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Transtorno de ansiedade generalizada (TAG): como identificar e tratar na prática clínica

A ansiedade é uma emoção comum a todos os seres humanos, e possui a função de alertar para um possível perigo, como um sistema de alarme no corpo essencial para a sobrevivência humana (Hofmann, 2022).

A resposta de ansiedade envolve componentes cognitivos, fisiológicos e comportamentais. O componente cognitivo envolve a chamada preocupação, que avalia situações e eventos de forma a prever riscos antecipados; o componente fisiológico prepara o corpo caso seja necessária alguma ação, e o componente comportamental ajuda a antecipar e evitar um perigo futuro (Stallard, 2010). 

No entanto, a ansiedade pode se tornar problemática se ela interfere no funcionamento diário ou causa mais estresse do que a situação justifica (Hofmann, 2022). Dessa forma, ela pode se manifestar como transtornos de ansiedade, incluindo o chamado Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).

A prevalência global estimada de TAG é de cerca de 5% da população, e seu impacto é considerado desproporcionalmente maior em mulheres do que em homens (Cavalcante et al., 2024).  

O que é o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
 

O TAG é caracterizado por ansiedade e preocupações excessivas e persistentes em diferentes domínios da vida, que o indivíduo acha difícil controlar. Conjuntamente, surgem sintomas físicos como tensão muscular, inquietação ou sensação de nervosismo, fadiga, dificuldade de concentração ou “ter brancos”, irritabilidade e distúrbios do sono (Freitas et al., 2024). 

É possível notar a presença de quatro elementos principais em pessoas com TAG: (a) crenças positivas sobre preocupação, (b) evitação cognitiva (estratégias para evitar pensamentos e emoções indesejados), (c) intolerância à incerteza e (d) orientação negativa para o problema (dúvidas sobre a capacidade de enfrentamento dos problemas que possam aparecer) (Freitas et al., 2024). A intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação sentida acaba por ser desproporcional à probabilidade real ou ao impacto do evento temido (American Psychological Association [APA], 2023). 

Adultos com TAG em geral se preocupam com elementos de sua rotina de vida, como responsabilidades no trabalho, saúde e finanças, saúde dos membros da família, problemas com seus filhos ou questões menores (como realizar as tarefas domésticas ou se atrasar para compromissos). Crianças com o transtorno se preocupam, em geral, com sua competência e seu desempenho. Em qualquer um dos casos, o foco da preocupação pode mudar de uma preocupação para outra (APA, 2023). 

Os transtornos de ansiedade surgem, em geral, a partir de uma interação de fatores psicossociais e ambientais, bem como podem estar associados a uma vulnerabilidade genética, disfunções neuropsicológicas e neurobiológicas. Alguns fatores relacionados são: estresse, adversidade infantil, traumas, história familiar positiva para doenças psiquiátricas em parentes de 1º grau, existência de comorbidades, abuso infantil, entre outros (Lopes et al., 2021).  

Critérios Diagnósticos para o TAG segundo o DSM
 

O DSM-5-TR (APA, 2023) elenca 6 critérios que precisam ser atendidos para que haja um diagnóstico de TAG: 

A -
Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional).
 

B -
O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
 

C -
A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses). Apenas um dos itens é necessário para crianças.
 

  • Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.
     
  • Fatigabilidade.
     
  • Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
     
  • Irritabilidade.
     
  • Tensão muscular.
     
  • Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto).
     

D -
A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
 

E -
A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo).
 

F -
A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental. 
  

Outras informações relevantes são que o TAG afeta mulheres e meninas adolescentes pelo menos duas vezes mais do que homens e meninos adolescentes, e que ele está relacionado a alta prevalência de comorbidades psiquiátricas, sendo as mais comuns a depressão, outros transtornos de ansiedade e abuso de substâncias.

Em geral, esse transtorno apresenta-se inicialmente em pacientes por volta dos 30 anos (APA, 2023; Pantano & Neto, 2024). Além disso, existem algumas condições que aumentam os riscos do desenvolvimento de TAG, sendo elas: estado civil solteiro, viúvo ou divorciado, isolamento social e falta de apoio de amigos ou familiares e trauma psicológico (Lopes et al., 2021).  

Tratamento para o Transtorno de Ansiedade Generalizada
 

Os dois principais tratamentos indicados para o TAG são as terapias e os medicamentos, sendo que normalmente a maioria dos pacientes se beneficiam da combinação de ambos (Lopes el al., 2021). Dentre as possibilidades de psicoterapias, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem psicoterapêutica com maiores evidências de eficácia para o TAG.

