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Teoria do Apego: a influência dos primeiros vínculos no desenvolvimento humano

Desde os primeiros momentos da vida, os seres humanos são impulsionados por uma força poderosa e fundamental:
a necessidade de conexão emocional
. Essa busca pela proximidade, segurança e cuidado é central para a Teoria do Apego (TA), que considera o apego como uma necessidade básica, assim como outras necessidades humanas (como alimentação e sexualidade), contando com comportamentos biologicamente programados para sua satisfação.

Desta forma, segundo esta teoria, desde os primeiros momentos de vida, os bebês apresentam um conjunto de comportamentos e uma tendência natural a buscar proximidade com seus cuidadores primários. A qualidade das interações iniciais com as figuras de apego desempenha um papel fundamental, moldando não apenas o desenvolvimento emocional e social da criança, mas também influenciando profundamente em seus padrões de relacionamento ao longo da vida adulta (Bowlby, 1989).

Neste artigo, falemos mais sobre a Teoria do Apego, passando pelos principais conceitos relacionados ao tema e apresentando os estilos de apego. Confira!

O que é a Teoria do Apego e como surgiu?

A Teoria do Apego foi postulada pelo psicanalista e psiquiatra infantil
John Bowlby
(1907-1990) e foi desenvolvida e ampliada com a contribuição de grandes nomes como
Mary Ainsworth
(1913- 1999) e outros pesquisadores. A partir de uma abordagem etológica e da condução de vários experimentos científicos, esses pesquisadores se propuseram a examinar a natureza do vínculo entre a criança e sua mãe e os efeitos do cuidado materno sobre crianças em seus primeiros anos de vida.  

Através da análise desses estudos, Bowlby (1973, 1984) constatou que existe um comportamento comum tanto em bebês humanos como em outros bebês mamíferos: o de
tentar a todo custo evitar ser afastado de seus cuidadores, uma vez que a proximidade com a figura de apego está diretamente relacionada à sua proteção e sobrevivência
.

Este tipo de comportamento foi chamado de
comportamento de apego
e seria então ativado em situações nas quais existem experiências de dor, fadiga, quando algum perigo é percebido ou até mesmo em situações nas quais a mãe parece estar inacessível. Posteriormente, foi introduzido o conceito de base-segura, na qual o apego não se caracterizaria apenas pela busca de proximidade com o cuidador, mas também pelas condições que a base segura, proporcionada pela figura de apego, oferece à criança para que a mesma se sinta confiante na exploração do ambiente (Ainsworth et al., 1978). 

A dinâmica da construção do apego é influenciada por diversos fatores:
individuais, relacionais e contextuais
(Bronfenbrenner, 1996). As relações estabelecidas entre esses fatores servirão de base para a organização de modelos de funcionamento psicológico e de regulação emocional. Esses modelos serão internalizados e posteriormente generalizados em situações futuras similares
(Bolby, 1969, 1990; Ainsworth et al., 1978).
Existe uma tendência do indivíduo a buscar na vida adulta relacionamentos que funcionem nos mesmos moldes que o vínculo inicial formado com suas figuras de apego na infância
. Isso reforça seus modelos de funcionamento internalizados (Sperling & Berman, 1994).

Os estilos de apego

Ainsworth (1978) mapeou diferentes comportamentos tanto das mães como de seus bebês, a partir de um experimento que ficou conhecido como
“Situação Estranha”
. Esse experimento consistia em uma série de episódios, nas quais crianças eram momentaneamente separadas de seus cuidadores e, eventualmente, expostas a presença de pessoas desconhecidas.

A partir da análise dos resultados deste estudo foi possível identificar diferentes estilos de apego, que se referem a padrões consistentes de comportamento que uma pessoa pode assumir em seus relacionamentos interpessoais. Os principais estilos de apego são:
seguro, ambivalente ou resistente e evitativo
. Posteriormente, foi postulado o quarto tipo de apego, denominado
desorganizado
(Main & Hesse, 1990). 

Apego seguro

Indivíduos com um estilo de apego tendem a se sentir confortáveis com a intimidade, mostram-se confiantes em situações de estresse, são capazes de confiar e agir de modo cooperativo nas interações com os demais.

No experimento proposto por Ainsworth (1978), as crianças com esse tipo de apego se mostraram capazes de explorar o ambiente na presença da mãe e, apesar de terem se mostrado contrariadas com sua ausência, recebiam calorosamente a mãe quando essa retornava ao ambiente. Também foi observado o comportamento de busca pelo contato físico com a mãe para aliviar os sentimentos de angústia.

Waters e Cummings (2000) ressaltam que as crianças com esse tipo de apego foram as que recebiam de seus cuidadores instruções seguras, eram monitoradas, mas ainda assim encorajadas à exploração e à independência. 

