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Intoxicação exógena: identificação, intervenção e cuidados de enfermagem

Caracteriza-se como intoxicação exógena as consequências clínicas e/ou bioquímicas derivadas da interação entre o organismo e substâncias tóxicas. Essa interatividade pode levar a efeitos prejudiciais à vida, causando um desequilíbrio tóxico. Podem ocorrer pela ingestão ou contato do agente tóxico com a pele, olhos ou mucosas. O que determina se uma substância é tóxica ou não, além de sua natureza, é a quantidade/concentração e tempo de exposição à dada substância.

As medicações, por exemplo, são excelentes medidas utilizadas no controle e tratamento de patologias, no entanto, são consideradas a segunda causa de intoxicação exógena, ocasionada pelo uso excessivo e inapropriado. A intoxicação exógena por medicação se apresenta como uma das três abordagens mais recorrentes na prática de tentativa de suicídio (ato executado pelo próprio indivíduo, tendo como objetivo interromper o curso da vida, de forma intencional ou consciente).

Toda suspeita ou confirmação de intoxicação trata-se como situação clínica de potencial grave, devido aos riscos de prognóstico negativo por muitas vezes não aparentar sinais iniciais claros. Esses casos exigem uma abordagem precisa, criteriosa e rápida.

O papel do enfermeiro

O objetivo do enfermeiro é coordenar, apresentar e executar a sistematização da assistência de enfermagem, garantindo qualidade e segurança no tratamento desde o diagnóstico inicial até o atendimento do paciente em emergência médica. Esta condição representa uma situação ou agravo à saúde que exige intervenção rápida ou imediata devido ao risco de morte. O atendimento pode ser realizado tanto no contexto do atendimento pré-hospitalar básico quanto no avançado.

A equipe de enfermagem desempenha um papel crucial no manejo das intoxicações exógenas, oferecendo assistência direcionada ao tipo específico de intoxicação e prevenindo possíveis complicações e alterações orgânicas. A atuação multiprofissional é essencial em todas as etapas da assistência.

O tipo, a intensidade e a quantidade de sintomas de intoxicação variam de acordo com o tipo de substância tóxica que é ingerida, a quantidade e estado físico da pessoa que a ingeriu. Além disso, as crianças e os idosos são mais sensíveis a intoxicações. O tratamento para intoxicação varia de acordo com a causa e estado clínico da pessoa, podendo ser iniciado já na ambulância ou ao chegar no pronto-socorro. Envolve as seguintes etapas:

  • Avaliar os sinais vitais;
  • Identificar as causas da intoxicação, através da análise da história clínica, sintomas e exame físico da vítima;
  • Fazer a descontaminação, que tem como objetivo diminuir a exposição do organismo à substância tóxica, através de medidas como lavagem gástrica, irrigação de soro fisiológico através de uma sonda nasogástrica, administração de carvão ativado no trato digestivo para facilitar a absorção do agente tóxico, ou lavagem intestinal, com laxativos, como manitol;
  • Usar um antídoto, se houver, que pode ser específico para cada tipo de substância.

Importante ressaltar que toda intoxicação confirmada ou não deve ser tratada como potencialmente grave, pois mesmo os pacientes assintomáticos podem evoluir a danos irreparáveis à saúde.

Na anamnese, passou a ser adotado a estratégia dos “5 Ws” que auxilia na busca ativa de informações sobre o paciente.

  1. Who (quem): objetiva identificar o paciente e suas condições, suas patologias pré-existentes, as medicações na qual faz uso, tentativas anteriores e etc;
  2. What (o que): procura identificar o agente tóxico e a quantidade da exposição;
  3. When (quando): atenta- se para o horário do ocorrido;
  4. Where (onde): local e via de exposição;
  5. Why (porque): o motivo e circunstâncias da exposição.

O protocolo de atendimento ABCDE foi adaptado para a abordagem inicial ao paciente intoxicado. A sequência a ser adotada é CABDE que inicia com C, indicando a avaliação da circulação do paciente e acesso venoso calibroso que objetive a estabilização hemodinâmica. A representa as vias aéreas, B verificação da respiração e oxigenação, D avaliar se existe algum déficit neurológico e E a exposição.

Assim, após a liberação das vias aéreas e aporte de oxigênio e hidratação necessária, deve-se iniciar o processo de descontaminação, evitando a piora clínica do indivíduo. É importante incluir o monitoramento constante dos sinais vitais, a avaliação das pupilas quanto a reatividade da luz e o diâmetro, o nível e estado de consciência, umidade e temperatura, a oximetria de pulso, glicose capilar, monitorização e eletrocardiograma, a realização de medidas para prevenir complicações e a administração de medicações específicas para combater os efeitos tóxicos.

No atendimento intra-hospitalar, a escala de Glasgow é uma ferramenta essencial para o enfermeiro mensurar os níveis de consciência do paciente. A escala avalia três parâmetros: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. Quando a pontuação na escala é ≤ 8, geralmente é indicada a intubação orotraqueal para proteção da via aérea. O tratamento direcionado visa interromper ou diminuir a absorção do agente tóxico, aumentar sua eliminação e realizar intervenções com antídotos e antagonistas apropriados.

Na intoxicação exógena medicamentosa, em grande parte, a ingestão ocorre de forma oral fazendo-se necessário a administração de antídotos para a descontaminação gastrointestinal, sendo complementada com o uso do carvão ativado para absorver as toxinas e, em alguns casos, é preconizado a realização da lavagem gástrica.

Não há consenso sobre o tempo ideal para a lavagem gástrica, mas recomenda-se realizá-la em até 60 minutos após a ingestão, pois as chances de sucesso são maiores. Esse procedimento é indicado em casos de substâncias com alto nível de toxicidade sistêmica e potencialmente prejudiciais, além de substâncias que não podem ser absorvidas pelo carvão ativado. Também é indicado em casos específicos de retardo do esvaziamento gástrico, considerando o grau de toxicidade da substância ingerida.

Como conduta inicial para indivíduos com alteração no nível de consciência, deve-se administrar tiamina e glicose por via intravenosa, a menos que hipoglicemia e
intoxicação alcoólica
sejam descartadas. Se a suspeita diagnóstica for intoxicação por opioides, o tratamento deve ser baseado no agente específico ao qual o paciente foi exposto. É importante observar sinais clínicos como rebaixamento do nível de consciência, depressão respiratória, pupilas mióticas e puntiformes, marcas de uso intravenoso e extremidades edemaciadas. Nessas situações, deve-se considerar a possibilidade de uso de opioides e administrar naloxona, se indicado.

A perspectiva investigativa do enfermeiro na prestação de assistência é crucial para detectar fatores que tornam uma pessoa vulnerável à tentativa de autoextermínio. Ao admitir um paciente, é essencial estar atento a tentativas recidivas de suicídio, doenças ou transtornos mentais, doenças crônicas sem progressão positiva, e falas ou ações que demonstrem impulsividade e desesperança. É importante contactar familiares e serviços de saúde especializados para alertar a rede de apoio, visando à preservação da vida em situação de risco. Além disso, deve-se ressaltar a importância do planejamento para o futuro e do suporte psicoemocional e social.

Ressalta-se ainda a importância da articulação da assistência de enfermagem na promoção, prevenção e tratamento desse agravo. É fundamental que o enfermeiro esteja tecnicamente preparado para cuidar de pacientes com intoxicação exógena, abordando não apenas o estado físico, mas também os aspectos sociais e psicológicos.

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