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Terapia Comportamental Dialética (DBT): o que é, objetivos e aplicação

O que é a DBT?

A sigla DBT vem do inglês (Dialectical Behavior Therapy). Ela se refere a Terapia Comportamental Dialética (DBT), uma terapia cognitivo-comportamental desenvolvida originalmente para indivíduos cronicamente suicidas, diagnosticados com transtorno da personalidade borderline (TPB) (Linehan, 2018).

No entanto, essa modalidade terapêutica tem sido ampliada para englobar outros transtornos caracterizados por desregulação emocional (Lins, Ferreira, Souza, Ludwig, & Klaus, 2020).

A DBT foi pioneira ao demonstrar sua eficácia através de ensaios clínicos controlados em pacientes com TPB (Linehan, Armstrong, Suarez, Allmon, & Heard, 1991). Ela envolve um tratamento abrangente que engloba psicoterapia individual, treinamento de habilidades em grupo, coaching por telefone e uma equipe de consultoria para os terapeutas.

Além disso, a DBT é direcionada não apenas para o indivíduo que está recebendo o tratamento, mas também para seus familiares e outros indivíduos envolvidos em seu convívio social (Linehan, 2018; Lins et al., 2020).

Evidências científicas da DBT

Uma meta-análise recente conduzida por Setkowski et al. (2023), que abrangeu 43 estudos com uma amostra total de 3.273 participantes, verificou a eficácia de diferentes abordagens terapêuticas no tratamento do Transtorno da Personalidade Borderline (TPB).

Os resultados apontaram que abordagens como a DBT e a Terapia do Esquema (TE) demonstraram uma eficácia significativamente maior, quando comparadas ao Tratamento Usual (TAU) e aos Grupos Controle. Essas diferenças permaneceram estatisticamente significativas mesmo após a realização de análises de sensibilidade, que consideraram apenas intervenções completas de DBT e terapias que utilizaram formatos combinados, como terapia individual mais terapia em grupo.

Esses achados corroboram revisões anteriores da literatura, que também apontaram a DBT como uma intervenção eficaz para o TPB em comparação com o TAU (Cristea et al., 2017; Stoffers-Winterling, 2022; Storebo et al., 2020).

Vale ressaltar que os efeitos observados nos ensaios clínicos relacionados à DBT e outras abordagens terapêuticas no tratamento do TPB são de magnitude reduzida. Os resultados a longo prazo (follow-up) têm demonstrado certa instabilidade. Essa constatação reforça a necessidade de mais pesquisas que abordem as limitações existentes e forneçam evidências mais sólidas e abrangentes sobre a eficácia dessas intervenções terapêuticas (Cristea et al., 2017).

Estudos recentes de meta-análise e revisão sistemática têm destacado a Terapia Comportamental Dialética (DBT) como uma abordagem eficaz em diversas condições clínicas. Além de apresentar resultados relevantes no tratamento do transtorno de personalidade borderline, a DBT tem sido indicada como uma intervenção eficaz para o manejo do risco de suicídio, autolesão, transtornos de humor, transtornos alimentares e uso de substâncias.

A DBT demonstra eficácia na diminuição da violência autodirigida e na redução da frequência de utilização de serviços de crise psiquiátrica (DeCou, Comtois, & Landes, 2019). A DBT pode também ser um tratamento eficaz para melhorar os sintomas de humor em pessoas com transtorno de humor bipolar (Jones et al., 2023).

A DBT demonstrou ainda eficácia na desregulação emocional da compulsão alimentar na bulimia nervosa (Rozakou-Soumalia, 2021) e nos transtornos relacionados ao uso de substâncias (Haktanir, A., & Callender, 2020).

A dialética da DBT

A base teórica da DBT, incluindo o treinamento de habilidades, é fundamentada em uma teoria biossocial e dialética da psicopatologia. Essa abordagem enfatiza a importância das dificuldades na regulação emocional, tanto a falta de controle quanto o excesso de controle, e seu impacto no comportamento (Linehan, 2018).

A desregulação emocional tem sido associada a uma ampla gama de problemas de saúde mental, incluindo transtornos aditivos, transtornos de humor e transtornos de ansiedade, uma vez que esses comportamentos disfuncionais são frequentemente empregados como estratégias para lidar com o sofrimento emocional. A desregulação emocional manifesta-se por meio de padrões de instabilidade emocional, dificuldade no controle dos impulsos, problemas nos relacionamentos interpessoais e uma autoimagem instável (Linehan, 2018; Lins et al., 2020).

O termo "dialética" presente na Terapia Comportamental Dialética reflete-se tanto em seu nome quanto em sua abordagem terapêutica, que busca encontrar um equilíbrio entre extremos. A busca pelo "caminho do meio" está presente em todas as modalidades de tratamento, especialmente no que diz respeito à aceitação e mudança (Linehan, 2018; Lins et al., 2020). 

Nesse contexto, a dialética na DBT possui dois significados principais: (a) a compreensão de que a realidade é complexa e multifacetada e (b) o uso de diálogo e relacionamentos persuasivos como estratégias terapêuticas. No que tange aos diálogos e relacionamentos, a dialética refere-se às abordagens e estratégias utilizadas pelos terapeutas para promover a mudança (Linehan, 2018).

A DBT utiliza intervenções que abordam tanto as questões de mudança, necessárias para modificar comportamentos disfuncionais, quanto as questões de aceitação, necessárias para lidar com aquilo que não pode ser alterado. Essa abordagem dialética é fundamental para que os pacientes se sintam compreendidos e reconhecidos em relação às suas dificuldades (Albarrán, Alva, Correa, De la Cruz, & Ramírez, 2021; Lins et al., 2020).