Apego resistente ou ambivalente

Aqueles com um estilo resistente ou ambivalente podem ser excessivamente preocupados com o abandono, apresentando tendência a comportamentos ansiosos, buscando constantemente garantias de amor e de aprovação.

No experimento de situação estranha (Ainsworth, 1978), foi observado que crianças com esse tipo de apego apresentavam um padrão mais imaturo para sua idade, exploravam pouco o ambiente na presença da mãe e mostravam-se extremamente angustiadas com sua ausência. Quando a mãe retornava, a criança comportava-se de forma ambivalente: ficando perto da mãe, mas resistindo às tentativas de contato da mesma.

Segundo Ainsworth (1978), neste tipo de apego o padrão de interação observado entre cuidador e criança sugere que possivelmente as crianças eram atendidas de forma inconsistente, ou seja, hora eram atendidas de modo satisfatório e hora não obtinham respostas de apoio dos cuidadores, percebendo instabilidade no vínculo. 

Apego Evitativo

Os indivíduos com um estilo evitativo podem, ao longo da vida, enfrentar dificuldades em confiar nos outros e podem evitar a proximidade emocional. São pessoas que possivelmente podem ser menos propensas a procurar cuidado e ajuda quando vivenciam situações difíceis.

No experimento situação estranha (Ainsworth, 1978), crianças com esse tipo de apego brincavam de forma tranquila e interagiam pouco com seus cuidadores, demonstravam pouca aflição quando separadas da mãe e não se mostravam inibidas com pessoas desconhecidas, mostrando até mesmo comportamentos de ignorar a mãe quando essa tentava receber sua atenção. 

Apego desorganizado

É o tipo de apego observado em crianças que vivenciaram experiências negativas e inadequadas na interação com seus cuidadores.

Main e Hesse (1990) verificaram que essas crianças apresentavam comportamentos confusos e contraditórios ao lidarem com situações de separação com a figura de apego no experimento de situação estranha (Ainsworth, 1978). Na presença dos cuidadores, as crianças exibiam um comportamento constante de impulsividade, mostravam feição de bravura e confusão ou até mesmo de transe ou perturbações. As crianças apresentavam uma combinação dos padrões evitativo e ambivalente e mostravam-se confusas sobre se devem se aproximar ou evitar a figura de apego.

Segundo Cortina e Marrone (2003), esse tipo de apego resulta de interações, em que a criança vivencia situações de abuso, sendo associado a fatores de risco, trauma e aos maus-tratos infantis, que podem futuramente desencadear o desenvolvimento de psicopatologias como transtornos de personalidade, transtorno bipolar e outros. 

Conclusão

A necessidade de figuras de apego que proporcionem uma base segura e conexão é uma necessidade emocional básica do ser humano e se faz presente ao longo de todas as etapas de sua vida (Bowlby, 1989).

A Teoria do Apego identificou conceitos que ajudam a compreender como os vínculos emocionais se formam e evoluem ao longo do tempo, tornando-se uma teoria de fundamental importância para a psicologia.
Essa teoria é considerada até hoje uma das maiores referências para os estudiosos das relações humanas por mostrar o quanto a qualidade do vínculo afetivo entre o bebê e seus cuidadores tem um papel fundamental no desenvolvimento humano, influenciando na capacidade do indivíduo formar vínculos ao longo de toda sua vida.  

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Como citar este artigo:
Pucci, I. W., Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (2024, 01 abr).
Teoria do Apego: A Influência dos Primeiros Vínculos no Desenvolvimento Humano.
Blog da Artmed. 

Autoras

  • Isabella Wada e Pucci

Doutoranda e Mestre em Psicobiologia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto- FFCLRP-USP. Especialista em Neuropsicologia pela Universidade São Franscisco-USF. Formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia Cognitiva e pelo NYC Institute for Schema Therapy. Especializanda em Terapia Cognitivo Comportamental pela PUC-PR. Formação em supervisão de terapeutas Cognitivo Comportamentais (TCC) na modalidade individual e em grupal pelo LaPICC-USP (2022). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Barão de Mauá- RP- SP e intercâmbio acadêmico na Universidade do Porto-PT. Atualmente é pesquisadora e integrante do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP) e do Laboratório de Neusopsicofarmacologia das doenças Neurodegenerativas (LNDN-USP). Também atua com Psicologia Clínica em Avaliação Neuropsicológica e Psicoterapia na abordagem da Terapia do Esquema, na cidade de Ribeirão Preto, SP.

  • Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo

Psicóloga e Mestra em Psicologia – área de concentração Cognição Humana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais com Formação em Terapia do Esquema. Professora em cursos de Pós-Graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental, Terapia Cognitivo-Comportamental na Infância e Adolescência e Terapia do Esquema. Supervisora Clínica. Pesquisadora Colaboradora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP).

SOBRE A EDITORA-CHEFE

Carmem Beatriz Neufeld:
 Psicóloga. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas - ALAPCO (2019-2022). Presidente da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023).