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Laboratório de rotina: existe evidência científica?

"Doutor, eu vim para fazer exames de rotina". Essa é uma das situações mais típicas nos consultórios médicos e fonte de muitas expectativas. Atualmente, estes "exames de rotina" ou
check-ups
obrigatoriamente envolvem exames laboratoriais (pelo menos no imaginário geral - de pacientes e médicos). Mas aí vem a dúvida: existe benefício para indivíduos assintomáticos em realizar esse tipo de investigação? 

Antes de nos aprofundarmos, é importante apontar que rastreamento e diagnóstico precoce de doenças é um assunto extenso e complexo, e tem efeitos tanto no cuidado direto das pessoas (desfechos clínicos), quanto nos sistemas de saúde (magnitude das doenças, benefícios populacionais e impacto financeiro na sociedade). Neste texto revisaremos o assunto à luz da medicina baseada em evidências e com enfoque exclusivo em exames laboratoriais.   

Uma sinopse sobre
check-up
baseado em evidências
 

Exames de rotina visam identificar de forma sistemática na população doenças e/ou fatores de risco de forma precoce; ou seja, antes que tenham se manifestado e assim evitar danos à saúde das pessoas. Apesar disso,
consultas de rotina não reduzem a mortalidade e, por outro lado, estão associados os riscos de investigações desnecessárias, custos elevados e ansiedade para pacientes.
Considerando esse balanço incerto entre benefícios e riscos potenciais, existem fatores que devem ser levados em conta ao se decidir realizar rastreamento de alguma condição de saúde; eles estão resumidos na Tabela 1. 

Tabela 1. Fatores para decisão de realizar uma medida preventiva. Adaptado de [2].

Como pudemos compreender acima, só devemos
solicitar os exames laboratoriais que sejam capazes de identificar doenças tratáveis e frequentes para os indivíduos motivados a realizar os cuidados necessários
. Esse é o conceito por trás do rastreamento de doenças baseado em evidências. Várias sociedades e grupos de especialistas fornecem recomendações sobre as mais diversas condições de saúde; no presente texto seguimos primordialmente as posições do
United States Preventive Services Task Force
(USPSTF) pela sua avaliação cuidadosa da literatura médica, atualização constante e extensão do seu material.  

Exames para prevenção de doença cardiovascular
 

Doença cardiovascular aterosclerótica, englobando doença arterial coronariana, eventos cerebrovasculares isquêmicos e doença arterial periférica são responsáveis pela maior parte dos óbitos e morbidade mundialmente. Por isso, há décadas existe grande interesse na identificação de fatores de risco e prevenção do desenvolvimento e progressão da aterosclerose. A coorte de Framingham é um dos maiores exemplos de estudo em fatores de risco para doenças cardiovasculares até então; entre os achados neste grupo está a associação de níveis elevados de colesterol com mortalidade em um acompanhamento médio de 30 anos. 

Hipertensão, colesterol elevado,
diabetes
mellitus
são os principais fatores de risco tratáveis na aterosclerose. Dessa forma, essas condições devem ser rastreadas na população em geral e, se identificadas, controladas. Para esse fim, dosagem de colesterol total e frações, glicemia e medir a pressão arterial são recomendadas. Além disso, a partir desses e outros dados (idade, sexo) é possível calcular o risco predito de eventos cardiovasculares e definir quanto a indicação ou não de estatina e/ou AAS para prevenção primária de eventos cardiovasculares.   

Exames para identificação precoce de neoplasias
 

O diagnóstico precoce de
neoplasias
é um capítulo à parte dentro da discussão de rastreamento. Em função da heterogeneidade da história natural entre as neoplasias e mesmo dentro de um mesmo tipo histológico, é difícil determinar se a identificação precoce de uma neoplasia aumenta o tempo de vida total de um indivíduo. Talvez o câncer de próstata seja o melhor exemplo desta discussão, uma vez que seguem as dúvidas do benefício do seu rastreamento (vide Tabela 1).  

Para uma decisão adequada, recomenda-se discussão com o paciente, explicando a evolução esperada da neoplasia, riscos do rastreamento e opções de tratamento, preferencialmente com materiais de apoio. Além disso do câncer de próstata, o surgimento nos últimos anos de exames fecais mais acurados para a identificação do câncer colorretal reacendeu o interesse de estratégias de rastreio laboratoriais ou combinando laboratório e exames colonoscópicos.   

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