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Transfusão sanguínea: protocolos, procedimentos e cuidados pela enfermagem

As transfusões sanguíneas são amplamente reconhecidas como uma estratégia crucial em diversos tratamentos clínicos, consistindo na administração intravenosa de componentes sanguíneos. Embora essenciais, essas terapias envolvem riscos, o que torna fundamental que sejam realizadas em ambientes controlados, sob a supervisão de profissionais capacitados. Esses profissionais garantem a segurança do procedimento, a monitorização contínua e a rápida intervenção em caso de reações transfusionais ou outras intercorrências.

O processo inicia-se com a solicitação médica de hemocomponentes, passando pela seleção de doadores, realização de testes sorológicos, fracionamento e armazenamento adequado, até o transporte seguro dos componentes. Envolve também a avaliação das indicações, conferências rigorosas e a assistência pré e pós-transfusional ao paciente. É essencial que o paciente esteja ciente dos riscos inerentes ao procedimento de transfusão sanguínea, garantindo uma tomada de decisão informada e consciente.

A transfusão de sangue deve ser apropriada às necessidades de saúde do paciente, sendo proporcionada a tempo e administrada corretamente. Mesmo realizada dentro das normas preconizadas, indicada e administrada corretamente, a transfusão de sangue envolve risco sanitário. Esse risco diz respeito às reações transfusionais durante ou após a transfusão sanguínea.

Dentre as complicações, incluem-se aquelas relacionadas à contaminação bacteriana, reações hemolíticas agudas ocasionadas por incompatibilidade do sistema ABO, reações anafiláticas, sobrecarga volêmica, entre outras. As referidas complicações podem ser não imunes e estar associadas à falha humana; ou imunes, ligadas aos mecanismos de resposta do organismo à transfusão de sangue.

É papel da equipe de enfermagem garantir a segurança transfusiona
l, reconhecendo os tipos de hemocomponentes, suas indicações e contraindicações, checar dados a fim de prevenir erros, orientar os clientes e seus acompanhantes sobre a hemotransfusão, detectar e atuar no atendimento às reações transfusionais e documentar todo o processo.

As instituições que realizam transfusão de sangue devem manter, nos prontuários dos pacientes submetidos a este procedimento, os registros relacionados à transfusão, como data, hora de início e término da transfusão de sangue, sinais vitais no início e no término, origem e identificação das bolsas dos hemocomponentes, identificação do profissional responsável e registro de reação transfusional.

Além disso, é imprescindível a verificação e o registro dos sinais vitais (temperatura, frequência respiratória, pressão arterial e pulso) do paciente, tanto imediatamente antes do início da transfusão quanto após o término. O acompanhamento contínuo nos primeiros dez minutos por um profissional de saúde qualificado, assim como o monitoramento ao longo de todo o procedimento, são fundamentais. Essas medidas permitem a detecção precoce de possíveis reações adversas e garantem a pronta notificação, contribuindo para a segurança e eficácia do processo transfusional.

O enfermeiro tem um papel fundamental na transfusão de hemocomponentes, uma vez que este profissional é responsável por executar e/ou supervisionar sua administração, identificando precocemente possíveis reações adversas e registrando informações relacionadas ao doador e ao receptor.

Cuidados na instalação do hemocomponente

  • Identificação do paciente
    : antes de iniciar a transfusão, realizar a identificação correta do paciente à beira do leito, conferindo seus dados com as informações do hemocomponente. Isso inclui verificar:
    • Nome completo do receptor
    • Número do registro hospitalar
    • Número do leito
    • Registro da tipagem ABO e RhD do receptor
    • Número de identificação da bolsa do hemocomponente e sua tipagem ABO e RhD
    • Nome do responsável pela realização dos testes pré-transfusionais e pela liberação do hemocomponente.
  • Informação ao paciente ou familiar
    : sempre que possível, informar o paciente (ou familiar, se o paciente estiver consciente) sobre a administração do hemocomponente e os possíveis riscos da transfusão. Orientar o paciente a relatar qualquer sintoma ou reação diferente durante o procedimento. Para pacientes inconscientes, a equipe de enfermagem deve manter observação constante.
  • Correção de discrepâncias
    : caso seja identificada qualquer discrepância nos dados de identificação, a transfusão deve ser imediatamente suspensa até que o problema seja esclarecido. Qualquer erro de identificação deve ser corrigido imediatamente.
  • Registro no prontuário
    : registrar no prontuário médico os números de identificação e a origem dos hemocomponentes transfundidos, bem como a data em que a transfusão foi realizada.
  • Monitoramento e registro de sinais vitais
    : verificar e registrar os sinais vitais do paciente (temperatura, frequência respiratória, pressão arterial e pulso) em três momentos-chave:
  • Imediatamente antes do início da transfusão;
  • Nos primeiros 10 minutos após o início;
  • Após o término da transfusão.
  • Instalação do hemocomponente
    : utilizar luvas de procedimento para a instalação da bolsa de hemocomponente. Preferencialmente, a transfusão deve ser realizada por meio de um acesso venoso exclusivo. Durante o manuseio de cateteres centrais ou periféricos, utilizar máscara e óculos de proteção.

