Fisioterapia nos cuidados paliativos: abordagens e benefícios para o paciente

Nos últimos anos, a presença de fisioterapeutas em Unidades de Cuidados Paliativos cresceu consideravelmente com base em evidências de estudos que apoiam o uso de medidas não farmacológicas como parte dos tratamentos de Cuidados Paliativos.
No entanto, mais informações validadas são necessárias para estabelecer definitivamente seu valor agregado. A fisioterapia desempenha um papel fundamental nos cuidados paliativos, visando melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças que ameaçam a continuidade da vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os cuidados paliativos são uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares por meio da prevenção e alívio do sofrimento, identificando precocemente e tratando a dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual.
No contexto dos cuidados paliativos, o fisioterapeuta atua na prevenção e alívio de sintomas como dor, dispneia e fadiga, além de auxiliar na manutenção da funcionalidade e autonomia do paciente. Intervenções fisioterapêuticas, como cinesioterapia, técnicas de relaxamento, massoterapia e recursos de eletrotermofototerapia, são utilizadas para controlar sintomas e melhorar o bem-estar geral.
Essas abordagens contribuem para a redução da dor e de outros sintomas aflitivos, promovendo uma melhor qualidade de vida. Ainda, a fisioterapia contribui para a melhora da funcionalidade, respeitando a individualidade e os desejos de cada paciente em sua fase final de vida.
Abordagens fisioterapêuticas nos cuidados paliativos
Em pacientes sob cuidados paliativos, a dispneia e a ansiedade são sintomas prevalentes e tem relação com a percepção de saúde e qualidade de vida. A fisioterapia respiratória atua no manejo desses sintomas, empregando técnicas que contribuem na redução da sensação de falta de ar e minimiza a ansiedade associada.
Além disso, intervenções como a ventilação mecânica não-invasiva, oxigenoterapia em casos de hipoxemia e práticas de relaxamento podem ser benéficas. A mobilização precoce pode reduzir e prevenir complicações como trombose venosa profunda e lesões por pressão.
Estudos indicam que a deambulação precoce, aliada ao uso de meias de compressão elástica, contribui para a redução da dor e do edema, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A fisioterapia motora, por meio de exercícios de fortalecimento muscular e mobilização, é indicada para todos os pacientes em risco de TVP, atuando como complemento à terapia farmacológica ou como alternativa nos casos de contraindicação ao uso de anticoagulantes.
A implementação dessas intervenções deve ser individualizada, considerando as condições clínicas e as necessidades específicas de cada paciente, visando sempre o alívio dos sintomas e a promoção do conforto.
Benefícios da fisioterapia nos cuidados paliativos
Um dos sintomas comumente presente em pacientes com câncer em cuidados paliativos é a dor e se trata de um desafio o seu manejo. Recentemente, foi realizado um estudo comparando os efeitos da acupuntura com a massagem na dor musculoesquelética entre pacientes com câncer avançado.
Através de um ensaio clínico randomizado de 26 semanas de duração com a inclusão de pacientes com câncer avançado com dor moderada a grave e expectativa de vida estimada pelo médico de 6 meses ou mais. As intervenções foram acupuntura ou massagem semanal por 10 semanas com sessões mensais de reforço por até 26 semanas. O desfecho primário foi a mudança na pontuação da pior intensidade da dor da linha de base para 26 semanas com o uso da Brief Pain Inventory (faixa de 0 a 10; números mais altos indicam pior intensidade da dor ou interferência). Os resultados secundários incluíram fadiga, insônia e qualidade de vida.
Um total de 298 participantes foram inscritos (idade média [DP], 58,7 [14,1] anos, 200 [67,1%] eram mulheres, 33 [11,1%] negros, 220 [74,1%] brancos, 46 [15,4%] hispânicos e 78,5% com tumores sólidos).
Durante 26 semanas, a acupuntura reduziu a pior pontuação da dor, com uma mudança média de -2,53 (IC 95%, -2,92 a -2,15) pontos, e a massagem reduziu a pior pontuação da dor com uma mudança média de -3,01 (IC 95%, -3,38 a -2,63) pontos sem diferença entre as intervenções. Ambos os tratamentos também melhoraram a fadiga, a insônia e a qualidade de vida sem diferenças significativas entre os grupos. Os eventos adversos foram leves e incluíram hematomas (6,5% dos pacientes que receberam acupuntura) e dor transitória (15,1% dos pacientes que receberam massagem).
Em pacientes com câncer avançado, tanto a acupuntura quanto a massagem foram associadas à redução da dor e à melhora da fadiga, insônia e qualidade de vida ao longo de 26 semanas. No entanto, não houve diferença significativa entre os tratamentos. Isso reforça a necessidade de mais pesquisas para avaliar a melhor forma de integrar essas abordagens ao tratamento da dor para otimizar o gerenciamento dos sintomas para a crescente população de pessoas que vivem com câncer avançado.
Recentemente, foi descrita a experiência de um serviço de fisioterapia em cuidados paliativos, envolvendo 63 pacientes (idade média de 71,98 ± 12,72 anos; 61,9% homens). Desses, 92,1% eram pacientes oncológicos, e 35 apresentavam metástases.