No contexto apresentado, a aceitação refere-se à habilidade de reconhecer aquilo que não pode ser mudado, como a vulnerabilidade biológica ligada à desregulação emocional. Diante disso, a resposta adequada é pautada na validação, abrangendo tanto as emoções quanto as perspectivas e desafios do paciente e de seus familiares. Paradoxalmente, ao mesmo tempo, a aceitação pode gerar um potencial para a mudança. Afinal, abre-se espaço para as estratégias de mudança, à medida que a tensão diminui no ambiente, por meio da validação (Abreu & Abreu, 2016; Lins et al., 2020; Linehan, 2018).

Essa mudança de foco das estratégias de mudança para as de aceitação foi um aspecto crucial no desenvolvimento da DBT.  Permitiu aos terapeutas aceitar os pacientes como eles são e evitar o esgotamento emocional decorrente de tentativas incessantes de mudá-los (Vásquez-Dextre, 2016).

Como aplicar a DBT?

Em termos de aplicação da DBT, essa abordagem incorpora elementos cognitivo-comportamentais, técnicas de validação e também utiliza o mindfulness, uma técnica psicológica com raízes no Zen Budismo. Esses diferentes elementos são entrelaçados por meio de uma filosofia dialética (Vásquez-Dextre, 2016).

A DBT consiste em três modalidades principais de tratamento (Linehan, 2018; Linehan & Wilks, 2015; Vásquez-Dextre, 2016):

  • Psicoterapia individual:
     nesta modalidade, o paciente é acompanhado semanalmente pelo terapeuta.  O foco está na ampliação e na aplicação prática das habilidades desenvolvidas durante o treinamento, que pode ter sido realizado de forma individual ou em grupo.
  • Coaching telefônico:
    envolve o contato do paciente com o terapeuta por meio de telefonemas durante situações de crise ou de dificuldade em tolerar o mal-estar emocional. O objetivo é gerar motivação para abandonar comportamentos incompatíveis com uma vida saudável ou para reforçar o tratamento em curso.
  • Treino de habilidades:
    pode ser realizada individualmente ou em grupo e visa o aprendizado de habilidades intrapessoais e interpessoais, para ampliar o repertório comportamental adaptativo.

Como complemento ao tratamento, a DBT pode incluir terapia medicamentosa, com supervisão de um psiquiatra para mitigar os sintomas. Além disso, grupos destinados a pais e familiares são oferecidos, visando proporcionar psicoeducação sobre desregulação emocional e treinamento de habilidades para lidar com crises e comportamentos de risco, com o objetivo de estruturar o ambiente e fortalecer os processos de aceitação e mudança, além de promover o suporte mútuo.

Objetivos da DBT

São objetivos da DBT, de acordo com Marsha Linehan (em ordem de prioridade):

Reduzir comportamentos de risco de vida:

  • Diminuir tentativas de suicídio.
  • Aliviar pensamentos suicidas.
  • Reduzir a autolesão.

Diminuir comportamentos que atrapalham o tratamento:

  • Evitar faltar às sessões de terapia.
  • Chegar pontualmente às sessões.
  • Participar das sessões sem o uso de substâncias.
  • Evitar se afastar de pessoas de apoio.
  • Cumprir as tarefas terapêuticas.
  • Evitar a hospitalização como única estratégia para lidar com crises.

Abordar comportamentos que prejudicam a qualidade de vida:

  • Lidar com o uso de substâncias.
  • Tratar transtornos alimentares.
  • Gerenciar a ausência no trabalho ou na escola.
  • Superar a negligência em relação à saúde.
  • Buscar apoio na rede social.

Aprimorar estratégias de regulação emocional:

  • Desenvolver habilidades de consciência emocional.
  • Cultivar relacionamentos interpessoais saudáveis.
  • Gerenciar as emoções de forma eficaz.
  • Desenvolver a capacidade de lidar com o desconforto emocional.

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Considerações finais

A DBT foi desenvolvida por Marsha Linehan e se baseia na premissa de que a hiperreatividade emocional e o uso de estratégias de regulação de emoções disfuncionais são fundamentais para o TPB. 

A DBT faz uso de intervenções cognitivas, comportamentais e de resolução de problemas para ajudar os pacientes a usar estratégias de regulação emocional mais funcionais.

A terapia utiliza uma postura dialética, que equilibra a necessidade de mudança com a necessidade de aceitação. Isso significa que os terapeutas da DBT buscam incentivar os pacientes a promover mudanças positivas em suas vidas, ao mesmo tempo em que aceitam e validam suas experiências emocionais presentes.

Essa abordagem visa reduzir o conflito interno e facilitar um senso de equilíbrio emocional. A DBT também se concentra em aumentar a motivação e o envolvimento dos pacientes no tratamento para evitar a desistência. O tratamento inclui treinamento de habilidades em grupo, terapia individual e contato telefônico (se necessário).

Como citar este artigo: Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (2023, 04 jul). Terapia Comportamental Dialética (DBT). Blog do Secad.

Editoria de Psicologia

Editora-chefe:
 Carmem Beatriz Neufeld.Psicóloga. Livre docente em TCC pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP. Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora e Mestra em Psicologia pela PUCRS. Fundadora e Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental – LaPICC-USP. Professora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente-fundadora da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências - AESBE (2020-2023). Bolsista Produtividade do CNPq.

Referências

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Abreu, P. R., & Abreu, J. H. D. S. S. (2016). Terapia comportamental dialética: um protocolo comportamental ou cognitivo?. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 18(1), 45-58.c

Cristea, I. A., Gentili, C., Cotet, C. D., Palomba, D., Barbui, C., & Cuijpers, P. (2017). Efficacy of psychotherapies for borderline personality disorder: A systematic review and meta-analysis. JAMA Psychiatry, 74(4), 319–328. doi:10.1001/jamapsychiatry.2016.4287

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