Eletroanalgesia: mecanismos de ação, indicações e aplicação na fisioterapia
A eletroanalgesia é uma modalidade terapêutica que utiliza estímulos elétricos controlados para reduzir a percepção de dor. Um exemplo comum é a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), que atua de maneira não invasiva através de eletrodos colocados sobre a pele. A técnica é baseada na teoria do controle da dor pelo portão e na ativação das vias inibitórias descendentes, aliviando tanto dores agudas quanto crônicas.
As aplicações mais comumente utilizadas são nas condições musculoesqueléticas, neuropatias e recuperação pós-cirúrgica. A eletroanalgesia também pode ser eficaz em dores complexas, como as relacionadas à osteoartrite e à fibromialgia, e é útil no contexto de cuidados paliativos para melhorar a qualidade de vida. A aplicação de correntes de baixa frequência no TENS atua tanto nos níveis periféricos quanto centrais do sistema nervoso, inibindo a atividade de neurônios nociceptivos e promovendo analgesia através da ativação de fibras nervosas de grande diâmetro.
Estudos sugerem que, além de aliviar a dor, a eletroanalgesia pode melhorar a função física e proporcionar uma alternativa viável aos tratamentos farmacológicos, especialmente em pacientes com dor persistente que apresentam resistência aos opióides. A eletroanalgesia é importante no manejo da dor, pois além de melhorar a mobilidade e reduzir a necessidade de analgésicos, oferece uma abordagem segura, portátil e sem efeitos adversos significativos, sendo amplamente utilizada em reabilitação pós-operatória e em casos de dor musculoesquelética. Entre as mais comuns, destacam-se:
- Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS):aplica impulsos elétricos na pele para modular a percepção da dor por meio da ativação das fibras nervosas sensoriais. É eficaz tanto para dores crônicas quanto agudas, como no manejo de dor oncológica e pós-operatória.
- Corrente Interferencial (IFC):utiliza correntes de média frequência que se cruzam, proporcionando analgesia mais profunda. Essa técnica é indicada para condições musculoesqueléticas, reduzindo espasmos e melhorando a circulação local.
- Estimulação Elétrica de Alta Voltagem (HVES): embora menos utilizada que as anteriores, a HVES é aplicada principalmente para dores localizadas associadas a edema e cicatrização de tecidos, aproveitando pulsos de alta intensidade.
Mecanismos de ação
A eletroanalgesia atua na modulação da dor a partir da Teoria das Comportas, proposta por Melzack e Wall em 1965, que explica como a dor é modulada no sistema nervoso central e periférico.
Essa teoria sugere que o sinal de dor não é transmitido diretamente para o cérebro, mas passa por uma “comporta” localizada na medula espinhal. Fibras nervosas de diferentes calibres, como as A-delta e C (associadas à dor), e as A-beta (responsáveis por estímulos táteis), competem para abrir ou fechar essa comporta. Quando as fibras A-beta são ativadas por estímulos não dolorosos, como massagem ou eletroestimulação (TENS), a comporta se fecha, bloqueando a passagem de sinais nociceptivos.
Por outro lado, se predominar a ativação de fibras de dor, a comporta se abre, permitindo que o estímulo doloroso chegue ao cérebro. Além disso, vias descendentes do cérebro podem liberar neurotransmissores inibitórios, como serotonina e endorfina, que ajudam a fechar a comporta, modulando a percepção da dor.
Essa teoria tem sido fundamental para o desenvolvimento de técnicas de controle da dor, como a TENS e a corrente interferencial, que buscam fechar essa comporta e aliviar a dor através de mecanismos nervosos periféricos e centrais.
A TENS atua principalmente nas vias periféricas e na liberação de endorfinas, oferecendo alívio imediato para dor aguda e superficial. Já a corrente interferencial, com correntes de alta frequência, penetra mais profundamente nos tecidos, sendo eficaz para dores musculoesqueléticas crônicas e promovendo relaxamento muscular. Essas duas modalidades diferem na profundidade e no tipo de dor tratada, otimizando a resposta em diferentes condições clínicas.
Indicações clínicas
A eletroanalgesia é uma ferramenta terapêutica eficaz no controle da dor, usada em diversas condições. Entre as principais aplicações destacam-se:
Osteoartrite e dor lombar crônica
Modalidades como TENS e IFC reduzem a transmissão de sinais nociceptivos e melhoram a mobilidade articular.
Fibromialgia
A TENS ajuda a modular a atividade dos neurônios periféricos e espinhais, diminuindo a dor generalizada e facilitando a adesão a exercícios físicos.
Síndrome do túnel do carpo
A eletroanalgesia promove analgesia e neuroplasticidade, aliviando compressões nervosas e melhorando a função motora.
Espasticidade em doenças neurológicas
A FES (Estimulação Elétrica Funcional) e a TENS inibem reflexos hiperativos, ajudando na recuperação motora e no controle postural.
Dor oncológica
A eletroestimulação oferece alívio complementar à farmacoterapia, reduzindo o uso de opioides e os efeitos colaterais associados.
Os benefícios incluem a redução da dor, melhora funcional e diminuição do consumo de fármacos, impactando positivamente a qualidade de vida. Estudos recentes destacam o efeito modulador da eletroanalgesia no sistema nervoso periférico e central, demonstrando eficácia como complemento em tratamentos integrados.
Aplicação clínica
A TENS e a IFC são modalidades amplamente utilizadas na reabilitação para analgesia e controle da dor. Os parâmetros técnicos para TENS incluem frequências baixas (2-10 Hz) para analgesia endógena, estimulando a liberação de opióides, e frequências altas (80-120 Hz) para analgesia segmentar via teoria das comportas. A IFC é aplicada em frequências de 4.000 a 5.000 Hz, com modulação de frequência (amplitude modulada) entre 0 e 100 Hz, facilitando a penetração profunda da corrente e minimizando resistência cutânea.
A duração das sessões para ambas as modalidades varia entre 20 a 40 minutos, com frequência de 2 a 5 vezes por semana, dependendo da gravidade da condição tratada. É fundamental ajustar a intensidade de forma individualizada, mantendo-a confortável, sem induzir dor ou desconforto.
Durante a aplicação, recomenda-se avaliar a integridade da pele e evitar áreas de lesão, implantes eletrônicos, como marcapassos, e regiões próximas ao abdome em gestantes. Outras contraindicações incluem trombose venosa profunda e condições infecciosas ativas. Cuidados como a inspeção dos eletrodos e o monitoramento contínuo garantem a eficácia e segurança das intervenções.
Estas modalidades são bem aceitas na prática clínica por sua capacidade de melhorar a funcionalidade e reduzir a dor, quando aplicadas de forma correta e em conformidade com os protocolos estabelecidos.
Conclusão
A eletroanalgesia é uma modalidade terapêutica eficaz no manejo da dor, especialmente em pacientes com condições musculoesqueléticas, neurológicas e crônicas. Sua aplicação favorece a analgesia por meio da estimulação elétrica que interfere na transmissão dos sinais dolorosos, além de promover liberação de endorfinas.
No contexto da reabilitação, a personalização do tratamento é essencial para garantir melhores resultados. A escolha adequada dos parâmetros, como frequência, intensidade e duração do estímulo, deve ser adaptada à condição e à resposta de cada paciente.
Além disso, a integração com outras abordagens terapêuticas potencializa os benefícios, otimizando o alívio da dor e favorecendo a recuperação funcional. A eletroanalgesia não apenas melhora a qualidade de vida, mas também permite que o paciente retome atividades diárias e terapêuticas com mais conforto, reforçando a importância de uma avaliação criteriosa e um plano de tratamento individualizado.
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