentar condições complexas, como déficits cognitivos ou de comunicação, a avaliação torna-se ainda mais desafiadora.
Barreiras práticas, como a sobrecarga de trabalho e a falta de tempo, também comprometem a aplicação consistente dessas ferramentas. Para superar esses desafios, estratégias como a educação continuada, a implementação de protocolos padronizados e o uso de tecnologias para registro e monitoramento contínuo dos dados são estratégias que podem minimizar as dificuldades do seu uso.
Conclusão
O uso de escalas de sedação e analgesia por fisioterapeutas deverá fazer parte do processo de avaliação e monitoramento. Essas ferramentas permitem que a equipe avalie com maior precisão o nível de conforto e sedação do paciente, ajustando intervenções de forma segura e individualizada. Isso otimiza o processo de reabilitação e reduz riscos de complicações, contribuindo para uma recuperação mais eficaz e segura, especialmente em pacientes críticos ou pós-cirúrgicos.