Pessoa vivendo com HIV: atenção pela enfermagem

A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é o estágio avançado da infecção pelo HIV, caracterizado por um grave comprometimento do sistema imunológico, que favorece o surgimento de doenças oportunistas causadas por vírus, bactérias, protozoários, fungos e neoplasias. Com os avanços nas terapias antirretrovirais, pacientes que aderem ao tratamento de forma eficaz, conseguem viver com boa saúde por muitos anos.
Depois de ser infectado pelo HIV, a AIDS pode levar anos para se manifestar, então uma pessoa pode carregar o vírus em seu corpo e ainda não apresentar a doença ou parecer doente. À medida que a doença progride, o HIV começa a destruir os glóbulos brancos do paciente, diminuindo a ação do sistema imunológico e consequentemente, as defesas do corpo, assim, várias doenças oportunistas podem surgir e complicar sua saúde.
É importante dizer que o vírus está presente no esperma, nas secreções vaginais, no leite materno e no sangue, porém, as principais situações de contaminação são: transfusão de sangue, relação sexual sem preservativo, compartilhamento de seringas ou objetos perfurocortantes com resíduos de sangue e transmissão de mãe para filho durante a gravidez ou amamentação. Esse conhecimento é importante para diminuir o estigma da doença.
O Brasil oferta universal e gratuitamente, por meio da Lei nº 9.313 de 1996, os medicamentos necessários ao tratamento dos portadores do HIV e doentes de AIDS. Essa política aplicada pelo país gerou grandes resultados frente às comorbidades e expectativa de vida dos pacientes, expressos pela diminuição da morbimortalidade, das internações hospitalares e da transmissão vertical do vírus, além da redução do risco da transmissão horizontal e do desenvolvimento de HIV resistente aos medicamentos antirretrovirais.
Cuidados de Enfermagem
A atuação da enfermagem no cuidado às pessoas vivendo com HIV deve ser pautado na humanização e no respeito, utilizando a promoção da saúde para oferecer o tratamento adequado, aumentando a qualidade de vida dos pacientes. Sendo assim, a atenção primária desempenha um papel fundamental no acompanhamento por meio de exames e monitoramento do quadro clínico, avaliando a eficácia terapêutica e a adesão do paciente ao tratamento. Além disso, a assistência deve ser holística, promovendo o fortalecimento dos pacientes, especialmente por meio de grupos de apoio, que auxiliam no enfrentamento da condição e no suporte emocional.
A atenção aos pacientes com HIV/AIDS e os cuidados de enfermagem voltados à promoção da qualidade de vida são essenciais para oferecer um atendimento de excelência, mesmo em contextos de cuidados paliativos. Dado que o HIV/AIDS ainda não tem cura, o acompanhamento contínuo pela equipe multiprofissional é indispensável. Nesse cenário, o enfermeiro desempenha um papel fundamental, estando na linha de frente para conscientizar os pacientes e esclarecer dúvidas, garantindo um cuidado integral e humanizado.
O papel dos enfermeiros no cuidado de pacientes com HIV abrange várias dimensões, incluindo aconselhamento, apoio emocional e educação em saúde. Os enfermeiros atuam como facilitadores essenciais para melhorar a adesão à medicação, fornecer cuidados preventivos e atender às necessidades psicossociais dos pacientes.
Ao prestar cuidados aos pacientes com HIV e AIDS, é necessário garantir a adesão a determinadas normas, como o uso das precauções universais, educação sobre formas de prevenção da transmissão do vírus, avaliação psicossocial, desenvolvimento de estratégias de adesão do paciente, tratamento antirretroviral, educação e intervenções para controlar os sintomas da doença.
Importância da consulta de enfermagem
Por meio de abordagem contextualizada e participativa, reconhece-se que a consulta de enfermagem pode subsidiar condições para melhorar a qualidade de vida dos sujeitos, de forma que o enfermeiro consiga demonstrar interesse pelo ser humano e seu modo de vida, a partir da consciência reflexiva de suas relações no meio social.
