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Exantema súbito: diagnóstico clínico e manejo

O exantema súbito, também conhecido como roséola infantil, se manifesta com um período febril pré-eruptivo seguido pelo aparecimento de um exantema após a defervescência. A febre é tipicamente alta, persistindo por 3-5 dias, e a criança pode apresentar irritabilidade. O exantema surge repentinamente após o desaparecimento da febre, com máculas ou pápulas rosadas e discretas, principalmente no tronco e pescoço. A erupção geralmente dura 1-2 dias, mas pode ser fugaz. Outros sintomas podem incluir diarreia, sintomas respiratórios e linfadenopatia cervical.  

Os agentes etiológicos do exantema súbito são os herpesvírus humanos 6 e 7 (HHV-6 e HHV-7). O HHV-6, especialmente o subtipo B (HHV-6B), é o agente mais comum, sendo responsável por cerca de 95% dos casos de roséola infantil. O HHV-7 é um agente causal menos comum. A idade de maior ocorrência da roséola é entre 6 meses e 3 anos.  

Etiologia e fisiopatologia
 

Os vírus HHV-6 e HHV-7, pertencentes ao gênero
Roseolovirus
da subfamília
Betaherpesviridae
, são vírus DNA de dupla fita, envelopados e com grande tropismo por células linfoides. Compartilham diversas características, sendo ambos muito frequentes e altamente prevalentes em todo o mundo.  

A infecção primária por HHV-6/7 ocorre geralmente nos primeiros anos de vida, sendo adquirida através do contato com a saliva de indivíduos infectados. O vírus replica inicialmente nas células epiteliais da orofaringe, disseminando-se para os linfonodos regionais e para a corrente sanguínea, resultando em viremia. 

Os HHV-6/7 apresentam um tropismo específico por células do sistema imune, principalmente linfócitos T CD4+. Após a infecção primária, o vírus estabelece latência nessas células, persistindo no organismo por toda a vida. 

A resposta imunológica do hospedeiro à infecção viral é responsável pelo desenvolvimento da roséola infantil. A viremia desencadeia a produção de citocinas pró-inflamatórias, como interferon gama (IFN-γ) e interleucina-6 (IL-6), que contribuem para a elevação da temperatura corporal, resultando na febre característica da doença. 

O mecanismo exato pelo qual o exantema surge após a defervescência ainda não é completamente compreendido. Uma hipótese é que a erupção cutânea representa uma resposta imunológica tardia à infecção viral, mediada por células T citotóxicas que reconhecem antígenos virais expressos na pele. Outra possibilidade é que o exantema seja uma reação de hipersensibilidade aos antígenos virais liberados na corrente sanguínea após a lise das células infectadas. 

Em alguns casos, a infecção primária por HHV-6/7 pode resultar em complicações neurológicas, como convulsões febris e encefalite. As convulsões febris são provavelmente desencadeadas pela rápida elevação da temperatura corporal durante a fase febril da doença, enquanto a encefalite pode ser causada pela invasão direta do vírus no sistema nervoso central. 

Diagnóstico do exantema súbito 
 

Sinais e sintomas típicos 

O exantema súbito segue uma sequência muito corriqueira de manifestações clínicas, conforme descreveremos a seguir. 

  • Fase febril pré-eruptiva:
    o início da roséola infantil é marcado por uma febre alta, frequentemente acima de 39,5°C. Essa febre pode ser constante ou intermitente, durando em média 3 a 5 dias, mas com relatos de até 9 dias de duração.  Apesar da febre alta, a criança geralmente aparenta estar bem, podendo apresentar apenas inquietação e irritabilidade com a elevação da temperatura. 
  • Exantema pós-febril:
    o sintoma mais característico da roséola infantil é o aparecimento súbito de um exantema após a resolução da febre.  Esse exantema pode surgir imediatamente após a febre ceder ou até 3 dias depois. A erupção cutânea se manifesta como máculas ou pápulas rosadas e discretas, com 2 a 3 mm de diâmetro, que desaparecem com a pressão.  A localização predominante do exantema é no tronco e pescoço, mas pode se estender para o rosto e extremidades.  Diferentemente de outras doenças exantemáticas, a roséola infantil não apresenta descamação ou prurido. O exantema costuma durar de 1 a 2 dias, mas pode desaparecer em poucas horas. 

Além da febre e do exantema, a criança pode apresentar sintomas inespecíficos como diarreia, sintomas respiratórios (tosse, pálpebras edemaciadas, injeção faríngea e da membrana timpânica) e linfadenopatia cervical.  Em alguns casos, podem ser observadas pápulas eritematosas na mucosa do palato mole e úvula, denominadas manchas de Nagayama. 

É importante ressaltar que nem todas as crianças infectadas pelos HHV-6/7 desenvolvem a roséola infantil. Na verdade, a síndrome clínica clássica ocorre em apenas cerca de 20% das crianças infectadas. Nos demais casos, a infecção pode ser assintomática ou se manifestar como uma doença febril leve e inespecífica. 

Exames complementares
 

Na maioria dos casos, a roséola infantil é diagnosticada clinicamente, com base na história clínica e exame físico do paciente. A realização de exames laboratoriais para confirmar a infecção por HHV-6/7 geralmente não é necessária em crianças imunocompetentes. No entanto, em casos de complicações ou em indivíduos imunocomprometidos, o diagnóstico laboratorial pode ser útil. Os métodos diagnósticos incluem: 

  • sorologia: a detecção de anticorpos IgM específicos para HHV-6/7 indica infecção recente. A soroconversão, com aumento do título de anticorpos IgG, também pode ser utilizada para confirmar o diagnóstico. 
  • detecção viral: a detecção do DNA viral em fluidos corporais (sangue, líquor) ou tecidos pode ser realizada por PCR (reação em cadeia da polimerase). A PCR quantitativa em tempo real permite a quantificação da carga viral, auxiliando na avaliação da gravidade da infecção 

Tratamento e prevenção
 

O tratamento é geralmente de suporte, com hidratação e antipiréticos. A terapia antiviral não é recomendada para indivíduos imunocompetentes. Em pacientes imunocomprometidos, antivirais como foscarnet, ganciclovir ou cidofovir podem ser considerados em casos graves. Não existem métodos de prevenção para a transmissão viral, pois a infecção primária por HHV-6/7 é amplamente difundida. 

Complicações
 

As complicações da roséola infantil são raras. A complicação mais frequente são as convulsões febris, que ocorrem em cerca de 10-15% dos casos de infecção primária por HHV-6B. As convulsões febris são desencadeadas pela elevação rápida da temperatura corporal durante a fase febril da doença. E 

Em casos raros, podem ocorrer complicações mais graves, como encefalite, meningoencefalite, síndrome hematofagocítica, hepatite fulminante, miocardite e pneumonia. A reativação da infecção latente por HHV-6/7 é mais comum em hospedeiros imunocomprometidos, podendo causar encefalite, meningite e outras patologias. 

Prevenção
 

Não existe vacina disponível para a prevenção da infecção por HHV-6/7. As medidas de higiene pessoal, como lavar as mãos frequentemente e evitar o contato com saliva de indivíduos infectados, podem auxiliar na redução da transmissão viral.