A terapia psicodinâmica também se mostrou eficaz, embora com evidências um pouco menos robustas (Pestrini et al., 2024), e as Terapias Cognitivo-Comportamentais de terceira onda mostraram-se promissoras para o tratamento do TAG, sendo exemplos a Terapia Comportamental Dialética, a Terapia Comportamental Baseada na Aceitação, a Terapia Cognitivo-Comportamental Baseada em
Mindfulness
e a Terapia Metacognitiva (Freitas et al., 2024). 

Na TCC, o principal objetivo do terapeuta envolve a conscientização dos pacientes de que existem pensamentos, expectativas, atitudes e crenças que contribuem significativamente para o surgimento dos sintomas de ansiedade. São abordados o surgimento e o funcionamento desses padrões de pensamento, e o que fazer para flexibilizá-los, a fim de reduzir os sintomas relacionados ao TAG (Lopes et al., 2021). A TCC se mostra benéfica não apenas em adultos, mas também em crianças e adolescentes (Pestrini et al., 2024).  

Uma recente revisão de literatura realizada por Freitas e colegas (2024) mostrou que as estratégias mais utilizadas para o tratamento do TAG pela TCC são psicoeducação, reestruturação cognitiva, exposição e treinamento de relaxamento, e os principais instrumentos utilizados para avaliação dos sintomas de TAG são a Entrevista Clínica Estruturada para DSM (SCID), a Escala de 7 itens para Transtorno de Ansiedade Generalizada (GAD-7) e o
Penn State Worry Questionnaire
(PSWQ). 

Cavalcante e pesquisadores (2024) destacam que a necessidade de personalização do tratamento é um fator crítico para garantir a eficácia da TCC, pois a gravidade dos sintomas e a capacidade do paciente de manter mudanças comportamentais influenciam significativamente os resultados. Além disso, eles comentam que inovações como a realidade virtual e a inteligência artificial oferecem novas perspectivas promissoras para complementar e potencializar o impacto da TCC. 

Com relação ao tratamento farmacológico, dentre os medicamentos de primeira linha para o tratamento do TAG estão as classes de inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS – venlafaxina, mirtazapina, duloxetina, pregabalina) e inibidores da recaptação da serotonina-norepinefrina. Antidepressivos atípicos também podem ser usados para o tratamento (Lopes et al., 2021; Pantano & Neto, 2024). Além disso, a prática de exercícios físicos tem demonstrado redução significativa dos sintomas de TAG (Pestrini et al., 2024).  

Conclusão

A ansiedade é uma emoção que tem um importante papel na sobrevivência humana. No entanto, ao tomar proporções exacerbadas, ela deixa de cumprir sua função, tornando-se uma fonte de sofrimento diário. Pessoas com TAG têm sua qualidade de vida afetada de forma significativa. A gravidade e a prevalência do TAG apontam para a necessidade de psicoeducação sobre esse transtorno e busca por intervenções terapêuticas eficazes. 

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem-se mostrado uma das abordagens com maiores evidências para o tratamento desse transtorno, permitindo que pacientes compreendam e reestruturem pensamentos disfuncionais que intensificam a ansiedade. Associada a opções farmacológicas, inovações tecnológicas, e a mudanças de estilo de vida, como a prática de exercícios físicos, a TCC oferece um tratamento que tem grande potencial de melhorar a vida de quem sofre com o TAG. 

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Como citar este artigo:
Risso, M. O., Lobo, B. O. M., & Neufeld, C. B. (Nov., 2024).
Transtorno de ansiedade generalizada (TAG): como identificar e tratar na prática clínica.
Blog do Secad. 

Autoras

  • Mariana de Oliveira Risso
     

Psicóloga e Mestranda pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduada na área de Terapia do Esquema pela Verbo Educacional. Pesquisadora no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP), onde também realizou treinamento de supervisoras e é supervisora observadora de estágios. Foi cofundadora e presidente da Liga de Terapias Cognitivo-Comportamentais (LiTCC) USP-RP e participou do projeto de extensão TCC para a Comunidade.  

  • Beatriz de Oliveira Meneguelo Lobo
     

Psicóloga e Mestra em Psicologia (área de concentração Cognição Humana) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutoranda em Psicologia em Saúde e Desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), com bolsa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e com Formação em Terapia do Esquema. Pesquisadora e Supervisora no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP da Universidade de São Paulo (USP).