O laudo psicológico é um documento técnico-científico elaborado por profissionais da psicologia, resultado de uma avaliação psicológica. Ele tem como objetivo descrever, interpretar e fundamentar aspectos psicológicos de um indivíduo com base em dados coletados por meio de instrumentos, entrevistas e observações, além de fontes complementares de informação (Rockson, 2016).
Esse tipo de documento é de suma importância na tomada de decisões e no planejamento de intervenções. Para construir um laudo psicológico, um profissional deve apresentar competência técnica e teórica, assim como o cuidado ético com as pessoas envolvidas no processo.
Como fazer um laudo psicológico?
O laudo é construído a partir da definição do objetivo da avaliação, a fim de responder às demandas trazidas por um paciente (Silva, 2016). O objetivo da avaliação também orienta todo o processo de escolha de ferramentas e técnicas.
Um laudo solicitado por uma instituição de ensino pode ter como objetivo investigar dificuldades de aprendizagem em uma criança de 10 anos, estudante da instituição. Nesse sentido, a coleta de informações pretende responder à questão apresentada.
Para a coleta de informações, as ferramentas de coleta podem incluir entrevistas, testes psicológicos, observações comportamentais e análise de documentos. É essencial que os instrumentos escolhidos sejam válidos e confiáveis para o caso avaliado.
Para investigar dificuldades de aprendizagem, é possível utilizar as seguintes estratégias: entrevistas realizadas com a família, com a criança avaliada, e com professores; testes padronizados que investigam o funcionamento cognitivo e emocional, incluindo habilidades acadêmicas e atitudes em relação à aprendizagem; observações comportamentais no ambiente escolar; e análise de documentos, como relatórios escolares.
As informações obtidas por meio de cada estratégia devem ser relatadas no laudo psicológico, pois são essas informações que subsidiaram a conclusão e os encaminhamentos necessários.
Novamente, voltemos ao exemplo, agora pensando em como expor uma conclusão a partir das informações coletadas:
Diante dos dados obtidos por meio de entrevistas, testes, observações, e análise de documentos, conclui-se que as dificuldades de aprendizagem relatadas podem ser mais bem explicadas pelos sintomas de ansiedade da criança. Sugere-se, diante disso, acompanhamento psicológico em contato contínuo com a equipe escolar a fim de garantir a adaptação da criança.
A organização do laudo psicológico segue uma estrutura padrão, determinada pela Resolução nº 6/2019, do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Essa resolução apresenta orientações para a construção de documentos psicológicos. Segundo ela, o laudo deve incluir as seções de:
Identificação
: composto por título do documento, dados da pessoa avaliada, nome da pessoa ou instituição que solicita a avaliação, finalidade (objetivo) da avaliação, e dados do profissional.
Descrição da demanda
: seção em que se explora o motivo pelo qual o laudo foi solicitado, fornecendo o contexto necessário para compreender a relevância do documento.
Procedimento
: onde se apresentar os métodos e instrumentos empregados na avaliação.
Análise
: seção em que os dados coletados são apresentados e interpretados à luz de teorias psicológicas e evidências científicas, oferecendo uma compreensão aprofundada das questões abordadas.
Conclusão
: nesta seção, deve-se sintetizar os principais achados e oferecer recomendações pertinentes. É crucial que as conclusões sejam fundamentadas exclusivamente nos dados coletados e analisados. Além disso, o profissional deve garantir que as informações sejam apresentadas de forma ética, respeitando a confidencialidade do processo.
Referências
: nesta seção, são apresentadas as referências que sustentam a análise realizada, incluindo livros, artigos e manuais dos testes utilizados na avaliação. A exposição dessa seção pode ocorrer no fim do documento, ou ao longo do documento, em notas de rodapé.
Qual é a diferença entre um laudo e um relatório?
Embora, de modo geral, todos os documentos psicológicos compartilhem o objetivo de comunicar uma conclusão dada por um profissional, sua diferenciação ocorre em sua estrutura e na profundidade da análise apresentada.
O relatório psicológico abarca diversos contextos, enquanto o laudo é focado em apresentar as conclusões derivadas de um processo de avaliação psicológica. Em casos como a comunicação de um serviço de orientação ou realização de um encaminhamento, o relatório psicológico é o documento adequado.
Quais cuidados ter ao escrever um laudo psicológico?
Ao longo do processo de redação de um laudo, o profissional deve se atentar, principalmente, às questões éticas. A confidencialidade das informações é um aspecto central. Nas situações em que informações sensíveis são muito relevantes para a análise do caso, a sua apresentação deve ser realizada de forma muito cautelosa.
Outro ponto a ser considerado é a clareza das informações. O laudo psicológico deve ser compreensível pela pessoa que terá acesso a ele, e deve ser didático ao informar sobre os seus achados.
A redação do laudo também deve refletir o rigor científico da prática psicológica. As informações devem ser organizadas de forma lógica e coesa. Isso inclui o cuidado com a qualidade da escrita, evitando erros gramaticais e ortográficos (o uso de ferramentas de correção de documentos pode ser útil), e a citação às bases teóricas e estudos que sustentam a análise clínica.
Escrever documentos psicológicos pode ser um processo muito desafiador, e não deve ser tratado com leviandade. Encontrar o equilíbrio entre a clareza na escrita e a ética da confidencialidade, por exemplo, exige muita prática. Por isso, não tenha medo de pedir ajuda. Diversos profissionais mais experientes oferecem serviços de supervisão que podem auxiliar você a conduzir essa tarefa de forma mais assertiva e leve.
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Como citar este artigo: Mendes, J., Castro, T., Amorim, L. S., Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (Jan., 2025).
Laudo psicológico: o que é e como fazer?.
Blog do Secad.
Juliana Mendes
- @psicojulianamendes
Psicóloga - Neuropsicóloga- Psicopedagoga - Mestre em Psicologia pela UFMG - Membro colaboradora do Laboratório de Avaliação e Intervenção na Saúde (LAVIS/UFMG) - Especialista em Neurociências /UFMG e Atendimento Sistêmico /PUCMG - Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e Reabilitação Cognitiva. Membro da diretoria da AESBE gestão 2023-2026Diretora Clínica do Espaço Integrar: Família e Escola.
Tatiane Castro
- @taticastropsi
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental na Infância pela Artmed, AESBE e PUC Paraná. Pós-Graduanda em Personalidade: teoria, avaliação e intervenção.
Psicólogo e Mestrando em Psicologia: Cognição e Comportamento, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-graduando em Altas Habilidades/Superdotação. Membro do Comitê Jovem da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (Gestão 2024/25). Membro do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento, onde atua em diferentes projetos de pesquisa e extensão
Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo
Psicóloga e Mestra em Psicologia (área de concentração Cognição Humana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutoranda em Psicologia em Saúde e Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), com bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e com Formação em Terapia do Esquema. Pesquisadora e Supervisora no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (LaPICC) da Universidade de São Paulo (USP). Associada à Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC).