O MAIOR ECOSSISTEMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO BRASIL

Artmed

O MAIOR ECOSSISTEMA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DO BRASIL

Artmed

FES na fisioterapia: para que serve e como utilizar

A eletroestimulação funcional (FES) é uma técnica utilizada na fisioterapia que emprega o uso de correntes elétricas de baixa intensidade para provocar contrações musculares em indivíduos em diversas disfunções e patologias. Essa abordagem tem sido particularmente eficaz em pacientes com alterações neuromusculoesqueléticas que resultam em paralisia, fraqueza muscular e intolerância ao esforço.

Um dos principais benefícios da FES é a melhoria da força muscular. Ao estimular repetidamente os músculos, a FES ajuda a prevenir a atrofia muscular e, alguns casos, a promover a hipertrofia. Essa estratégia terapêutica contribui na manutenção da função muscular em pacientes imobilizados ou com mobilidade reduzida, aumentando a independência dos pacientes e permitindo-lhes realizar atividades diárias com maior facilidade.

Além disso, a FES melhora a circulação sanguínea local, o que pode acelerar a recuperação de tecidos lesionados e prevenir complicações cutâneas. Outro benefício significativo é a melhoria na função motora. Em pacientes com sequelas neurológicas, a FES pode facilitar a recuperação de movimentos ao reeducar o sistema nervoso com
inputs
no recrutamento da musculatura durante as atividades funcionais.

A FES é uma ferramenta terapêutica importante e o seu uso deverá ser avaliado pelo fisioterapeuta juntamente ao paciente, uma vez que certas pessoas não toleram o uso de corrente elétrica para a estimulação neuromuscular.

Utilidades da FES na fisioterapia

Pós-acidente vascular cerebral

O uso da FES em pacientes pós-acidente vascular cerebral (AVC) visa reduzir complicações, uma vez que o AVC é uma das principais causas de incapacidade, com a espasticidade sendo uma sequela neurológica predominante. A estimulação elétrica, aliada a outros recursos terapêuticos, pode desempenhar um papel fundamental no processo de reabilitação. Em um estudo, pacientes com histórico de AVC há mais de seis meses, espasticidade em plantiflexores e pontuação ≥ 1 na Escala Modificada de Ashworth foram randomizados em dois grupos: treinamento (exercícios convencionais + FES ativo) e SHAM (exercícios convencionais + FES sham). Os resultados demonstraram que o uso do FES ativo levou a melhorias significativas na espasticidade, desempenho de caminhada e deambulação funcional em relação ao grupo que realizou apenas treino sem estimulação elétrica.

Traumatismo cranioencefálico e retenção urinária crônica

Em pacientes com traumatismo cranioencefálico e retenção urinária crônica, o uso da FES por 8 semanas não melhorou o volume urinário pós-miccional, volume evacuado, taxa máxima de fluxo urinário e qualidade de vida entre os pacientes randomizados para o grupo FES ou FES simulada. Em outro estudo, foi avaliado o efeito da estimulação transcraniana por corrente contínua combinada com estimulação elétrica neuromuscular (NMES) na função motora da extremidade superior em pacientes com histórico de AVC há mais de seis meses e hemiplegia unilateral. Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente em três grupos: estimulação transcraniana por corrente contínua combinada com NMES, estimulação transcraniana por corrente contínua isolada ou controle. Todos os grupos receberam reabilitação convencional, somada a um dos três protocolos em um total de 15 sessões por 3 semanas. O estudo revelou que a combinação de estimulação transcraniana por corrente contínua com NMES e programas regulares de reabilitação foi capaz de aumentar a funcionalidade da extremidade superior, potencializando os efeitos dos programas regulares.

Osteoartrite de joelho

Pacientes com osteoartrite de joelho submetidos a seis semanas de NMES combinado com estimulação do nervo fibular apresentaram ganhos maiores na propriocepção do joelho, força muscular de quadríceps/isquiotibiais e funcionalidade, comparados a pacientes que realizaram apenas NMES. Já em crianças asmáticas, o uso da NMES na musculatura do tríceps sural, concomitantemente a exercícios respiratórios por 12 semanas (5x/semana), foi capaz de melhorar os sintomas noturnos e a qualidade de vida dessas crianças. Os efeitos foram superiores ao grupo controle, que não realizou nenhuma intervenção, e semelhantes ao grupo que fez treinamento aeróbico em associação aos exercícios respiratórios. Esses achados sugerem que a NMES pode ser uma alternativa viável ao treinamento físico tradicional durante períodos de exacerbação da doença.