Abordagem inicial do cuidado à pessoa que vive com HIV
- O enfermeiro deve realizar uma escuta respeitosa e acolhedora, sanando dificuldades de acesso e ou intercorrências durante o processo de forma empática e profissional;
- É importante explicar com clareza que ele terá todo suporte necessário, seja ele psicológico ou clínico;
- Assegurar ao cliente confidencialidade e sigilo;
- Esclarecer o cliente em relação ao tratamento, disponibilizando a ele todo suporte para sanar dúvidas;
- Destaca-se, ainda, a necessidade de realizar um plano de cuidados que leve em consideração as subjetividades relacionadas ao processo de adoecimento e que se constituem em situações que impulsionam o medo, a angústia e o sofrimento desencadeados pela patologia.
É importante que os profissionais de enfermagem obtenham dos pacientes fatores de risco, sinais e sintomas, infecções recente, histórico de exames de sangue. Outro fator importante é a avaliação nutricional, para investigar se há perda de peso, redução de dobras cutâneas, anemia, etc.
A educação em saúde surge de forma óbvia e efetiva no tratamento de pessoas vivendo com HIV, pois o enfermeiro deve conscientizar os pacientes sobre a doença, sua origem, sinais e sintomas, uso de medicamentos antivirais, meios e métodos de prevenção da transmissão do HIV.
A mudança no estilo de vida, abordada e incentivada na consulta de enfermagem, constitui um dos maiores desafios para o cuidado da pessoa que vive com HIV. O abandono do uso de drogas, do tabagismo, do etilismo e dos comportamentos sexuais de risco estão entre os principais dificultantes desse processo, além da baixa adesão à TARV, considerando os efeitos colaterais dessas medicações.
Adesão à TARV como principal cuidado de enfermagem aos pacientes com HIV
Com o consequente aumento da longevidade dos indivíduos em razão da TARV, a infecção pelo HIV começou a ser manejada como uma doença crônica, que demanda, entre outros cuidados, acompanhamento médico regular e mudanças significativas no estilo de vida do paciente. Tendo isso em vista, a adesão à TARV tornou-se uma preocupação constante dos profissionais de saúde para com os pacientes com HIV. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os tratamentos a longo prazo apresentam grande falha de adesão na população em geral, resultando em taxas de 50% à não-adesão.
Um dos motivos que reduzem a adesão à TARV é a série de distúrbios metabólicos que seu uso pode provocar. Dentre os efeitos adversos referidos pelos pacientes submetidos à TARV ou identificados pelos profissionais de saúde, encontram-se rash, náusea, diarreia, insuficiência renal, perda óssea, reações adversas do sistema nervoso central, hepatotoxicidade, lipoatrofia, hipertrigliceridemia, dislipidemia, resistência à insulina, hepatotoxicidade.
Outro fator que pode impactar na adesão à TARV é o consumo de álcool. O seu uso problemático pode reduzir a adesão do paciente a Terapia Antirretroviral, além de propiciar comportamentos de risco como uso de outras drogas e de aumentar a frequência de depressão.
A adesão do paciente à TARV precisa ser monitorada clinicamente e cientificamente. O monitoramento clínico identifica os usuários que não aderiram ao tratamento e o científico, por meio da análise estatística de dados, identifica a prevalência da não adesão.
A importância da vacinação no cuidado de pessoas vivendo com HIV
A função da enfermagem na vacinação de pessoas vivendo com HIV é fundamental para a promoção da saúde e prevenção de doenças, uma vez que a imunização é uma estratégia importante no manejo de proteção desses pacientes. Os enfermeiros garantem que esses pacientes recebam vacinas importantes, prevenindo infecções devido à imunossupressão.
Esse papel é cada vez mais reconhecido em ambientes clínicos e comunitários. A enfermagem educa sobre a importância das vacinas e orientam sobre os tipos e o momento adequado para a vacinação, especialmente para aqueles indivíduos imunossuprimidos.
As evidências já mostram que as ações de enfermagem na promoção da saúde e prevenção do HIV incluem diversas estratégias para atender às necessidades individuais e comunitárias, sendo essenciais no controle da transmissão, especialmente entre populações vulneráveis, como adolescentes e casais sorodiscordantes.
Portanto, os enfermeiros desempenham um papel chave na educação sobre formas de transmissão e prevenção, como práticas sexuais seguras e a importância de testes regulares. Além disso, o aconselhamento é fundamental para apoiar as necessidades emocionais e psicológicas dos indivíduos afetados.