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8 de março: as mulheres que revolucionaram a saúde no Brasil

O Dia Internacional da Mulher foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, como uma homenagem às operárias russas que protestaram contra a fome em meio à Primeira Guerra Mundial em 8 de março de 1917.

Historicamente, a data se consolidou como um movimento internacional para reivindicar a igualdade de gênero na sociedade. Assim como em inúmeros outros setores, na área da saúde – onde a chamada a 
feminização
 corresponde à 70% do total de profissionais – a disparidade de salários e cargos mobiliza as profissionais do setor.

Em 2018, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) elaboraram um 
estudo
levantando a 
Demografia Médica no Brasil
. Os dados referentes à desigualdade de gênero mostram que as mulheres ocupam, na maioria dos casos, quatro das seis áreas básicas da medicina. No entanto, em especialidades básicas, como cirurgias, os homens ainda ocupam 70% dos cargos.

Na enfermagem, acontece o contrário: elas são nada menos do que 80% da força de trabalho. Tanto na medicina quanto na enfermagem as mulheres estão mais próximas da atenção básica e da saúde da família – áreas prioritariamente vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Enquanto isso, apesar de haver equilíbrio de gênero na quantidade de cientistas brasileiros, a profissão ainda é retratada como uma ocupação eminentemente masculina, segundo 
estudo
 da Fiocruz.

Foi em estudos e iniciativas multidisciplinares que algumas mulheres brasileiras se tornaram pioneiras, e hoje são tidas como referências. Entre elas estão biólogas, zootecnistas, físicas e pedagogas que investiram em estudos sobre doenças e condições sociais no Brasil, trazendo luz a inovações em diagnósticos e tratamentos. Outras incursionaram em conflitos e crises epidemiológicas e, mesmo com escassos recursos, revolucionaram suas áreas de atuação.

A seguir, saiba mais sobre as mulheres pioneiras da saúde no Brasil. Boa leitura!

Rita Lobato: a primeira médica formada no Brasil

Gaúcha de Rio Pardo (RS), Rita Lobato Velho Lopes ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1884. Com apenas 17 anos, a jovem começou seus estudos graças à reforma Leôncio de Carvalho, que propôs diversas mudanças no ensino superior da época. Entre elas, a inclusão de mulheres em cursos de medicina – algo até então limitado a homens.

Rita Lobato formou-se em 1887. Na época, já vivia na Bahia, para onde pediu transferência no segundo ano de estudos. Sua tese, intitulada 
O paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana
 foi aprovada com louvor
Ainda que tenha casado com o também médico Antônio Maria Amaro de Freitas, e ter passado a se chamar oficialmente Rita Lobato de Freitas, a pioneira fazia questão de clinicar como Rita Lobato – nome com o qual ganhou fama.

Maria Odília Teixeira: pioneira entre as negras

Se em 1884 Rita Lobato abriu as portas para que mulheres estudassem medicina no Brasil, foi apenas em 1909 que a primeira mulher negra brasileira concluiu um curso na área. E coincidentemente, a nova quebra de paradigma aconteceu na Bahia, graças ao empenho e a luta de Maria Odília Teixeira, natural de São Félix do Paraguaçu (BA).

Pouco tempo depois, Maria Otília também se converteu na primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia, onde lecionou clínica obstétrica. Seu legado é seguido por filhos, netos e bisnetos, que seguiram a profissão da matriarca.

Ana Nery: história na enfermagem

No começo do século 19, a enfermagem no Brasil era praticada basicamente por irmãs de caridade. Foi na congregação São Vicente de Paulo, no Rio Grande do Sul, que a baiana Ana Justina Ferreira Nery aprendeu os princípios básicos da profissão. Seu objetivo era acompanhar os filhos, dois médicos e um militar, convocados pelo Exército durante a Guerra do Paraguai.

Viúva, aos 51 anos Ana Nery saiu da Bahia mesmo sem conseguir permissão do presidente da província. Fez seu treinamento em solo gaúcho e finalmente chegou ao front
onde prestou atendimentos a soldados e entrou para a história como a primeira enfermeira do país.