Disfunções musculoesqueléticas associadas a processos crônicos

A FES também pode ser uma opção para tratar disfunções musculoesqueléticas associadas a processos crônicos em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Em pacientes com volume expiratório forçado em 1 s (VEF1) menor que 50% e dispneia incapacitante, o uso da NMES comparado ao placebo durante 6 semanas foi capaz de melhorar a capacidade funcional de exercício, além de aumentar a massa e a força muscular do quadríceps. Esses dados suportam o uso da NMES no tratamento de pacientes incapazes de se engajar na reabilitação pulmonar convencional.

Doença renal crônica em hemodiálise

Recentemente, uma revisão sistemática com metanálise demonstrou que a NMES melhora a força muscular do quadríceps e a capacidade funcional de pacientes com doença renal crônica em hemodiálise. No entanto, os estudos ressaltam a necessidade de interpretar os resultados com cautela, levando em consideração a leitura dos estudos e a avaliação da qualidade dos protocolos de intervenção.

Como utilizar a FES na fisioterapia

A eletroestimulação funcional (FES) é uma técnica que utiliza correntes elétricas para estimular contrações musculares, sendo amplamente utilizada em reabilitação de pacientes com doenças neurológicas, pulmonares e cardíacas. Este método pode auxiliar na recuperação funcional, melhorando a força e função muscular além da qualidade de vida.

Para otimizar os resultados, é essencial ajustar os parâmetros de estimulação conforme a condição clínica e os objetivos terapêuticos. Os dados a seguir apresentam os parâmetros na FES com base nos estudos usados como base para este conteúdo.  

  • Frequência:
    entre 50 – 150 Hz (Refere-se ao número de pulsos por segundo).
  • Duração de pulso:
    entre 60 – 400 µs (A duração de cada pulso elétrico. Pulso mais longo pode ser necessário para estimular músculos mais profundos)
  • Intensidade: entre 20 – 120 mA (A corrente aplicada, ajustada conforme a tolerância e resposta do paciente)
  • Tempo de aplicação:
    entre 22 – 40 min (A duração total de cada sessão de FES).
  • Tempo de tratamento:
    entre 6 – 12 semanas (tempo de uso da FES com o paciente).
  • Frequência semanal
    : entre 3 – 5 vezes na semana
  • Intervalo ON/OFF ou Contração/Descanso:
    10/10, 10/20, 10/30, 10/50, 2/15, 5/20, 10/15, 5/15, etc (Ciclos de contração e relaxamento durante a sessão, importantes para prevenir fadiga muscular).

O posicionamento correto dos eletrodos no quadríceps é fundamental para garantir a eficácia da eletroestimulação funcional (FES). O quadríceps é composto por quatro músculos principais: reto femoral, vasto lateral, vasto medial e vasto intermédio. A seguir, algumas orientações para o posicionamento dos eletrodos para otimizar a estimulação desse grupo muscular.

  • Eletrodo proximal:
    deve ser colocado na parte superior do músculo reto femoral, aproximadamente 10-15 cm abaixo da linha inguinal, para estimular a porção superior do quadríceps, englobando principalmente o reto femoral e o vasto intermédio.
  • Eletrodo distal:
    deve ser posicionado na parte inferior do músculo, cerca de 2-3 cm acima da patela (patela) para ativar a porção inferior do quadríceps, estimulando o vasto medial e o vasto lateral.
  • Preparo para a eletroestimulação:
    limpar a pele com álcool para remover oleosidade e sujeira, garantindo melhor aderência dos eletrodos e condução elétrica. Se necessário, parar ou raspar os pelos excessivos na área de aplicação. Certificar-se de que ambos os eletrodos estejam bem fixados à pele para evitar deslocamento durante a estimulação. Conectar os cabos da unidade de FES aos eletrodos de acordo com as instruções do dispositivo, assegurando uma conexão segura e firme. Na sequência, ajustar os parâmetros de estimulação (frequência, duração do pulso, intensidade) conforme o protocolo usado e as necessidades específicas do paciente e iniciar a estimulação de maneira gradual, aumentando a intensidade até o nível desejado, observando sempre a resposta do paciente.

Considerações e cuidados na aplicação da FES

Durante a sessão de FES, monitorar a resposta do paciente para ajustar a intensidade e garantir conforto e segurança através dos sinais vitais (no caso do paciente em sedação), como o aumento da frequência cardíaca e pressão arterial monitorados durante o atendimento.

Reavaliar o posicionamento dos eletrodos periodicamente para assegurar que eles permaneçam na posição correta durante toda a sessão. Encorajar o paciente a fornecer feedback sobre a sensação e os resultados da estimulação para ajustes futuros, avaliar o nível de dor do paciente com o uso da eletroestimulação e o desconforto com o uso da corrente elétrica são pontos a serem cuidados na implementação da técnica.

Gostou desse conteúdo e quer seguir se aprofundando no assunto? Conheça as pós-graduação da
Pós Artmed
na área: