Parentalidade no TEA: como psicólogos podem oferecer suporte?

Prevalência e Desafios do Transtorno do Espectro Autista (TEA)
A prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem aumentado significativamente em nível global nos últimos anos, impactando famílias e comunidades em diversas partes do mundo (Zhang et al., 2022). O TEA é um transtorno que exige mudanças substanciais na vida cotidiana das pessoas afetadas e de suas famílias, sendo essencial a inclusão de pais ou cuidadores no tratamento para promover o desenvolvimento da criança (Zhao et al., 2023). Para tanto, modificações no ambiente familiar e nos cuidados diários dos cuidadores são necessárias para atender às necessidades das crianças com TEA (Miller et al., 2021; Souza & Alves, 2022). A família desempenha um papel fundamental como promotora do desenvolvimento do indivíduo com TEA (Baker-Ericzen et al., 2021).
Impactos na Dinâmica Familiar e Estresse Parental
Criar uma criança com autismo pode gerar desafios significativos para as famílias, impactando a dinâmica familiar e aumentando os níveis de estresse parental. Estudos demonstram que os pais de crianças com autismo apresentam níveis elevados de estresse em comparação com pais de crianças com desenvolvimento típico (Simpson et al., 2020). Além disso, as famílias frequentemente relatam dificuldades no funcionamento familiar, com menor adaptabilidade, coesão e satisfação conjugal, especialmente quando comparadas a grupos normativos (Williams et al., 2021). O risco de divórcio entre pais de crianças com autismo é significativamente maior, permanecendo elevado até a adolescência (Miller et al., 2020).
Resiliência Familiar e Crescimento a Partir do Desafio
Apesar das dificuldades, muitas famílias relatam um fortalecimento dos laços familiares, com algumas se tornando mais unidas e resilientes diante das adversidades (Bayat, 2023). Isso demonstra que, embora os desafios sejam intensos, alguns pais conseguem utilizar a experiência de criar uma criança com TEA como um caminho para o crescimento pessoal e fortalecimento dos vínculos familiares.
Psicoterapia e Abordagens Terapêuticas para Pais de Crianças com TEA
Os pais de crianças com TEA podem se beneficiar de psicoterapia para lidar com os estresses crônicos e agudos associados ao cuidado de um filho com essa condição. Embora a terapia de casal específica para pais de crianças com TEA ainda careça de estudos aprofundados, abordagens terapêuticas sistêmicas podem ser eficazes para oferecer suporte integrativo aos pais (Kuperstein et al., 2022). A experiência de cuidado dos pais envolve o gerenciamento de múltiplos desafios, como o acesso a serviços terapêuticos e educacionais e a conciliação entre trabalho e responsabilidades familiares (Brobst et al., 2022). A abordagem integrativa pode ajudar a fortalecer a resiliência dos pais e a melhorar a qualidade de vida familiar (Higgins et al., 2021).
Autoeficácia Parental e sua Importância no Cuidado e Desenvolvimento do Filho com TEA
A autoeficácia parental, definida como a crença na capacidade de organizar e executar ações eficazes para gerar resultados desejados (Bandura, 1997), é essencial no contexto de pais de crianças com TEA. A percepção da própria eficácia afeta diretamente a motivação e persistência dos pais no cuidado de seus filhos (Zhao et al., 2023). Estudo de Teti e Gelfand (2021) sugere que a autoeficácia parental é um mediador central entre a competência no cuidado e outros fatores, como dificuldades emocionais e necessidade de apoio social.
Treinamento de Profissionais e Familiares: Métodos de Ensino e Práticas Baseadas em Evidências (PBE)
A formação de pais e profissionais em práticas baseadas em evidências (PBE) é crucial para melhorar os cuidados e as intervenções com crianças com TEA. O Behavioral Skills Training (BST) tem se mostrado eficaz no treinamento de pais e profissionais em modalidades presenciais, oferecendo habilidades fundamentais para lidar com os desafios do TEA (Kirkpatrick et al., 2021). O Interactive Computer Training (ICT) também se destaca como uma alternativa eficiente, especialmente em contextos de ensino remoto, permitindo maior flexibilidade e personalização do treinamento (Barboza et al., 2021).
Práticas Baseadas em Evidências (PBE) e a Abordagem da Análise do Comportamento para o Tratamento do TEA
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem sido amplamente reconhecida como uma abordagem eficiente para intervenções com indivíduos com TEA. A ABA baseia-se em metodologias rigorosas e evidências científicas, sendo incorporada nas práticas baseadas em evidências (PBE), com foco em promover intervenções clínicas rigorosas (Hume et al., 2022). Essa abordagem tem mostrado resultados positivos em termos de desenvolvimento de habilidades e redução de comportamentos desafiadores em crianças com TEA (Smith & Woods, 2023).
Autoras
- Karina Kelly Borges
Psicóloga e Neuropsicóloga. Professora Adjunta e Coordenadora da Residência em Reabilitação Física da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). Líder do Laboratório de Psicodiagnóstico e Neuropsicologia (LaPNE – CNPq). Coordenadora de cursos de pós-graduação do Instituto de Psicologia, Educação, Comportamento e Saúde (IPECS)
- Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo
Psicóloga e Mestra em Psicologia (área de concentração Cognição Humana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutoranda em Psicologia em Saúde e Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), com bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e com Formação em Terapia do Esquema. Pesquisadora e Supervisora no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (LaPICC) da Universidade de São Paulo (USP). Membro associada à Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC).
- Editora-chefe:Carmem Beatriz Neufeld.
Psicóloga. Livre docente em TCC pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora e Mestra em Psicologia pela PUCRS. Fundadora e Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente-fundadora da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023). Bolsista Produtividade do CNPq.