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Efeitos extrapiramidais: medicações relacionadas

Neuroanatomicamente, o sistema extrapiramidal é constituído pelos gânglios da base — que incluem os núcleos caudado, putamen e globo pálido —, substância negra e núcleo subtalâmico (de Luys), área extrapiramidal do córtex cerebral, alguns núcleos talâmicos, núcleo rubro, oliva, formação reticular e teto mesencefálico. O núcleo lentiforme é constituído pelo putamen e globo pálido. O estriado é formado pelos núcleos caudado e putamen. Corpo estriado refere-se aos núcleos caudado, putamen e globo pálido. Podem-se incluir como partes do sistema extrapiramidal o cerebelo e os núcleos vestibulares. 

Essa descrição anatômica é feita para que se possa compreender em quais locais são produzidos os neurotransmissores que, quando em desbalanço, causam a Síndrome Extrapiramidal. O neurotransmissor sintetizado no trato nigroestriado é a dopamina. Nos tratos nigrotalâmico, nigrotectal, estriadopálido, pálidotalâmico e estriadonigral, o neurotransmissor é o GABA; no trato corticoestriado, é o glutamato. 

A dopamina é o principal neurotransmissor envolvido na Síndrome Extrapiramidal induzida por fármacos, e esta é caracterizada, fisiopatologicamente, pelo bloqueio pós-sináptico dos receptores dopaminérgicos. Trata-se de um neurotransmissor catecolaminanérgico, precursor da norepinefrina, secretado pelos neurônios dopaminérgicos de origem simpática extrínseca, e que exerce ações no sistema nervoso central e periférico. 

Os principais fármacos envolvidos na Síndrome Extrapiramidal são os neurolépticos, que atuam como antagonistas do receptor D2, diminuindo sua ativação pela dopamina endógena, o que, consequentemente, pode causar distúrbios de movimento. Além dos antipsicóticos, fármacos antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, e antieméticos podem bloquear os receptores de dopamina, tornando-a menos disponível para a sinapse no neurônio pós-sináptico. 

Os sintomas da Síndrome Extrapiramidal induzida por inibidores seletivos da recaptação de serotonina provavelmente estão relacionados ao agonismo da entrada serotonérgica em vias dopaminérgicas no sistema nervoso central. A predisposição individual, o uso prolongado e a farmacocinética podem determinar a probabilidade de surgimento dos sinais. Embora os efeitos colaterais sejam pouco frequentes, os profissionais de saúde devem estar alertas para a possibilidade de sua ocorrência. 

Efeitos extrapiramidais
 

O sistema extrapiramidal é um conjunto de vias neurais que ajudam a coordenar e regular os movimentos. Medicamentos que interferem na ação da dopamina, um neurotransmissor importante para o movimento, podem causar disfunções nesse sistema, levando aos efeitos extrapiramidais. 

Sintomas mais comuns
 

  • Rigidez:
    ocorre quando os músculos ficam tensos e resistentes ao movimento, dificultando a movimentação e causando uma sensação de rigidez. 
  • Bradicinesia:
    refere-se à lentidão dos movimentos, em que o indivíduo leva mais tempo para realizar tarefas que normalmente seriam rápidas. 
  • Tremor:
    são movimentos involuntários e rítmicos de uma parte do corpo, como as mãos ou os dedos, que podem ser mais evidentes em repouso ou durante a ação. 
  • Distonia:
    envolve contrações musculares involuntárias que levam a movimentos torcidos, repetitivos ou posturas anormais, como o torcicolo. 
  • Acatisia:
    caracteriza-se por uma inquietação motora, com sensação de desconforto interno que leva a movimentos repetitivos e involuntários, como caminhar de um lado para o outro ou mexer as pernas. 
  • Parkinsonismo:
    sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson, como tremores, rigidez muscular e lentidão de movimentos. 
  • Discinesia tardia:
    movimentos repetitivos e involuntários, principalmente da face, boca e língua, que podem aparecer após o uso prolongado de certos medicamentos. 
  • Outros sintomas relacionados:
    dificuldade para manter-se em pé ou andar, dificuldade de concentração e alterações no sono, dificuldade para engolir, alterações na voz, movimentos involuntários do rosto e/ou da língua. 

