Pensamentos disfuncionais: o que são, como funcionam e registro

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) está se tornando cada vez mais popular. Além do reconhecimento acadêmico e profissional de sua eficácia em diversos quadros psiquiátricos, ela também está ganhando destaque na divulgação científica para o público em geral.

Segundo Beck (2022), um dos princípios fundamentais da TCC é identificar e trabalhar os pensamentos disfuncionais ao longo das sessões, visando à sua

sempre que possível.

Neste artigo, falaremos mais sobre os pensamentos disfuncionais, explicando o que são, como funcionam e como realizar o seu registro. Confira!

Todas as pessoas têm centenas, até milhares de pensamentos por dia sobre diversos assuntos, por vezes ocorrendo ao mesmo tempo. A grande maioria desses pensamentos ocorrem em um fluxo de pensamentos que ocorrem de maneira automática e, muitas vezes, não há uma tomada de consciência sobre eles. A esses pensamentos, damos o nome de

  

Parte desses pensamentos estão ancorados às situações cotidianas, tais como “preciso comprar café” e “estou com fome”. Por outro lado, temos pensamentos que, estão baseados em avaliações automáticas sobre nós mesmos, sobre nossas escolhas, futuro, sobre os outros, às vezes baseados em emoções e ou experiências anteriores que a pessoa já tenha vivido ou escutado. Alguns desses pensamentos podem ser úteis e nos gerar emoções agradáveis e boas sensações, nos motivando para a ação. Em contrapartida, por vezes, a nossa cabeça é bombardeada por pensamentos dessagráveis e incômodos. Essa classe de pensamentos é chamada de

.  

Beck (2022) aponta que os pensamentos disfuncionais são aqueles pensamentos que:  

Em linha gerais, pensamentos disfuncionais vão proporcionar uma

, geralmente associado à uma sensação desagradável que nos leva na direção oposta dos objetivos.  

Podemos tomar como exemplo um estudante que precisa terminar um trabalho para a faculdade mais tarde naquele dia e acorda em uma manhã chuvosa e pensa “

” ou ainda um rapaz que, durante o trabalho recebe uma mensagem do seu chefe dizendo que eles precisam marcar uma reunião e pensa “

”.  

Os pensamentos automáticos não são exclusivos de pessoas que apresentam sofrimento psicológico. Eles podem ocorrer – e ocorrem – com todas as pessoas em todas as classes sociais e faixas etárias, estando ligada à um processo maior, fundamental da TCC denominado modelo cognitivo. 

O modelo cognitivo pressupõe que todos os seres humanos possuem um fluxo de funcionamento cognitivo que interliga as situações que vivemos com os pensamentos e padrões emocionais, influenciando nosso comportamento. Assim como podemos ter comportamentos ou emoções que podem influenciar na forma de pensarmos e agirmos diante das situações. (Whight, et al, 2012; Leahy, 2022). O modelo cognitivo ainda pressupõe que

, não orientados às metas.   

De acordo com a lógica de tratamento da TCC clássica,

. Essa identificação e, consequentemente, a modificação/aceitação destas habilidades nos proporciona um melhor funcionamento adaptativo e entendimento de nossas fraquezas e habilidades.  

O processo de identificação de pensamentos disfuncionais pode ocorrer de diversas formas: através de questionários, ao longo de uma conversa, dentre outras opções. Um ouvido – e uma mente atenta – é capaz de identificar um pensamento disfuncional com frequência quando este aparece.  

Porém, esse não é um processo fácil, principalmente no começo, quando estamos começando a desenvolver esta habilidade. A identificação de pensamentos disfuncionais vai nos exigir diversas habilidades cognitivas como atenção, metacognição (ou seja, pensar sobre o nosso próprio pensamento) e, sobretudo, capacidade de julgamento sobre estes estados mentais.  

A maneira mais simples para a identificação e registro desses pensamentos é através de formulários, tais como o Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD). 

O formulário descrito na Tabela 1 contém perguntas que nos guiam no processo de metacognição, pensando, de maneira estruturada sobre as situações que nos eliciam pensamentos funcionais e disfuncionais e as possíveis consequências emocionais e comportamentais desses pensamentos.  

A ideia central dessa estratégia é: quanto mais pegarmos a prática de registrar pensamentos, mais automatizado fica esse processo.

Pense no exemplo em que toda vez que uma pessoa te manda uma mensagem dizendo “preciso conversar com você”, você passa a ter pensamentos distorcidos e disfuncionais sobre si mesmo e o seu comportamento.  

Pode-se identificar também os pensamentos que podem acontecer em determinados contextos, tais como padrões de pensamentos disfuncionais sobre si mesmo durante o trabalho, pensamentos disfuncionais sobre o seu relacionamento quando sua parceria não está presente, levando a insegurança e ciúmes.  

O processo de identificação de pensamentos disfuncionais é uma das estratégias centrais para o trabalho na TCC. É através dessa identificação e registro que identificamos regras, pressupostos e crenças sobre nós mesmos, os outros e o mundo. Além disso, nos proporciona autoconhecimento além de capacidade de julgamento crítico sobre nossos pensamentos que, muitas vezes, não está relacionado com a realidade.  

Francisco, G. C. P., Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (2024, 01 abril).

Blog da Artmed.

Psicólogo e neuropsicólogo. É mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutorando em Ciências do desenvolvimento humano pela universidade Mackenzie. Também é especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC) e tutor Cogmed (Pearson Clinical Brasil) 

Psicóloga e Mestra em Psicologia – área de concentração Cognição Humana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais com Formação em Terapia do Esquema. Professora em cursos de Pós-Graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental, Terapia Cognitivo-Comportamental na Infância e Adolescência e Terapia do Esquema. Supervisora Clínica. Pesquisadora Colaboradora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP). 

 Psicóloga. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas - ALAPCO (2019-2022). Presidente da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023).