Determinação da velocidade de infusão

A velocidade de infusão deve ser ajustada de acordo com o estado clínico do paciente:

  • pacientes com reposição volêmica urgente
    : para casos de grandes hemorragias ou politraumatizados, a transfusão deve ser rápida, com gotejamento livre, visando repor o volume de forma imediata.
  • pacientes cardiopatas, nefropatas, idosos e crianças
    : nesses casos, a transfusão deve ser feita lentamente, respeitando as condições hemodinâmicas do paciente para evitar sobrecarga circulatória.

É importante observar que as reações transfusionais mais graves tendem a ocorrer no início do procedimento. A observação atenta nos primeiros minutos possibilita uma intervenção imediata em caso de reações adversas.

Se, após 10 minutos de infusão, não houver alterações nos sinais vitais, a velocidade de gotejamento pode ser aumentada, levando em consideração o volume e o tempo de administração, bem como o estado geral do paciente.

  • Cuidados com equipamentos
    : a infusão de hemocomponentes deve ser realizada sem o uso de bomba de infusão ou pressurizador.
  • Registros no Prontuário
    : todos os detalhes do procedimento devem ser devidamente registrados, incluindo:
    • Horário de início e término da transfusão
    • Volume e tipo de produto infundido
    • Número de identificação do hemocomponente
    • Sinais vitais pré e pós-transfusionais
    • Nome do profissional responsável pela instalação e acompanhamento do procedimento.

Cuidados ao término da infusão

  • Comunicação de incidentes
    : qualquer incidente transfusional ou intercorrência durante a transfusão deve ser imediatamente comunicado à enfermeira e/ou ao médico responsável, assim como ao banco de sangue. Esses eventos devem ser detalhadamente descritos na anotação de enfermagem.
  • Registros ao final da transfusão
    : ao término de cada hemocomponente, é essencial registrar o horário de conclusão na prescrição médica, na anotação de enfermagem, e arquivar a etiqueta de identificação da bolsa transfundida no prontuário. Esse registro deve incluir: tipos e números dos hemocomponentes transfundidos, sinais vitais antes e após o procedimento, data da transfusão.
  • Controle hídrico e prescrição médica
    : debitar o volume transfundido no controle hídrico do paciente e checar a prescrição médica para assegurar que todas as orientações foram seguidas corretamente.
  • Monitoramento pós-transfusão
    : O paciente deve ser monitorado por, pelo menos, uma hora após o término da transfusão para garantir a detecção precoce de qualquer reação tardia ou complicação.

Condutas frente às reações transfusionais

A maioria das transfusões ocorre sem complicações, mas é fundamental reconhecer e tratar prontamente qualquer reação adversa. As complicações transfusionais devem ser detectadas, notificadas e avaliadas imediatamente.

Ações em caso de reação transfusional

  • Elevar o decúbito (posição de Fowler) e preparar material para oxigenoterapia em caso de dificuldade respiratória.
  • Observar a coloração e o volume urinário.
  • Aquecer o paciente em caso de hipotermia.
  • Administrar medicações conforme prescrição.
  • Realizar uma nova avaliação dos sinais vitais uma hora após o início da transfusão.

Reconhecimento dos sinais e sintomas de reações transfusionais agudas

  • Febre com ou sem calafrio (definida como aumento de 1°C na temperatura corpórea associada à transfusão).
  • Tremores com ou sem febre.
  • Dor no local da infusão, no peito, abdome ou flanco.
  • Alterações abruptas da pressão arterial (hipertensão ou hipotensão).
  • Choque acompanhado de febre e/ou calafrios intensos.
  • Alterações respiratórias, como dispneia, taquipneia ou hipóxia.
  • Urticária, prurido ou edema localizado.
  • Náusea com ou sem vômitos.
  • Alteração na cor da urina (hematuria).
  • Sangramentos ou outras manifestações de alteração da coagulação.

Registros no prontuário

Documentar no prontuário todos os detalhes da reação transfusional, incluindo:

  • Identificação da reação
  • Condutas adotadas
  • Volume transfundido
  • Tempo de infusão

Intervenção em complicações transfusionais imediatas

  • Interromper imediatamente a transfusão e comunicar o médico responsável.
  • Manter o acesso venoso com solução salina a 0,9%.
  • Verificar os rótulos das bolsas e os registros para garantir a identificação correta do paciente e das bolsas transfundidas, e a tipagem ABO e Rh.
  • Monitorar os sinais vitais e o estado cardiorrespiratório.
  • Comunicar ao médico assistente e/ou ao médico do serviço de hemoterapia.
  • Colaborar com a equipe de saúde no atendimento ao paciente.

Cada unidade de saúde pode seguir um Protocolo Institucional de Transfusão de Hemocomponentes com orientações específicas. É responsabilidade do enfermeiro conhecer o protocolo vigente e as práticas necessárias para garantir a segurança do paciente durante o processo transfusional.

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