Politrauma: avaliação e gerenciamento pela enfermagem
O politraumatismo é considerado a primeira causa de morte entre indivíduos na faixa etária de 20 a 40 anos de idade, ou seja, na fase em que o indivíduo é mais produtivo. As vítimas, na grande maioria, são do gênero masculino. Esta prevalência pode ser atribuída ao fato da população masculina ser mais propensa a atividades e comportamentos de risco.
Este fenômeno se constitui em um problema que, além de gerar prejuízos para os serviços públicos de saúde, em função dos gastos com o tratamento e com o processo de reabilitação da vítima, pode ocasionar prejuízos pessoais, econômicos e sociais de grande proporção. Afinal, as sequelas, geralmente, requerem que o indivíduo se afaste de suas atividades, incluindo as laborais.
O politraumatismo é decorrente de algum evento traumático em que ocorra grande desprendimento de energia, como acidentes de trânsito, quedas, atropelamentos, ferimentos por armas de fogo, entre outras causas que possam vir a causar no individuo lesões de maior gravidade.
O trauma, apesar de causar impacto na saúde pública e representar altos custos sociais, foi negligenciado como doença por muito tempo. Tal situação pode ser atribuída ao fato de o trauma ser considerado acidente e ter conotação de algo inesperado e sem controle.
Entretanto, o conhecimento acerca das causas e consequências desse agravo favorecem a obtenção do diagnóstico e a adoção de medidas de prevenção, controle e assistência.
Atenção ao trauma no ambiente hospitalar
No serviço hospitalar, a avaliação inicial do indivíduo politraumatizado é realizada na emergência no momento da chegada do paciente, visando ao estabelecimento do equilíbrio fisiológico da vítima, através da identificação e tratamento das lesões. Tal avaliação, denominada de exame primário, é seguida pela identificação de outras lesões (exame secundário) e das orientações para o tratamento definitivo (cuidados definitivos).
A equipe de enfermagem, ao realizar o exame primário e secundário da vítima de politraumatismo, necessita atuar de forma ágil e eficaz, com o intento de reduzir a gravidade das lesões e as taxas de mortalidade por esta causa.
Avaliação primária
Na avaliação primária, realiza-se a
busca de lesões que ofereçam risco iminente à vida do indivíduo
. Esta avaliação é desenvolvida por meio de exame físico rápido, seguindo de tratamento imediato, a fim de restabelecer o padrão hemodinâmico da vítima.
Na avaliação do nível de consciência do paciente, utiliza-se a
escala de coma de Gasglow
(sistema de pontuação mais utilizado internacionalmente para avaliação de pacientes). Este é um dos aspectos importantes que deve ser valorizado na avaliação da vítima.
Avalia-se a reatividade do paciente por meio da observação de três parâmetros: abertura ocular, reação motora e resposta verbal. Cada componente dos três parâmetros recebe um escore, variando de três a 15, sendo o melhor escore 15 e o menor, três.
Pacientes com escore 15 apresentam nível de consciência normal. Pacientes com escores menores que oito são considerados em coma, representando um estado de extrema urgência. Durante as primeiras 48 horas, a equipe de enfermagem deve estar atenta ao controle dos sinais vitais e às mudanças de escore.
Recentemente houve uma atualização da Escala de Glasgow, onde foi incluída a
Reatividade Pupilar
, ou seja, a reatividade da pupila à luz. Ao contrário dos outros critérios, este é pontuado de forma decrescente e subtraído, possibilitando que o resultado final apresente pontuação de 1 a 15. Na reatividade pupilar, o pior resultado apresenta a maior pontuação. Assim, teremos a seguinte atribuição:
- 2 pontos – Nenhuma reatividade em ambas as pupilas
- 1 ponto – Sem reação em apenas uma das pupilas0 pontos – Caso as duas pupilas estejam funcionando normalmente
Nesse sentido, a assistência ao indivíduo politraumatizado mediante práticas sistematizadas possibilita que o atendimento seja mais seguro e eficaz. Por esse motivo, na maioria das instituições de saúde é adotado como referencial a regra do ABCDE, sistematizada pelo Comitê do Prehospital Trauma Life Support e o Protocolo de Atendimento às Unidades de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde.
Esta regra consiste em uma sequência mnemônica, assim disposta:
- A (Air Way) – permeabilidade das vias aéreas com administração segura do colar cervical;
- B (Breathing) – respiração;
- C (Circulation) – busca de sangramentos e controle da circulação;
- D (Disability) – avaliação neurológica;
- e E (Exposure) – exposição corporal do paciente à procura de lesões não visualizadas e posterior aquecimento na prevenção da hipotermia e do choque.
Avaliação secundária
A avaliação secundária consiste na realização do exame físico completo da cabeça aos pés; atenção às particularidades de cada estrutura examinada; aferição dos sinais vitais; realização de entrevista completa com o paciente ou o acompanhante e; sugestão de exames complementares, laboratoriais e reavaliação.
Exame minucioso deve ser iniciado somente quando tratadas as condições que colocam em risco a vida do paciente. Essas etapas são essenciais para tomada de decisão rápida e precisa, com o intuito de redução de danos e estabilização da vítima.
Nesta avaliação compete à enfermagem a realização de determinados cuidados como, por exemplo: reavaliação dos procedimentos efetuados na avaliação primária; exame físico completo e minucioso; instalação de acesso venoso, quando não houver, e sonda nasogástrica e vesical, se necessárias.
Exames específicos
Concluídas as etapas do ABCDE, segundo o Ministério da Saúde, devem ser realizados os exames específicos. A iniciativa por parte da equipe de enfermagem em sugerir aos médicos solicitação de algum exame adicional é imprescindível, já que esses também são responsáveis pela adequada assistência à vítima. Esses cuidados estão inseridos no conjunto de procedimentos preconizados para avaliação e assistência ao indivíduo vítima de politraumatismo.
É imprescindível que o enfermeiro tenha como sua responsabilidade a gestão do local de atendimento (sala de emergência), garantindo que este esteja organizado de modo que todos os profissionais tenham espaço para atuar no paciente e que todo o material que possa ser necessário esteja próximo, assim como carrinho de parada e medicações.
Em vista disso, compete ao enfermeiro, a identificação de lesões e agravos e o gerenciamento da assistência de enfermagem. Este tipo de ocorrência requer que os profissionais possuam habilidades e competências técnico-científica para lidar com os problemas como um todo, sendo capazes de manter a calma e garantir uma avaliação completa e humanizada do paciente.
Cabe ainda ao enfermeiro coordenar a equipe de enfermagem de forma objetiva, de modo a diminuir as sequelas do paciente, possuindo habilidades e conhecimento para realizar assim um trabalho eficaz.
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