Mesmo após ter perdido um filho e dois irmãos na batalha, Ana Nery montou uma enfermaria modelo em Assunção, capital do Paraguai. Detalhe: tudo com recursos próprios, fruto de uma herança familiar. Anos mais tarde, ela retornou ao Brasil, trazendo consigo três crianças órfãs, filhas de combatentes desaparecidos.

O reconhecimento aos serviços prestados veio em forma de pensão vitalícia concedida por Dom Pedro II, além de condecorações por atos humanitários. Em 1923, o biólogo e médico sanitarista brasileiro Carlos Chagas nomeou a primeira escola de enfermagem do país com o nome de Ana Nery.

Nise da Silveira: para entender a mente humana

A psiquiatra alagoana Nise da Silveira destacou-se por buscar a compreensão do sofrimento de pacientes com transtornos psiquiátricos. Ela foi a única mulher graduada na turma de 1931 da Faculdade de Medicina da Bahia. Vivendo no Rio de Janeiro, seu engajamento político, contrário ao regime de Getúlio Vargas, a levou a passar 18 meses presa por subversão. Passado esse período, voltou a trabalhar, agora no corpo clínico do Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II.

Conhecida pela oposição ao eletrochoque e às condições subumanas a que eram submetidos os internados, Nise propôs que, em vez de trabalho forçado e punições físicas, os pacientes praticassem atividades lúdicas, como a pintura. Nascia ali a grande revolução na psiquiatria brasileira, que inclusive despertou atenção de Carl Gustav Jung.

A reinserção social proposta por Nise da Silveira também previa o convívio dos pacientes com animais de estimação. Em 1956, ela fundou a Casa das Palmeiras, primeira instituição de ressocialização para pacientes que tiveram alta no Brasil.

Mulheres que mudaram a saúde

Algumas mulheres colocaram seus nomes na história ao se consolidarem em mercados que, embora sejam prioritariamente femininos, têm seus cargos mais altos e distinções científicas atrelados especialmente a homens. Conheça algumas delas:

  • Carolina Martuscelli Bori
     formou-se como pedagoga em 1947, mas logo passou a lecionar psicologia da educação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ela encabeçou a luta para que a profissão fosse reconhecida como uma área da ciência, além de ter atuado na formação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
  • Adriana Melo
     teve papel fundamental na descoberta da relação entre microcefalia e zika vírus. Atuando como médica de gestações de alto risco da maternidade pública de Campina Grande (PB), Melo ficou intrigada com a quantidade de fetos com malformação e de mulheres com manchas avermelhadas na gravidez. Após a análise de resultados de amostras de sangue, ficou comprovada a relação da doença com o transmissor.
  • Valéria Petri
     é dermatologista formada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifestp) e fez o primeiro diagnóstico de AIDS no Brasil. Em 1982, ela identificou e relacionou o sarcoma de Kaposi como manifestação da doença e, no mesmo ano, descreveu as diversas afecções dermatológicas ligadas à síndrome.
  • Zilda Arns
    , pediatra e fundadora da Pastoral da Criança, ajudou o Brasil a reduzir a mortalidade infantil na década de 1980, quando o índice caiu de 62 óbitos por mil nascidos vivos para 20/1.000. Entre seus feitos está a criação de uma solução de água, açúcar e sal popularizada como a fórmula do soro caseiro, que evita desidratação e diarreia.

A contribuição das mulheres para o avanço da saúde no Brasil é inegável, desde as pioneiras como Rita Lobato e Ana Nery até as contemporâneas como Adriana Melo e Valéria Petri. Essas mulheres desafiaram normas sociais e barreiras institucionais para se destacarem em suas áreas, muitas vezes enfrentando discriminação de gênero e adversidades.

Seus feitos não apenas abriram portas para outras mulheres, mas também trouxeram avanços significativos no campo da medicina e da saúde pública, salvando vidas, promovendo a igualdade e melhorando a qualidade de vida da população brasileira.

É fundamental reconhecer e valorizar essas mulheres que moldaram e continuam a moldar o cenário da saúde no país.