É fundamental reconhecer os sintomas extrapiramidais, pois eles podem causar grande desconforto e interferir na vida diária do indivíduo. O tratamento pode incluir a interrupção ou ajuste da medicação causadora, ou o uso de medicamentos para controlar os sintomas. 

Além dos efeitos adversos relacionados ao sistema motor, pacientes com Síndrome Extrapiramidal induzida por medicamentos podem apresentar desordens como ansiedade, depressão maior, psicose, síndrome de Tourette e síndrome das pernas inquietas. 

Medicamentos que podem causar reações extrapiramidais
 

  • Antipsicóticos:
    medicamentos usados para tratar condições como esquizofrenia e transtorno bipolar, especialmente os antipsicóticos típicos (de primeira geração), são conhecidos por causar reações extrapiramidais. Exemplos: haloperidol, clorpromazina e flufenazina. 
  • Antieméticos:
    alguns medicamentos usados para tratar náuseas e vômitos, como o cloridrato de metoclopramida, bem como bromoprida, domperidona, levosulpirida, droperidol, cleboprida e proclorperazina, são fármacos antieméticos e antagonistas do receptor de dopamina D2, utilizados como agentes procinéticos para o tratamento de distúrbios da motilidade gastrointestinal (TGI), refluxo gastroesofágico, gastroparesia diabética, náuseas e vômitos de origem central e periférica. 

Os antieméticos, como a bromoprida e a metoclopramida, são classificados como procinéticos intestinais de ação antidopaminérgica, sendo utilizados clinicamente no tratamento de transtornos motores do trato gastrointestinal superior, incluindo dispepsia funcional, sintomas de estase gástrica de etiologia variada e vômitos.  

Suas ações terapêuticas procinéticas e antieméticas devem-se, respectivamente, ao bloqueio dos efeitos inibitórios periféricos da dopamina sobre as fibras musculares do trato digestivo, por meio do antagonismo de receptores dopaminérgicos do tipo D2, e ao bloqueio desses receptores em regiões centrais como a área postrema. Como qualquer procinético antidopaminérgico, podem causar a Síndrome Extrapiramidal, embora esses efeitos sejam mais raros com esses fármacos do que com outros procinéticos. 

A metoclopramida merece atenção especial por ser amplamente utilizada no tratamento de vômitos e dores de cabeça primárias agudas. No Brasil, a metoclopramida é comercializada sob os seguintes nomes comerciais: Metosix, Plasil, Aristopramida, Plamidasil, Plamivon, Petrofarma, entre outros, além de medicamentos genéricos. As reações distônicas agudas são efeitos adversos conhecidos. A incidência de reações distônicas com o uso da metoclopramida em adultos foi relatada de 0,2% a 3% com metoclopramida e até 4% com proclorperazina. O medicamento de referência é o Plasil. 

Mesmo sendo este um medicamento sujeito à prescrição médica, na maioria das vezes é comercializado em farmácias e drogarias do país sem a exigência da receita, o que potencialmente aumenta o risco de ocorrência de efeitos colaterais neurológicos. 

Outros medicamentos
 

Em alguns casos, outros medicamentos, como alguns antidepressivos (especialmente os tricíclicos) e certos antiarrítmicos, podem estar associados a esses efeitos. 

Tratamento
 

O tratamento para reações extrapiramidais pode incluir:
 

  • Ajuste da medicação:
    Redução da dose ou troca do medicamento causador. 
  • Medicamentos:
    Medicamentos como anticolinérgicos (como o biperideno) ou anti-histamínicos podem ser prescritos para aliviar os sintomas. 
  • Terapias complementares:
    Em alguns casos, terapias como a fisioterapia podem ser úteis para melhorar a mobilidade e o controle dos movimentos.