Antes do tratamento, 28 (44,4%) participantes tinham dependência total, de acordo com o índice de Barthel, e 37 (58,7%) se deslocavam com dificuldade, de acordo com a escala FAC (Functional Ambulation Categories scale). No final do tratamento, o número de pacientes com dependência total diminuiu para 15 (23,8%) e aqueles deambuladores não funcionais para 12 (19,0%).
Os pacientes que se beneficiaram da fisioterapia durante sua admissão na unidade de cuidados paliativos eram predominantemente homens com processos oncológicos, principalmente câncer de pulmão. A fisioterapia nos cuidados paliativos melhorou sua funcionalidade, independência e habilidades para atividades da vida diária entre os pacientes estudados.
Em recente revisão sistemática com metanálise, com o objetivo de avaliar a segurança, viabilidade e eficácia do exercício na fase de cuidados paliativos para pessoas com câncer avançado, foram incluídos 22 ensaios clínicos com diferentes intervenções (treinamento aeróbio, de resistência muscular, mistos e outros exercícios). Os protocolos de treinamento variaram de 2 semanas à 6 meses.
Os tipos de câncer consistiram em pulmão, mama, próstata, mieloma múltiplo e tipos mistos de câncer. As análises de 20 ensaios clínicos totalizando 1840 participantes mostrou que as modalidades propostas são seguras com efeitos a favor do exercício para qualidade de vida, fadiga, aptidão aeróbica e força de membros inferiores. Os participantes que se envolveram em exercícios experimentaram um aumento na qualidade de vida, aptidão e força e uma diminuição na fadiga.
Exemplos de intervenções fisioterapêuticas
As técnicas de fisioterapia em cuidados paliativos visam melhorar a qualidade de vida, aliviando sintomas e promovendo conforto. A cinesioterapia é amplamente utilizada para preservar a mobilidade, reduzir a rigidez articular e prevenir complicações como contraturas musculares. Como já mencionado, o treinamento de força e aeróbico podem atenuar sintomas e manter a funcionalidade do paciente durante o processo.
Técnicas de fisioterapia respiratória contribuem no manejo da dispneia e no controle dela. O uso de eletroterapia, como TENS (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea), contribui no alívio da dor crônica e neuropática. A mobilização precoce e adaptações posturais auxiliam no conforto do paciente acamado, prevenindo lesões por pressão e complicações vasculares e respiratórias.
Além disso, técnicas de relaxamento e terapia manual contribuem para o bem-estar emocional e físico. Vale ressaltar que o ambienta durante a reabilitação ao paciente em cuidado paliativo tem impacto na adesão e no próprio tratamento em si. Ambientes calmos e tranquilos podem potencializar os efeitos das intervenções. Como nas demais situações relacionadas à intervenções terapêuticas, um vínculo forte com o profissional de saúde também é fundamental. É importante destacar que os cuidados paliativos podem ser estendidos a pacientes com doenças crônicas. Referem-se a um conjunto de abordagens voltadas para melhorar a qualidade de vida de pacientes que enfrentam enfermidades progressivas e sem possibilidade de cura.
O objetivo principal é aliviar sintomas, reduzir o sofrimento e proporcionar suporte físico, emocional, social e espiritual ao paciente e sua família. Esses cuidados são aplicados em diversas condições crônicas, como câncer, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças neurodegenerativas (como Parkinson e Alzheimer) e insuficiência renal crônica em fase terminal, ou seja, onde há necessidade de terapia renal substitutiva.
A abordagem é interdisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, garantindo um suporte abrangente e respeitando os desejos e valores do paciente.
A DPOC é a quarta principal causa de morte nos Estados Unidos e é uma doença respiratória grave caracterizada por anos de falta de ar progressivamente debilitante, alta prevalência de depressão e ansiedade associadas, hospitalizações frequentes e bem-estar diminuído. Apesar do potencial de conferir benefícios significativos à qualidade de vida para pacientes e seus parceiros de cuidados e de melhorar os cuidados no fim da vida, os cuidados paliativos especializados raramente são implementados na DPOC e, quando iniciados, geralmente ocorrem apenas no fim da vida.
Os cuidados paliativos primários prestados por clínicos da linha de frente são um modelo viável, mas não são integrados rotineiramente na DPOC. Os cuidados paliativos podem ser oferecidos em hospitais, domicílios ou instituições especializadas, buscando dignidade e bem-estar em todas as fases da doença.
Conclusão
A fisioterapia nos cuidados paliativos é importante para promover qualidade de vida, alívio de sintomas e bem-estar geral do paciente. Com abordagem individualizada, auxilia no controle da dor, na melhora da função respiratória, na mobilidade e na prevenção de complicações decorrentes da restrição.
Além disso, contribui para a autonomia e conforto do paciente, respeitando seus desejos e necessidades. Como parte do cuidado holístico, a fisioterapia trabalha em conjunto com a equipe multiprofissional para proporcionar dignidade e suporte ao longo do processo de doença.