Reconhecido internacionalmente por suas contribuições à psiquiatria infantil e ao estudo do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o psiquiatra
Luis Augusto Rohde
acaba de conquistar o
Ruane Prize for Outstanding Achievement in Child and Adolescent Psychiatric Research
, principal prêmio mundial em pesquisa sobre saúde mental de crianças e adolescentes, concedido pela
Brain & Behavior Research Foundation (BBRF)
.
É a primeira vez que um pesquisador da América Latina recebe a honraria, o que marca um avanço histórico para a ciência brasileira.
“Esse prêmio reconhece que é possível fazer ciência de alta qualidade, comparável àquela dos países desenvolvidos, na América Latina. É o reconhecimento da nossa capacidade de gerar impacto real no bem-estar e na saúde mental de crianças e adolescentes”
, afirma Rohde.
Com mais de
30 anos de carreira dedicados ao TDAH e à psiquiatria do desenvolvimento
, Rohde destaca que o segredo do progresso científico é a colaboração e a formação de novos talentos.
Ao longo das últimas décadas, seu trabalho envolveu
parcerias com grupos de excelência
, como o de genética molecular da UFRGS, o grupo de saúde longitudinal coordenado por
César Victora
, e o
Instituto de Psiquiatria do Desenvolvimento
da USP, em colaboração com
Eurípedes Miguel
— de onde surgiram pesquisas pioneiras sobre o TDAH de início tardio e a neurociência populacional.
Entre os resultados mais relevantes, Rohde cita descobertas genéticas que ajudam a prever a resposta ao tratamento com metilfenidato e evidências de que
as diferenças de prevalência do TDAH entre países
estão ligadas a fatores metodológicos, e não culturais. Outra contribuição foi a criação de uma
calculadora de risco clínico
, que auxilia médicos e famílias a prever a evolução do TDAH ao longo da vida.
Durante a cerimônia do
International Award Dinner
, realizada no
Lincoln Center
, em Nova York, o pesquisador apresentou também estudos recentes que influenciam diretamente
políticas públicas
, como o impacto do TDAH na segurança no trânsito e pesquisas sobre
acomodações acadêmicas
, como o tempo extra em provas do Enem e vestibulares.
Da pesquisa à prática: o curso de TDAH da Artmed
“Quase 95% das aulas e todas as webconferências são conduzidas por mim. É um diálogo direto com o aluno, sem intermediações. Traduzo ali o que aprendi em mais de três décadas de pesquisa e atendimento a mais de 3.000 pacientes com TDAH”,
explica.
O curso é voltado a
médicos, psicólogos, educadores, fonoaudiólogos e psicopedagogos
, e percorre desde os fundamentos teóricos — etiologia, neurobiologia, manifestações clínicas — até o manejo terapêutico e intervenções educacionais. Duas vezes por mês, os alunos participam de encontros interativos para discutir casos reais e aprofundar o aprendizado.
“Hoje, temos uma geração mais aberta a compreender o TDAH, mas ainda existe muito estigma e desinformação. Menos da metade dos vídeos sobre o tema nas redes sociais refletem informações corretas. Por isso, é essencial investir em formação de qualidade”,
reforça o professor.
Uma mensagem para os novos pesquisadores
Para quem está começando na ciência, Rohde deixa um conselho que ecoa sua própria trajetória:
“Busquem formação científica sólida, escolham temas que despertem curiosidade e prazer, e construam parcerias multidisciplinares desde cedo. É isso que transforma perguntas em descobertas que realmente mudam vidas.”